115 anos de Japão no Brasil

Fonte: Editora Unesp

No próximo domingo, 18 de junho, enaltecemos o Dia Nacional da Imigração Japonesa. Sabe por que? Porque foi justamente nesta data, há 115 anos, que o navio Kasato Maru, vinda do porto de Kobe, em uma viagem de mais de 50 dias, aportou no porto de Santos com os 781 primeiros imigrantes japoneses para trabalharem nas lavouras de café, no estado de São Paulo.

Mas… por que os japoneses imigraram para o Brasil?

No final do século XIX, com o fim do feudalismo e o início da mecanização da agricultura, o Japão teve que enfrentar uma grave crise demográfica, levando a população rural a migrar para as cidades, a fim de fugir da pobreza. Desse modo, as oportunidades de emprego tornaram-se escassas, fazendo com que muitos trabalhadores rurais tivessem uma vida extremamente miserável.

O Brasil, por sua vez, apresentava falta de mão-de-obra na agricultura pois a Itália proibiu, em 1092, a imigração subsidiada de italianos para São Paulo (a maior corrente imigratória para o Brasil), deixando as fazendas de café, principal produto exportado na época, sem o número necessário de trabalhadores. A partir das necessidades recíprocas, firmou-se, então, um acordo imigratório entre o Brasil e o Japão.

A grande imigração nipônica se deu a partir de 1908 e na primeira década chegaram ao Brasil aproximadamente 15 mil japoneses. Esse fluxo de imigrantes aumentou drasticamente após a Primeira Guerra Mundial, sendo que algumas estimativas revelam que entre 1918 e 1940 cerca de 160 mil japoneses chegaram ao país, dos quais 75% instalaram-se no estado de São Paulo por causa das colônias e bairros típicos que já se encontravam estabelecidos, cujo foco deixou de ser apenas as plantações de café. Eles também diversificaram o cultivo de hortifrutigranjeiros, chá, soja e arroz.

No entanto, vale ressaltar que a maioria dos imigrantes japoneses tinha a pretensão de enriquecer e voltar ao Japão em, no máximo, três anos. A ilusão de enriquecimento rápido em terras brasileiras, porém, mostrou-se um sonho quase impossível pois tinham estabelecido contratos de trabalho inoperantes a serem cumpridos. Além dos baixos salários, a passagem e tudo que precisavam consumir eram descontados do pagamento, de modo que estavam sempre endividados. Também tiveram que superar uma série de dificuldades como idioma, alimentação, vestuário, religião, clima, péssimas condições de trabalho e até mesmo o preconceito, que se tornaram fortes barreiras à integração dos nipônicos no  país verde amarelo.

Como pretendiam voltar ao Japão, não se interessavam pelos hábitos e costumes da população local e muitos deles não aprenderam a falar o português. Até mesmo os nisseis (filhos de imigrantes japoneses) não eram muito diferentes dos seus pais. Ainda dominados pelo desejo de regresso ao Japão, muitos imigrantes educavam seus filhos dentro de uma sólida cultura oriental. As crianças frequentavam escolas japonesas fundadas pela comunidade e a predominância do meio rural facilitou esse isolamento, fazendo com que cerca de 90% dos filhos de japoneses falassem apenas o idioma japonês em casa.

Porém, no decorrer da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), os japoneses que viviam no Brasil tiveram sérios problemas, pois o Brasil apoiou o grupo dos aliados, enquanto o Japão fazia parte do grupo do eixo, de modo que no desenrolar do conflito, a entrada de japoneses ficou expressamente proibida no país. Além disso, o governo era ofensivo em relação aos imigrantes japoneses, evidenciando-se quando o presidente Getúlio Vargas impediu o uso do idioma japonês e toda e qualquer forma de manifestação cultural, cujos atos passaram a ser considerados criminosos. Após o término da Segunda Guerra, as leis de repressão foram extintas e o fluxo imigratório voltou ao seu crescimento normal, fazendo com que até mesmo os sanseis (netos dos imigrantes japoneses) se abrissem definitivamente à sociedade brasileira. Com o passar do tempo muitos japoneses prosperaram, resultando na permanência definitiva da maioria deles no Brasil.

Deste modo, cientes de que não seria mais viável regressar à terra natal, trabalharam duro no campo para que seus filhos e netos tivessem um futuro promissor no Brasil. Na década de 1960, muitos nisseis e sanseis foram para os centros urbanos a fim de concluir os estudos, ingressando posteriormente na indústria, comércio e prestação de serviços. Consequentemente, a partir da década de 70, a miscigenação passou a integrar a comunidade japonesa no Brasil e, atualmente, observa-se que cerca de 61% dos bisnetos de japoneses possuem traços mestiços com outras etnias. 

Para se ter uma ideia, de acordo com o Consulado Geral do Japão em São Paulo, o Brasil abriga atualmente a maior comunidade de descendentes no exterior: aproximadamente 1,5 milhões de japoneses e descendentes vivem no país e por conta disso, a influência nipônica se perpetuou e está presente nos sabores e saberes do Brasil. Das artes marciais à religião, dos chás e dos sushis aos mangás (as famosas histórias em quadrinhos japonesas), o Brasil incorpora essa cultura que, aliado a um riquíssimo painel multicultural de povos como portugueses, índios, africanos, italianos, espanhóis, árabes, chineses, alemães, entre outros, que também fincaram suas raízes em solo brasileiro, vem contribuindo substancialmente para o desenvolvimento econômico  do país.

Posto isso, após “trancos e barrancos”, o cenário atual mostra que os imigrantes japoneses e seus descendentes estão totalmente integrados à cultura brasileira, subdivididos em:

– Isseis (japoneses de primeira geração, nascidos no Japão);
– Nisseis (filhos de japoneses);
– Sanseis (netos de japoