“Hinamatsuri”: Dia das Meninas no Japão

Fonte: Caçadores de Lendas / Japão

Assim como o Dia dos Namorados (Valentine’s Day e White Day) é comemorado separadamente, o Dia das Crianças também é celebrado em diferentes datas no Japão. Desse modo, a festividade alusiva ao Dia dos Meninos (“Kodomo no Hi”) é no dia 5 de maio e hoje, 3 de março, é o dia em que os holofotes estão direcionados exclusivamente às meninas.

Simmm! Hoje é o Dia das Meninas, conhecido por “Hinamatsuri” e também como “Momo no Sekku” (Festival de Flores de Pessegueiro), por coincidir com a primeira floração dessas árvores, indicando o término do inverno e o início da primavera, cujas belas e delicadas flores simbolizam um matrimônio feliz para as futuras donzelas. É uma das tradições mais bonitas do Japão, pois é o dia que as famílias que têm filhas pequenas, pedem às divindades por saúde e boa sorte, vestindo-as com kimono, para receberem suas amiguinhas para um lanche, para cantarem e se divertirem.

Fonte: Caçadores de Lendas / Japão

Neste festival, as famílias costumam decorar suas casas com bonecas típicas chamadas “hina ningyo” pois muitas creem que essas bonecas têm o poder de proteger as meninas de doenças, acidentes e espíritos malignos. Essa antiga crença de que os infortúnios podem ser transferidos para as bonecas começou no Período Heian (794 – 1185), onde o ritual consistia em colocar uma boneca feita de palha ou papel no corpo da menina, para que o “mau-olhado” passasse para a boneca sendo, então, colocada em um pequeno barco de palha e enviada às águas do rio. Através dessa prática, conhecida como “Hina Nagashi”, acreditava-se que todos os maus fluidos seriam levados pela correnteza. 

No entanto, durante o Período Edo (1603 – 1868), ao invés de cultuarem o “Hina Nagashi”, as famílias optaram por colocar as bonecas “Hina” em exposição por um curto período de tempo em suas próprias casas, fazendo oferendas e orando pelo crescimento saudável e pela felicidade das meninas. Com o passar dos tempos, as bonecas de palha foram substituídas por luxuosos bonecos de cerâmica, considerados atualmente como herança de família, cujas valiosas peças são cuidadosamente embaladas e guardadas para serem novamente expostas no próximo ano. 

De modo similar aos presépios que são montados na época do Natal, em meados de fevereiro, monta-se um “altar” forrado preferencialmente com um tecido de seda vermelha, onde um sofisticado conjunto de bonecos ficam expostos sobre uma plataforma de cinco a sete degraus (Hina-dan), que representam a antiga Corte Imperial japonesa. Além dos bonecos, pequenos utensílios e peças de mobiliário são dispostos nos andares inferiores do altar, assim como pequenas árvores “Ukon no Tachibana”, uma miniatura de laranjeira, que fica sempre à direita e a  “Sakon no Sakura”, árvore de cerejeira, que fica à esquerda sendo, muitas vezes, substituída por um pessegueiro, posto que seja a estação do desabrochar de suas flores, o que faz desta exibição uma verdadeira produção artística.

Fonte: Coisas do Japão

A disposição dos bonecos segue uma hierarquia que representa o Palácio Imperial, sendo expostas na seguinte ordem:

• O topo é reservado ao Imperador (O-Dairi-sama) e a Imperatriz (O-Hina-sama) ricamente trajados, sentado diante de um biombo dourado e iluminado por duas lanternas (bom-bori); 

• Na sequência figuram três damas da corte, representando a aristocracia;

• O terceiro nível  é composto por cinco músicos que representam os artistas e literatos;

• Em seguida, dois ministros que representam os funcionários do governo, religiosos e as oferendas;

• No quinto nível,  três samurais simbolizam a classe guerreira e os domínios feudais;

• No sexto nível são dispostos objetos usados na Corte, como miniaturas laqueadas de móveis, baús para quimonos, penteadeira, caixa de costura, utensílios para a cerimônia do chá, entre outros;

• Por fim, no sétimo nível encontram-se os objetos usados pelo povo em geral, tais como miniaturas laqueadas de carroça de boi, palanquim, caixas empilháveis, carroça de flores, etc.

Fonte: Yawataya Ningyo Center

No entanto, manter-se em dia com essas tradições está ficando cada vez mais difícil para muitas famílias japonesas. Devido à falta de tempo, altíssimo valor das delicadas peças (o conjunto completo de bonecos custa de 3 a 5 mil dólares) e também pela falta de espaço, muitas famílias vêm optando por modelos compactos com 5 ou 3 plataformas ou menores ainda, contendo apenas a Imperatriz e o Imperador. Porém, qualquer que seja a escolha, os bonecos devem ser guardados imediatamente após o festival, mais precisamente no dia 4 de março, pois existe a superstição de que manter os bonecos por mais tempo resultará em um casamento tardio para as filhas.

Fonte: Kodawari Times

Como em muitos outros feriados, no “Hinamatsuri” as famílias japonesas também apreciam pratos especialmente elaborados para essa ocasião. Um dos mais populares é o Chirashizushi, que é uma tradicional iguaria japonesa composta por arroz levemente ácido, com uma variedade de ingredientes, incluindo vegetais como raízes de lótus, omelete em tiras e frutos do mar que são espalhados por cima do arroz. 

Fonte: Kodawari Times

Outro prato muito apreciado é o “Hamaguri Ushio-jiru”, uma sopa que contém mariscos como ingrediente principal, cujas conchas simbolizam a união e a tranqüilidade de um casal, pois apenas duas conchas simétricas podem se encaixar perfeitamente. Dizem que, assim como os flocos de neve, não há dois mariscos iguais. 

Fonte: Japankuru

Cremoso e levemente adocicado, oAmazake é uma bebida quente japonesa muito popular durante o Hina Matsuri como uma opção não alcoólica ao “shirozake”, ​​um saquê branco doce, que é tradicionalmente servido neste dia.

Coisas do Japão

Para a sobremesa, não podem faltar doces com tema de primavera, como o “Sakura Mochi”, bolinho de arroz recheado com feijão doce e enrolado em uma folha de cerejeira.

Fonte: Nippon.com

Outra sobremesa que também compõe o cardápio desta festividade é o “Hishimochi”, que é um bolinho de arroz com três camadas coloridas, em formato de diamante. Antigamente (Período Edo), acreditava-se que este doce estava associado à fertilidade.

Fonte: Coisas do Japão

No lanche da tarde, as crianças aproveitam para “beliscar” o “Hina Arare” que são  biscoitinhos coloridos à base de arroz, revestidos com açúcar, mas não muito doces e com  textura crocante. 

Fonte: Caçadores de Lendas / Japão

Diante de tanta formosura e gostosura, é inegável que o Dia das Meninas no Japão é um evento marcado pela graça e beleza, tanto da homenageada, vestindo o tradicional kimono, como dos preciosos bonecos em seus riquíssimos trajes cerimoniais. E… como não poderia deixar de ser, tudo alinhado às delicadas flores, que representam os traços femininos de gentileza, serenidade e tranquilidade, indispensáveis neste dia. Apesar de estar tão distante da minha princesinha Lia, que acabou de completar 7 meses, escrevi este post dedicado à ela pois, mesmo não estando presente neste momento, chegará o dia em que farei uma linda festa para comemorarmos juntas o “Hinamatsuri”!!! 

Você já conhecia esse belíssimo festival? Que tal homenagear todas as meninas, ouvindo a antiga e popular canção alusiva à essa data? A canção é ‘Ureshii Hinamatsuri’ (Feliz Dia das Meninas) e, para acessá-la, é só clicar neste link, ok?

~ Bia ~

Valentine’s Day e White Day no Japão

Fonte: Arakaki Sensei

Não faz parte da cultura japonesa celebrar a Páscoa, de modo que muitos japoneses nem fazem ideia que nós, brasileiros, apreciamos os chocolates que enfeitam os tradicionais corredores de ovos de Páscoa nos mercados e as chocolaterias, no período alusivo à essa comemoração. 

Entretanto, no final de janeiro até meados de fevereiro, temos a sensação de que a Páscoa chegou mais cedo neste país, pois uma grande variedade de chocolates com diferentes sabores e designs, embelezam as gôndolas das lojas de departamentos e afins, onde podemos encontrar chocolates de tudo quanto é tipo, preço e formato, com exceção, é claro, dos ovos de Páscoa que por aqui só encontramos nas lojas de produtos brasileiros, no período em que esta data é comemorada no Brasil. 

Mas, vocês sabem o motivo de tantos chocolates serem vendidos nesta época do ano?    

Ledo engano se vocês acham que é por causa do Dia do Chocolate!!! Se no Brasil o Dia dos Namorados é comemorado no dia 12 de junho, no Japão, seguindo a tradição européia e americana, comemora-se o Dia dos Namorados (Valentine’s Day), no dia 14 de fevereiro. Porém, inusitadamente neste país, essa data é comemorada em dose dupla, sendo que em fevereiro somente as mulheres oferecem chocolates aos homens (Valentine’s Day) e em março, mais precisamente no dia 14, conhecido por White Day (Dia Branco), é a vez dos homens retribuírem chocolates para as mulheres.

Fonte: JR Tower

Essa “mania” dos chocolates é meramente comercial e foi introduzida pela confeitaria Morozoff, na cidade de Kobe, no ano de 1936, sendo posteriormente popularizada por meio de boas estratégias de marketing, de modo que, atualmente, as empresas de chocolates vendem mais da metade de seus estoques anuais durante as semanas que antecedem essas duas datas comemorativas.

Fonte: Gourmet Watch

O que chama a atenção é que, diferente do nosso costume, onde só os casais se presenteiam, por aqui é comum as mulheres oferecerem chocolates no Valentine’s Day, não só para os namorados, mas para os amigos, colegas do trabalho e/ou da escola e também para os familiares, existindo até mesmo uma classificação de qual chocolate comprar, dependendo do grau de relação com a pessoa a ser presenteada.

Fonte: Dia a Dia

Assim, o “honmei-choco” é o chocolate oferecido à pessoa “especial”, por quem a mulher está apaixonada, e se ainda não estão juntos ou o amor é “platônico”, é uma forma de declarar seu sentimento. Muitas mulheres optam, inclusive, por fazer o chocolate artesanalmente, pois através desse gesto, esperam demonstrar o quanto a pessoa é importante para ela. 

Já o “giri-choco” é o chocolate da convivência social e é oferecido aos chefes, professores, clientes e colegas no trabalho, como demonstração de amizade ou gratidão. Nas vésperas desta data comemorativa, é comum ver as mulheres comprando dezenas de caixas de chocolates, tomando o cuidado em escrever a palavra “giri” na embalagem, para não dar margem às interpretações equivocadas.

De uns tempos para cá, para alavancar ainda mais a venda de chocolates neste período, as empresas de chocolates criaram, estrategicamente,  o “family-choco” para as mulheres presentearem os homens da família (marido, filho, pai, irmão, tio, primo e avôs) e o “tomo-choco” que é chocolate oferecido para os amigos e para as amigas, como demonstração de carinho e também pra ninguém ficar de fora no dia que mais parece dia do chocolate do que dia dos namorados, não é mesmo? Mais recentemente, criaram o “gyaku-choco” como uma opção para os casais apaixonados trocarem chocolates no mesmo dia, ou seja, no Valentine’s Day. 

Independente desta classificação, a data é bastante aguardada pelas mulheres japonesas, especialmente pelas mais jovens e solteiras, que aproveitam a ocasião para se declarar à pessoa amada, oferecendo-lhe o “honmei-choco”.

Desse modo, envoltos neste clima romântico ou de gratidão, um mês após o Valentine’s Day, no dia 14 de março, conhecido por White Day, é a vez dos homens “devolverem” os presentes.  Por que White Day?

 

Fonte: Binus University

Tudo começou em 1978, quando uma confeitaria japonesa lançou o “Dia do Marshmallow” como forma de promover seus marshmallows, especificamente para os homens, incentivando-os a retribuir os presentes recebidos no Valentine’s Day. Essa iniciativa inspirou a Associação Nacional da Indústria de Confeitaria do Japão a implementar, em 1980, o “White Day” (Dia Branco) como resposta ao Dia dos Namorados. O nome “White Day” foi escolhido, tanto pela cor do marshmallow que é branco, como também por ser o símbolo da pureza, estando intimamente associada à inocência do amor adolescente na cultura japonesa. Bela sacada, vocês não acham? 

Fonte: Moshi Moshi Nippon

Embora os marshmallows tenham sido o presente original do White Day, outros doces como biscoitos, “macarons” e chocolates brancos são atualmente mais populares, sendo que, no final do mês de fevereiro, as lojas de departamentos e afins, intensificam suas campanhas publicitárias oferecendo uma enorme variedade de doces, apresentados em lindas embalagens, incluindo até mesmo itens de luxo, como perfumes, jóias e bolsas. 

Fonte: Live Japan

O interessante nesta história toda é que, no caso do homem ter recebido uma declaração de amor, a mulher que lhe ofereceu o “honmei choco” só saberá se é correspondida, no White Day. Se ele oferecer um presente superior a três vezes o valor do presente recebido (“sanbai gaeshi”), a resposta é óbvia, né? No entanto, como é considerado uma desfeita o homem não retribuir, ao “devolver” com um “presentinho” proporcional ao valor recebido, é sinal de que não está interessado num relacionamento mais sério. 

Como acabamos de ver, o hábito de presentear chocolates no Valentine’s Day e White Day está enraizado na cultura japonesa sendo, muitas vezes, vista como uma obrigação social. Não participar da troca de chocolates pode ser interpretado como deselegância, mas muitas mulheres japonesas vêm, recentemente, se opondo ao que consideram uma prática estressante de “doação obrigatória”.

A contrariedade é direcionada ao “giri-choco”, pois muitas delas sentem-se pressionadas a gastar milhares de ienes em chocolates, para evitar ofender chefes e colegas de trabalho. No intuito de minimizar essa percepção de assédio trabalhista, muitas empresas estão, atualmente, proibindo tal prática no ambiente de trabalho. Desse modo, ao invés de dar “giri-choco”, muitas japonesas aderiram ao “jibun-choco”, ou seja, estão mais propensas a se auto-presentear com sofisticados chocolates. Nada mau, heim? 

Fonte: Nippon.com

Aproveitando-se deste comportamento, um número crescente de homens japoneses vêm optando cada vez mais pelo “gyaku-choco”, preferindo dar chocolates e/ou presentes para suas esposas, namoradas ou  “crushes” no Valentine’s Day e não mais no White Day. E aí, o que vocês acham? 

Apesar desses dois eventos serem atípicos aos nossos olhos, os japoneses levam muito a sério esse festival de chocolates. Eu, particularmente, acho que o dia dos namorados, qualquer que seja a data, deve ser comemorada apenas entre casais, pois é uma data especial em que podemos celebrar a união, a cumplicidade, o respeito e a dedicação entre ambos, durante o decorrer do ano.

Fonte: Divvino

Depois de tanta conversa, encerro este post  parabenizando a Dani e o meu genro Murilo pois, coincidentemente, casaram no Dia de São Valentim e hoje, 14 de fevereiro, estão comemorando as bodas de marfim (14 anos). Aproveitem para celebrar, curtindo um jantar especial, de preferência à luz de velas, num bom restaurante da cidade. Que romântico, heim? Como estou no Japão, pra não deixar a data passar em branco, vou já já degustar o meu “jibun-choco”, ou seja, o delicioso chocolate da Godiva que eu, merecidamente, comprei para mim mesma, rs. 

~ Bia ~

O Japão se veste de branco no inverno

Templo Kiyomizu-dera, em Kyoto | Fonte: Mundo-Nipo

Quando as últimas folhas do outono caem anunciando o início do inverno, os japoneses se preparam para “curtir” ou “descurtir” a estação mais fria do ano. À medida que o inverno se aproxima (meados de dezembro), a temperatura começa a cair e em diversas regiões, onde o inverno é mais rigoroso, observa-se anualmente uma enorme quantidade de neve.

Para a maioria de nós, brasileiros, que vivemos num clima tropical e raramente temos a oportunidade de ver a neve, contemplar o manto branco em todo o seu esplendor é, sem dúvida, um colírio para os nossos olhos. Muitos turistas viajam grandes distâncias para ver esse lindo espetáculo da natureza e como o Japão é um país densamente montanhoso, possuindo muitos picos para a prática de esportes de inverno, é um dos principais destinos de esqui e snowboard do mundo.

Remoção de neve | Fonte: Audrey Kletscher Helbling

No entanto, na mesma proporção que causa fascinação, a neve pode se tornar extremamente indesejável. Essa semana, mais precisamente no dia 24 (terça-feira), várias regiões do país foram duramente castigadas por uma forte nevasca, causando muitos transtornos para a população. Centenas de voos e trens foram cancelados e o tráfego nas rodovias ficou paralisado, gerando um verdadeiro caos no sistema de transporte público. Sem contar que, para evitar acidentes, é preciso tomar muito cuidado para remover a neve acumulada no telhado, não derrapar ao dirigir e, até mesmo, não escorregar caminhando nas calçadas.

Hokkaido | Fonte: Japão com Tsuge

Mas… como diz o velho ditado que “depois da tempestade vem a bonança”, após as turbulências, tudo volta ao normal e convenhamos que a neve possui, sim, um caráter lúdico que proporciona momentos de lazer, diversão e alegria para crianças e adultos. 

Tomamu Resort Hokkaido | Fonte: Hoshino Resorts

Neste sentido, a possibilidade de praticar esqui, snowboard e outras modalidades esportivas tem atraído cada vez mais turistas para as montanhas de Hokkaido (província situada no norte do país), principalmente pela excelente qualidade da neve powder, trazida pelos ventos da Sibéria que varrem a ilha nesta época do ano, proporcionando uma abundante neve fresca. Na região, um dos destinos preferidos é Sahoro, que oferece uma boa variedade de pistas para iniciantes e avançados, caminhadas de inverno, snowmobile e atrações para crianças. Entretanto, no Tomamu Resort Hokkaido, um dos destaques é a prática do esqui noturno, modalidade ainda pouco existente em outros lugares do mundo.

Festival de Neve de Sapporo | Fonte: Hokkaido.a4jp

Desse modo, Hokkaido é a “queridinha” do Japão quando se fala em neve. Aliada à paisagem cênica de deixar qualquer um de queixo caído, um dos maiores festivais de inverno do mundo – Sapporo Snow Festival – transforma os gélidos dias da estação em uma divertida e calorosa festividade. Localizado no Parque Odori, no centro da cidade, no evento que neste ano será realizado entre os dias 4 a 11 de fevereiro, será possível se encantar com um fascinante mundo de neve e gelo que se estenderá por aproximadamente 1.5 quilômetros. Segundo os organizadores, os visitantes poderão desfrutar de uma variedade de atrações, como as gigantescas esculturas de neve, os deliciosos pratos típicos da região, uma pista de patinação e muito mais!!! 

Pinguins em Asahikawa | Fonte: Você na neve

Também vale a pena conhecer o Zoológico de Asahiyama, onde dá pra acompanhar de pertinho a marcha diária dos pinguins e ver esses simpáticos animais nadando a partir de um tubo submerso. Os animais em exibição incluem a vida selvagem nativa de Hokkaido, veados, águias e grous, bem como vários animais de todo o mundo, como ursos polares, macacos, felinos, hipopótamos e girafas. No evento “Asahiyama Zoo by Snow Light” realizado anualmente no início de fevereiro, velas de gelo são acesas para dar ao zoológico uma atmosfera especial, sendo uma ótima oportunidade para conferir como os animais se comportam nas noites de inverno, principalmente as espécies noturnas.

Gelo à deriva | Fonte: Japan-guide.com

Ainda no norte do Japão, uma das melhores maneiras de ver o gelo à deriva (drift ice) é participando de passeios de barco na costa japonesa de Abashiri. Para os caçadores de emoção, algumas agências de turismo também oferecem passeios para caminhar no gelo, sendo possível observar os animais que vivem sobre e sob o gelo e até mesmo nadar no mar com trajes de banho de proteção. Os passeios permitem explorar os fenômenos de perto, enquanto se caminha nos grandes pedaços de gelo flutuantes, sob a orientação atenta de um especialista local. Congelante, não é mesmo? 

Se andar no gelo não é uma boa pedida, que tal pescar no gelo? 

Pesca no gelo | Fonte: Você Na Neve 

Isso mesmo! Difícil acreditar mas milhares de turistas acampam próximos a rios e lagos congelados e se divertem com essa prática, fazendo um buraco no gelo, jogando a isca e esperando a mágica acontecer. Hokkaido é um dos destinos mais procurados para esta modalidade de pesca e está repleta de locais adequados como o Lago Sahoro e Onuma Koen, localizado em Hakodate. 

Vilarejos Shirakawa-go e Gokayama | Fonte: Japão com Tsuge

Imperdível no inverno é visitar os antigos e charmosos vilarejos Shirakawa-go e Gokayama, localizados na região central do Japão. Pelo belíssimo cenário, com as montanhas ao fundo, as casas com telhado de palha (gassho-zukuri) e as árvores cobertas com muita neve, lembrando um conto de fadas, os vilarejos foram tombados como Patrimônio Cultural Mundial da UNESCO em 1995.

Monte Fuji | Fonte: Painel Global

Por outro lado, o inverno é a melhor época para admirar o icônico Monte Fuji, a montanha mais alta do arquipélago japonês, localizada entre as províncias de Shizuoka e Yamanashi. Com a queda da neve, é possível apreciar uma bela coroa branca, que se estende até bem perto do sopé. Só vendo para crer a imponência desta “sagrada” montanha, mundialmente conhecida como símbolo nacional do Japão!!!

Macacos silvestres | Fonte: Japan National Tourism Organization

Pelo fato da província de Nagano, localizada na mesma região, concentrar as montanhas mais altas do Japão e possuir algumas das melhores estações de esqui do país, tornando-a muito atrativa para os turistas, foi a sede das Olimpíadas de Inverno de 1998. Essa província abriga também um dos espetáculos mais inusitados do mundo. O Jigokudani Yaen Koen (Snow Monkey Park) é o habitat de uma tropa de macacos japoneses onde os visitantes têm a oportunidade de vê-los, durante o inverno, mergulhando e relaxando nas fontes termais para se aquecerem. É uma visão excêntrica que pode ser, ao mesmo tempo, surpreendente!!!

Vale de Biwako | Fonte: Living Nomads

Até mesmo nas imediações de Osaka, Kyoto, Nara e Kobe, onde nem sempre neva, é possível a criançada “escorregar” no Biwako Valley, montanha ao norte do Lago Biwa que, por sinal, fica bem próximo de onde estou morando atualmente. Mas… como sou friorenta, ao invés de esquiar, prefiro esquivar-me de lugares que são “branquinhos como a neve”, hehe.

Águas termais | Fonte: Jalan.net

Assim como os macaquinhos de Nagano, adoro curtir as famosas fontes de águas termais, chamadas de onsens. Graças a vasta quantidade de vulcões presentes no Japão, muitas montanhas dão origem a incríveis fontes ricas em minerais, podendo ser encontradas tanto em ambientes internos como casas de banho, hotéis, spas e ryokans (pousadas tradicionais japonesas), como em áreas externas, em meio à natureza e com uma belíssima paisagem.

Sukiyaki | Fonte: Quickly Travel

No inverno japonês, não podemos deixar de saborear o nabemono, que é um dos pratos mais populares da estação. Nabemono é uma palavra composta, onde “nabe” se refere a panela e “mono” significa coisas, de modo que nesse prato os ingredientes (mono) são colocados em uma panela especial (nabe), sendo preparados e servidos na mesa. Alguns dos pratos do nabemono incluem Sukiyaki, Shabu Shabu e Oden. Outra iguaria muito apreciada pelos japoneses são os caranguejos que, ao contrário do Brasil, não são servidos nas praias. Para acompanhar esses pratos quentes, por aqui o costume é beber o saquê, tradicional bebida alcoólica preparada a partir da fermentação do arroz.

De um modo geral, assim é o inverno japonês. Existem as pessoas que são apaixonadas pelo frio e aproveitam o período para se divertirem nas estações de esquis e outras que preferem apenas relaxar nas fontes de águas termais. Há quem prefira descansar nos dias de folga em casa mesmo, debaixo de um cobertor, comendo pipoca e assistindo as séries da Netflix ou tomando chocolate quente enquanto lê um livro. Para os amantes do vinho, não deixa de ser um bom momento para explorar novas uvas, esquentar o corpo, relaxar e degustar deliciosos fondues.

Qualquer que seja a opção, tudo é perfeitamente possível neste adorável país onde, como acabamos de ver, se veste de branco no inverno. Como cada estação tem seus encantos, concordo com Alice Ruiz ao declarar que “neve ou não neve, onde há amigos a vida é leve”. 

~ Bia ~

2023: Ano do Coelho no Horóscopo Japonês

Fonte: Japão em Foco

Feliz Ano Novo!!!

Vamos começar o primeiro post deste ano, emanando pensamentos positivos!!! Então… nada melhor do que lembrarmos que o horóscopo japonês, ou Juunishi, uma versão adaptada do horóscopo chinês, compreende um ciclo de doze anos, representado por doze animais: Rato, Boi, Tigre, Coelho, Dragão, Serpente, Cavalo, Cabra, Macaco, Galo, Cão e Javali, sendo que cada animal é responsável por reger as características de cada ano. Hoje, 1º de janeiro de 2023 inicia-se, no Japão, o ciclo sob a influência do Coelho, de modo que diplomacia, sensibilidade, indulgência e criatividade para lidar com as situações, segundo Adriana Di Lima, são as principais características que delimitam esse signo.

Assim, na terra do sol nascente, o respectivo animal do ano frequentemente adorna os nengajo” que são cartões postais usados apenas no Ano Novo para enviar saudações por escrito, como forma de expressar gratidão e/ou manter contato com amigos, parentes, colegas e conhecidos, pelo menos, uma vez por ano.

Fonte: Tokyo Weekender

Em se tratando de Ano Novo, como a maioria das empresas permanecem fechadas durante os três primeiros dias deste feriado (Sanganichi), muitos japoneses aproveitam para voltar para suas cidades natais a fim de passar esses poucos dias com seus familiares. Assim, no ganjitsu (primeiro dia do ano), muitos têm o costume de levantar bem cedo para apreciar o Hatsuhinode, o belíssimo espetáculo do primeiro amanhecer do ano.

É costume tradicional as famílias se reunirem no café da manhã para saborear o ozooni, uma vez que o mochi (bolinho de arroz) que é o principal ingrediente desta sopa, por ser mastigado e puxado várias vezes, simboliza a longevidade. O osechi ryori, conforme descrito no post anterior, pode ser consumido em qualquer uma das refeições (café da manhã, almoço e/ou jantar) nos três primeiros dias do ano.

Fonte: Kokoro Media

Outra tradição é o Otoshidama, um envelope com uma certa quantia de dinheiro, destinado especialmente às crianças e adolescentes. Esses envelopes, pequenos e ricamente ilustrados, são entregues pelos pais, avós e/ou parentes no Ano Novo, sendo que a quantia ofertada tende a ser proporcional à idade da criança, mas se houver mais crianças na família, são igualmente rateados.

Coisas do Japão

Hatsumode é o termo designado para a primeira visita do ano a um templo e nessa ocasião é comum ver mulheres e homens em trajes típicos japoneses, como kimono e hakama, fazendo uma prece para que o ano seja repleto de saúde e prosperidade. Nestes locais é possível adquirir plaquinhas de madeira chamadas “ema”, nas quais as pessoas sacramentam para que seus desejos se realizem no decorrer do ano que está iniciando.

Fonte: Kumon Brasil

Além disso, muitos japoneses aproveitam para comprar um oráculo chamado Omikuji que descreve se você terá boa sorte em questões relacionadas à dinheiro, saúde, relacionamentos e assim por diante. Após a leitura, costumam colocar os bilhetinhos em locais previamente estabelecidos do santuário como, por exemplo, galhos de árvores ou estacas de madeira.

Fonte: Kumon Brasil

Outro costume muito interessante é o fukubukuro, sacolas contendo uma variedade aleatória de produtos e vendidos com um desconto substancial durante períodos especiais de vendas no Japão, principalmente no ano novo. Cada “sacola da sorte” contém produtos específicos como alimentos, vestuários ou acessórios de computador. É uma tradição de longa data entre os japoneses e ainda hoje essas sacolas são vistas como ótimas oportunidades para adquirir ótimos produtos com valores bem mais acessíveis e convidativos.

Fonte: Live Japan

Como deu pra perceber, Ano Novo no Japão é uma celebração tranquila, familiar e espiritual. Para a maior parte das famílias japonesas é um momento de reflexão sobre o ano que passou, de renovar as energias para o ano que vai começar, de modo que para eles é muito importante terminar o ano em paz, com aquele gostinho de dever cumprido, pois esse sentimento ajuda a trazer, não só prosperidade econômica, como sorte em todos os aspectos da vida no ano que se inicia.

Embarcando nesta onde de bons fluídos, André Mantovanni reforça que o Ano do Coelho será um ano cheio de emoções positivas e excelentes circunstâncias para qualquer tipo de relação. Como o Coelho simboliza paciência e sorte, tudo indica que ele trará o que faltou no último ano: paz e sucesso! Um ano de diplomacia e graça, em total oposição ao cansativo ano do Tigre (2022). Promete ser um ano de sucesso profissional mas para que isso aconteça, requer esforço e compromisso sério, uma vez que, com seriedade, poderemos realizar tudo que planejarmos fazer. 

Vamos, então, focar para que os novos desafios despertem o nosso melhor nesses 12 meses que virão, pois o Ano do Coelho tem tudo para ser maravilhoso!!! Só depende de nós mesmos acreditar nos sonhos e jamais desistir das nossas metinhas, metas e metazonas, porque só assim, seremos capazes de transformar cada dia deste novo ano em um página memorável do livro de nossas vidas!!!

Feliz Ano Novo!!! Que seja um ano abençoado para todos nós!!!

~ Bia e Dani ~

Preparativos para o Réveillon Japonês

Fonte: Elite Resorts

Como já estamos na contagem regressiva do Ano do Coelho (2023), vamos compartilhar como o povo japonês se despede do ano velho e dá as boas-vindas ao ano novo.

O Ano Novo Japonês – Oshougatsu – é a principal celebração no calendário de festividades do país, comemorado entre os dias 31 de dezembro e 3 de janeiro. Repleta de tradição e costumes, cada prática tem um significado especial, no sentido de buscar a renovação, saúde e prosperidade para o ano que vai chegar.

Assim como no Brasil, no final do ano, os japoneses também têm o costume de enviar presentes para seus amigos, gerentes, clientes e professores, a fim de expressar a gratidão. No entanto, ao invés das tradicionais cestas de Natal e dos panetones, dentre os itens mais populares de presentes, conhecidos por Oseibo, estão alimentos frescos (frutos do mar, embutidos, carne e frutas), condimentos, cerveja, chá, café, alimentos enlatados e alguns tipos de sobremesas.

Fonte: Umamama

Nas duas últimas semanas de dezembro, os japoneses começam a fazer uma verdadeira faxina em suas casas, escritórios e empresas, conhecida por Oosouji, “grande limpeza”, como forma de dar um adeus definitivo ao ano que se encerra, porque só então, depois de tudo muito limpo e organizado, será possível começar o ano com o pé direito. Por outro lado, o Susuharai é um ritual de limpeza executado nos santuários e nos templos, acreditando-se que, ao remover as fuligens e as poeiras acumuladas durante o ano, remove-se também as “sujeiras espirituais”, deixando o ambiente purificado para trazer boas energias às pessoas que ali frequentam. 

Fonte: Nishinomiya Shrine

Mais do que os tradicionais enfeites de Natal, a milenar tradição japonesa incita a enfeitar as casas com as decorações conhecidas como oshogatsu-kazari. O Kagami-mochi é um adorno normalmente colocado sobre a mesa de jantar, composta por dois bolos feitos de arroz (mochi) sobrepostos em um pedestal, com uma laranja, chamada daidai, no topo. O arroz utilizado vem da colheita feita no outono e acredita-se que este ingrediente conserva seu espírito puro, trazendo bênçãos e boa fortuna.

Fonte: Kokoro Media

Outro elemento decorativo é o Shimenawa, uma corda trançada feita de palha de arroz ou cânhamo. Estas cordas podem ser decoradas com serpentinas de papel em formato zigue-zague, laranjas japonesas e até mesmo um tipo de samambaia. Embora sejam mais vistas em santuários xintoístas como forma de demarcar um espaço sagrado, durante o Ano Novo é comum encontrá-las enfeitando a fachada das casas.

Fonte: Muza-chan

O Kadomatsu, por sua vez, é colocado em ambos lados dos portões das casas para receber a entidade do Ano Novo, sendo feito a partir da junção de galhos de pinheiro, talos de bambu e muitas vezes flores de ameixeira, para trazer longevidade, prosperidade e perseverança.

Fonte: Muza-chan

O Réveillon, que aqui é conhecido por Omisoka, é o dia em que os japoneses preparam-se espiritualmente para o ano que vai chegar. Na virada do ano, as famílias saboreiam o Toshikoshi soba, um macarrão feito à base de trigo sarraceno, desejando que suas vidas e as de seus familiares sejam duradouras, como os fios longos deste macarrão. 

Fonte: Savor Japan

Outro ritual muito comum é o Moti Tsuki, no qual são preparados bolinhos de arroz conhecidos como mochis, que serão usados em alguns pratos como o Ozooni, uma sopa com mochi, que deve ser consumida no primeiro dia do ano.

Fonte: Conhecendo o Japão

No entanto, a comida típica do ano novo japonês, que costuma ser encomendada ou preparada na véspera do ano novo, é o Osechi Ryori, um conjunto de pequenos pratos tradicionais servidos em belas caixas de “marmita” decoradas em laca de duas ou três camadas chamadas de jubako. Cada item escolhido para compor a jubako contém um significado especial e a seleção varia muito de acordo com as preferências da família ou de cada região. O camarão, por exemplo, representa a longevidade, pois o seu formato lembra as costas “curvadas” dos anciões. A soja preta (kuromame) destaca o desejo de uma vida saudável e as ovas de arenque (kazunoko), simbolizam a fertilidade e a prosperidade dos descendentes.

Fonte: Nippon

Com relação ao jantar de Réveillon, o cardápio é bem diversificado, incluindo pratos populares como sushi, sashimi e hot pot como sukiyaki, yosenabe e shabu-shabu. Em algumas regiões do Japão, as pessoas até começam a comer osechi ryori na véspera de Ano Novo.

Após o jantar, muitas famílias japonesas aguardam o maior evento musical do Japão, o NHK Kouhaku Utagassen que é um tradicional programa televisivo japonês, realizado anualmente na véspera do ano novo, com apresentações dos artistas que mais se destacaram no decorrer do ano, onde há uma competição entre as equipes masculina (shirogumi) e feminina (akagumi). No final do show, pouco antes da meia-noite, os jurados e o público em geral decidem qual grupo teve melhor desempenho.

E, para fechar com chave de ouro o Réveillon japonês, mais do que brindar a chegada do Ano Novo com os famosos fogos de artifícios, tradicional em vários cantos do planeta, no Japão os templos budistas começam a tocar, pouco antes da meia-noite, gigantescos sinos para anunciar a entrada do novo ano. As 108 badaladas dos sinos conhecidas por  joya no kane  representam a dispersão dos pecados ou desejos mundanos do homem, no intuito de purificar a sua  alma. 

Fonte: Photozou

Assim, nos penúltimos dias que antecedem o novo ano, até o último minuto do dia 31 de dezembro, os japoneses cumprimentam os amigos e familiares através de uma expressão típica dessa data, que nós também vamos usar para nos despedirmos de todos vocês neste último post deste ano: yoi otoshio!, que significa “tenha um bom começo de ano!”.

Fonte: Marley de Lima

A gente se vê em 2023. YOI OTOSHIO!!!

~ Bia e Dani ~

Outono é… outono no Japão!!!

Fonte: WeXpats Guide

Ué? Como assim? Outono não é outono em outros países? Claro que sim, mas como as quatro estações são muito bem delineadas no Japão, ao longo deste post, com certeza, você irá compreender porque o outono é literalmente outono nesse país. Então… vamos lá!

À medida que o calor do verão diminui e o frio do inverno começa a se instalar, as densas florestas começam a se transformar em impressionantes tons de laranja, amarelo e vermelho, propiciando um clima perfeito para caminhadas ao ar livre. Jardins e parques tradicionais exibem as cores de outono, atraindo milhares de visitantes ansiosos para se deleitarem com a mudança das folhagens. É esta combinação de clima frio e paisagens surpreendentes que tornam o outono uma das estações preferidas do povo do sol nascente.

O Equinócio de Outono (Shuubun no Hi) celebrado este ano no dia 23 de setembro, marca a entrada oficial do belo outono japonês, estação em que ocorre o fenômeno chamado “kouyou” (Koyo Gari ou Momiji Gari), quando as folhas das árvores ganham lindas tonalidades vermelho-amareladas, deixando a estação com um visual incrivelmente encantador.

Fenômeno kouyou em Hokkaido | Fonte: Japan Guide

O início da “metamorfose” das folhas ocorre em meados de setembro no norte do país, encerrando a mutação no começo de dezembro nas regiões mais ao sul, sendo que o auge do “kouyou” ocorre em novembro, período em que é possível contemplar a árvore que mais se destaca nesse espetacular cenário que é o “momiji”, também conhecida como bordo em português ou maple tree, em inglês.

Yamanaka-ko | Fonte: Caçadores de Lendas

Ao contrário da temporada da flor da cerejeira (sakura), que é bastante curta, podemos apreciar a beleza das folhas com mais tranquilidade, pois o período das folhas de outono é um pouquinho mais longo, sendo uma das melhores estações para passear nesse país. O clima é mais ameno, as comidas sazonais dominam os cardápios e a natureza oferece esplêndidos cenários de deixar qualquer um de “queixo caído”, ainda mais agora que o Japão acabou de reabrir suas fronteiras para o turismo internacional.

A apreciação dessa estação tem um lugar especial no coração dos japoneses, pois assim como a sakura, o outono também enfatiza a efemeridade, ou seja, que tudo é passageiro e precisamos aproveitá-los no momento certo. Desse modo, é interessante saber que existem duas palavras muito usadas nessa época do ano: kouyou (紅葉), que retrata o processo natural da mudança da cor das folhas verdes para o vermelho e o momiji (紅葉), que se refere às folhas avermelhadas, sendo o símbolo definitivo do outono japonês.

No entanto, não podemos omitir que a cor marcante do amarelo dourado de alguns destes cenários, são realçadas pelas folhas da árvore milenar “icho” (Ginkgo biloba), considerada um fóssil vivo, pois já existia no tempo dos dinossauros, há mais de 200 milhões de anos. Essa árvore, também conhecida como nogueira-do-japão, árvore-avenca ou simplesmente ginkgo, possui delicada beleza aliada à força e resistência, sendo o símbolo de paz e longevidade por ter sobrevivido às explosões atômicas no Japão. O dourado dessas exuberantes folhas podem ser apreciadas, em Tokyo, nas alamedas do Icho Namiki (Avenida de Ginkgo), próxima ao Meiji Jingu Gaien Park, considerada uma das avenidas mais populares durante a estação.

Fonte: Caçadores de Lendas

Esse maravilhoso espetáculo também pode ser vislumbrado, inclusive, ao anoitecer, pois assim como na capital japonesa, em diversas localidades como Nikko em Tochigi, Oirase em Aomori, Kyoto, Kamakura, Osaka, entre outras, recebem iluminação noturna em parques, templos e ruas arborizadas, destacando a coloração outonal das folhagens – um deslumbrante show da natureza enaltecido por luzes artificiais.

Kiyomizu-dera em Kyoto | Fonte: Caçadores de Lendas

Além das folhas, não podemos deixar de destacar as incríveis flores desta estação! Elas esbanjam formosura em parques e jardins por todo o país e são atrações imperdíveis para os amantes da natureza. Uma dessas flores é a cosmos, que pode ser vista em várias cores como rosa, amarelo, branco, laranja, entre outras. Crisântemos, jasmim do imperador (osmanthus), lírios-da-aranha-vermelha e arbusto de fogo (kochia), conforme foto a seguir, também ostentam sua beleza nessa época do ano.

Fonte: Wikimedia Commons

Com relação aos produtos típicos, um dos ingredientes mais usados é a batata-doce que aparece em doces, salgados e em praticamente todos os menus e rótulos de produtos por tempo limitado durante esta estação. Outra comida sazonal muito saborosa é o “sanma” grelhado, um peixe longo e esbelto, sendo tão apreciado no Japão que até recebe seu próprio festival, o Meguro Sanma Festival. Neste evento, que ocorre desde 1996, são distribuídos gratuitamente cerca de 7.000 peixes grelhados.

Fonte: Além do Sushi

Desse modo, o outono também é conhecido por ser uma temporada cheia de comidas deliciosas feitas com ingredientes típicos da estação. Além da batata-doce e do peixe sanma, outras frutas e vegetais sazonais que compõem a culinária japonesa são: cogumelo matsutake, abóbora kabocha, castanha (kuri), pera asiática, caqui, uva e maçã.

Fonte: WeXpats Guide

Com uma história rica em simbolismo, as impressionantes árvores multicoloridas representam o equilíbrio e por estarem associadas à paz e à serenidade têm sido, desde tempos antigos, inspiração para os poetas japoneses. Assim, os japoneses vêm preservando suas tradições e são agraciados com quase três meses de clima favorável a passeios e viagens em cenários de tirar o fôlego, não deixando “passar em branco” o belíssimo espetáculo a céu aberto da estação mais colorida do ano, neste fascinante país que também é, como expressa Caetano Veloso na música dedicada à cidade maravilhosa (Rio de Janeiro), cheia de encantos mil!!! Vale a pena planejar uma viagem nessa época do ano porque o outono é, como você acabou de ver, indescritivelmente outonal no Japão!!!

~ Bia ~

Dona Akiko e o jogo do contente

Fonte: CEO do Futuro

Será que vocês já ouviram falar do jogo do contente? Quando eu tinha 13 anos, “caiu em minhas mãos”, uma obra clássica da escritora americana Eleanor H. Porter, intitulada Poliana. Publicado pela primeira vez em 1913, o livro narra a história da protagonista que consegue ver o lado bom em tudo que acontece… até que um obstáculo desafie seu Jogo do Contente que foi inventado por seu falecido pai, para que ela encontrasse diariamente motivos para sorrir. Com esse pensamento, ela enfrenta as dificuldades da vida e provoca os adultos a seguir pelo mesmo caminho, sem nutrir mágoas ou tristezas profundas.

Não sei dizer se Dona Akiko, minha mãe, chegou a ler esse livro mas depois que terminei a leitura dessa obra literária, cuja mensagem nos faz refletir sobre a importância de ser otimista e ver sempre o lado positivo de todas as situações, com exceção do funeral, já que “não há nada em um funeral que possa deixar alguém contente” segundo Poliana, o que mais me impressionou foi perceber como minha mãe jogava tão bem esse jogo no seu dia a dia.

Como comentei anteriormente, sou descendente de japoneses e reza os antigos costumes de meus ancestrais, o sistema patriarcal em que cada membro tem seu lugar definido na estrutura e na organização doméstica, assim como o compromisso com quem o comanda. Na hierarquia, cuja autonomia máxima era do pai, o primogênito (sexo masculino) tinha a responsabilidade de perpetuar o legado cultural e social da família, cabendo a sucessão do honrado nome da família. Digamos que, de certa forma, não deixava de ser um resquício de feudalismo que a tradição japonesa respeitava com muito orgulho.

Em outras palavras, meus avós imigraram para o Brasil e o meu pai, por ser filho único, era também o primogênito da família. Fortemente enraizado em seus costumes e tradições, meu avô paterno era o patriarca da família, de modo que quando meus pais casaram, minha mãe foi morar com meus avós, assumindo seus deveres previamente estabelecidos. Assim, eu e meus irmãos nascemos e passamos a nossa infância e adolescência convivendo não só com meus pais, mas principalmente com meus avós que estavam sempre presentes, transmitindo profundas lições de vida para todos nós. 

Onde entra a Dona Akiko nessa história toda? Meu avô, apesar de ser extremamente generoso, era o “senhor feudal do nosso clã” e, além de autoritário, era implacável em suas decisões, ou seja, quando ele falava, todos (meus pais e minha tia Zélia que é a única irmã de meu pai e era uma jovem adolescente quando eu nasci) tinham que “baixar as orelhas”, mesmo não concordando com as suas ações. 

Meu pai teve muitas dificuldades em “digerir” essas imposições, mas como era obrigação do primogênito zelar pelos familiares e respeitar os pais, mesmo contrariado acatava as ordens do meu avô. Minha mãe, por sua vez, não esquentava a cabeça e levava a vida numa boa, mesmo com 5 filhos, sendo corresponsável pelo preparo das refeições da família e ainda por cima, frequentando um curso superior por determinação do meu avô que considerava importante ela ser “letrada” para que tivesse o mesmo nível de conhecimento de meu pai, que era muito estudioso. Naquela época, mais de 50 anos atrás, pouquíssimas mulheres tinham acesso a um curso superior e, se não me engano, minha mãe foi uma das primeiras descendentes de japoneses na nossa cidade a concluir uma “faculdade” e se tornar, posteriormente, professora de geografia no ensino fundamental.               

Assim, minha mãe foi se dedicando à sua atarefada rotina, colocando em prática o seu jogo do contente, sem nutrir mágoas ou tristezas diante da autoridade do patriarca da família. Se por um lado meu avô era muito rígido, ela teve uma sorte incrível pois minha avó era muito, mas muito amável e compreensiva (acho que também conhecia o jogo do contente) e posso falar de “boca cheia” que nunca presenciei uma discussão entre essas duas mulheres que conviveram pacificamente por 45 anos. 

Somente após a partida de meu pai, meu avô e de minha avó, há 17 anos, Dona Akiko conseguiu se sentir livre como um passarinho e decidiu viver para ela mesma. Até então, sempre com o seu joguinho do contente a postos, tinha dedicado toda a sua vida em prol do bem estar da família. Para se ter uma ideia de como ela levava esse jogo tão a sério, eu dificilmente a vi reclamar e na minha “aborrescência”, quando eu ficava revoltada contra tudo e todos e ela, na tentativa de me acalmar, me dizia que tínhamos que “dançar conforme a música”, tenho que confessar que ficava irritada com o seu comportamento que, na época, eu entendia como “conformismo” e não como “resiliência”. 

Continuando… nesse período em que a minha mãe estava começando a sentir o gostinho da liberdade, teve que colocar novamente em prática seu velho jogo do contente para vencer uma dura batalha contra um câncer que veio incomodá-la. Após se libertar da doença, sentindo-se mais leve e solta, desta vez como uma borboleta que acaba de sair do casulo, resolveu seguir o conselho que Poliana dá para Tia Polly durante a reprimenda de um jogo do contente: Respirar apenas não é viver!”. 

Restabelecida após um período de debilitação, porém carregada de energia, coragem e entusiasmo, Dona Akiko decidiu não só respirar mas viver intensamente, participando de vários grupos sociais e religiosos e realizar o maior desejo de sua vida que era viajar e explorar, ao vivo e a cores, tudo que ensinara a seus alunos nas aulas de geografia. Totalmente descompromissada, resolveu se aventurar conhecendo vários lugares de norte a sul do Brasil e alguns países da Europa, além de visitar, eventualmente, a família de sua filha Célia, minha irmã, que mora no México e a família de seu irmão caçula Mário, que mora em Toronto, no Canadá.

Quando estava de malas prontas para passear no Japão, país que ela já tinha ido várias vezes, veio a pandemia e teve que cancelar a passagem pois a entrada de turistas não estava mais sendo permitida naquele país. Graças a Deus, tomando os devidos cuidados, não foi atacada pelo terrível vírus da COVID 19, mas no início do ano passado teve um súbito acidente vascular cerebral (AVC), ficando com os membros superiores e inferiores totalmente imobilizados.  Felizmente, o cérebro e os órgãos sensoriais não foram afetados e, mais uma vez, mentalizando o seu joguinho do contente, fazendo fisioterapia e acupuntura, está cada dia melhor. Apesar do seu braço esquerdo continuar imobilizado, consegue se locomover e já está fazendo a maior festa quando a turminha das cartas de baralho vai semanalmente visitá-la.

Hoje, dia 3 de novembro, Dona Akiko está completando 82 anos e agora que não está mais em condições de viajar mundo afora vai, enfim, curtir a partir deste mês, uma casa “novinha em folha” que foi construída especialmente para ela. Depois de passar mais de 60 anos na velha (mas bem conservada) casa onde morou desde que se casou, vai sentir, pela primeira vez, o gostinho de ter o seu lar, doce lar. 

Desse modo, nesta data tão especial, desejo profundamente que a Poliana que existe dentro dela continue firme e forte pois, melhor que ninguém, ela sabe que viver é fazer aquilo que se gosta, é ter um bom dia, é ler bons livros, dar boas gargalhadas e se divertir jogando “buraco” com seus bons e velhos amigos. Ainda mais agora na sua recém construída casa própria!!!

E como nem todos os dias o sol brilha em nossas vidas, tenho certeza que vai “tirar de letra” qualquer obstáculo, pois não conheço quem jogue tão bem esse jogo do contente como ela joga. Razão pela qual digo constantemente para meus familiares que ela é o exemplo de uma pessoa que está sempre, mas sempre mesmo, de bem com a vida. Parabéns, Dona Akiko, por mais um “aninho” de vida e que o seu jogo do contente continue nos inspirando (filhos, netos e bisnetos), a encarar os desafios e extrair o que há de melhor no dia a dia. 

Comemoração de 80 anos da Dona Akiko em 2020

Encerro este post com uma bela frase de Cora Coralina que, assim como minha mãe, era “expert” no jogo do contente: “Eu sou aquela mulher a quem o tempo muito ensinou. Ensinou a amar a vida e não desistir da luta, recomeçar na derrota, renunciar a palavras e pensamentos negativos. Acreditar nos valores humanos e ser otimista.

~ Bia ~

Tia Zélia e o mundo encantado das flores

Quem conhece a história da Alice no País das Maravilhas sabe que ela, curiosa, segue um coelho e bummm, cai numa toca que a transporta para um lugar fantástico, vivenciando “mil e uma” aventuras. Essa é a sensação que tive na minha infância, quando visitava minha tia Zélia. Era abrir o portão de sua casa e deparar com um lindo jardim repleto de flores multicoloridas. Assim como a Alice interage com diversos personagens como o Coelho Branco, o Gato Risonho, o Chapeleiro Maluco, a Rainha de Copas, entre outros, eu adorava “conversar” com as petúnias, gérberas, margaridas, violetas, rosas, hortênsias, gerânios e tantas outras flores que perfumam o jardim em diferentes épocas do ano.   

Com a tia Zélia aprendi a amar as flores e as plantas e até hoje, ela continua cuidando primorosamente do seu jardim, plantando e replantando suas flores prediletas. Lá também tem várias plantas como palmeira cica, diversas suculentas, renda portuguesa, samambaias, avencas e até mesmo trevo de quatro folhas, considerado trevo da sorte por sua raridade: existe apenas 1 em cada 10 mil plantas da espécie. Não tem como não se deslumbrar pois, quando floridos, manacá da serra, agapantos, rosas do deserto e orquídeas ostentam sua formosura.

Nesse jardim, palco de infinitas flores que apresentam seus espetáculos, tive o prazer de conhecer diversas espécies que, assim como os nomes bizarros dos personagens da história da Alice, são popularmente conhecidas como copo de leite, onze horas, boca de leão, rabo de gato, brinco de princesa, amor perfeito, lágrima de cristo, botão de ouro, flor de maio, lírio da paz e tantas outras com nomes realmente pitorescos. 

Desse modo, envolta no mundo encantado das flores da tia Zélia, elas continuam presentes na minha vida e, na impossibilidade de ter, atualmente, um jardim para cultivar as flores e as plantas que tanto amo, um dos meus passeios favoritos é visitar parques repletos de flores pois, além de serem um colírio para meus olhos, muitas delas exalam uma deliciosa fragrância que me proporciona uma enorme sensação de bem estar e relaxamento.

Como sabemos, o amor pelas flores é universal pois elas são a representação máxima de beleza da natureza, em exuberância de formas, cores e perfumes, simbolizando vida, pureza, paz, sucesso, energia, cura, qualidade de vida e muito mais.

No Japão, onde imensa variedade de flores é apreciada, elas estão inseridas no dia a dia das pessoas, sendo que o hábito de cultivá-las e até mesmo de comprá-las, vai além das datas especiais. Intrinsecamente conectadas com a cultura do país, as flores são ricas em simbologia e significados, sendo que a sakura (flor de cerejeira) é, dentre as mais representativas flores da rica flora japonesa, um dos símbolos mais importantes do país.

Flor de cerejeira – Sakura

Graças à sua beleza, cor e efemeridade, está associada à imagem do povo japonês pelo fato delas ficarem pouco tempo floridas (por volta de uma semana) e, assim, representarem a fragilidade da existência humana e a necessidade de se viver o presente de forma mais intensa possível. A sakura também simboliza a renovação, uma vez que a sua floração coincide com o fim do inverno e o início da primavera.

Apesar da sakura estar associada à flor do Japão, o crisântemo é a flor que simboliza a Família Imperial, sendo que uma imagem de 16 pétalas é usada como Selo Imperial do Japão, podendo ser vista, por exemplo, na moeda de 50 yen e na capa do passaporte japonês.

Fonte: Wikipedia

Outra flor muito famosa é a ume (flor da ameixeira), cuja floração ocorre nos gélidos meses de fevereiro e março, atraindo grande número de pessoas aos parques e templos. Essas flores estão associadas à saúde, uma vez que resistem ao inverno e também à nobreza e elegância. A hortênsia é outra flor bastante popular, desabrochando entre junho e julho, que é o período das chuvas no Japão. São facilmente encontradas em parques, jardins e templos e de acordo com as cores, elas têm significados diferentes. A espécie azul tem conotação  negativa, representando a indiferença e a infidelidade, sendo que a espécie rosa está associada ao amor e à jovialidade feminina. 

Para encerrarmos o post de hoje, temos a glicínia que é visualmente uma das mais atrativas da flora japonesa. Sou apaixonada por essa flor originária da China, cuja beleza despertou, ao longo dos anos, o interesse de vários artistas e poetas japoneses que fizeram magníficas obras inspiradas nessa flor. A versão mais conhecida é a lilás que simboliza a gentileza e a paixão. 

Esse ano, mais especificamente no dia das mães, participei do Festival das Glicínias no Ashikaga Flower Park (Tochigi-ken, Japão), e fiquei admirada com a beleza e a imponência de uma elegante trepadeira glicínia de 150 anos. No parque encontram-se, também, mais de 350 glicínias em tons lilás, rosa, roxo, branco e amarelo, formando belos túneis naturais, além de reunir várias outras flores como azaleias, rosas, e petúnias. Um deleite para os olhos!!!

Fonte: Japan Wireless

Foi o parque de flores que mais me impressionou e, certamente, um passeio inesquecível, fazendo-me recordar da minha doce infância, quando eu me sentia a própria Alice, só que ao invés de estar me aventurando no país das maravilhas, eu “explorava” o mundo encantado das flores da tia Zélia. 

“Deixe que a vida faça contigo o que a primavera faz com as flores. Quando eu flor, quando tu flores e ele flor, nós flores seremos e o mundo florescerá. Seja um jardim no qual apenas os bons sentimentos florescem. As mudanças, por mais dolorosas que sejam, às vezes nos fazem florescer.” (Autor Desconhecido)

~ Bia ~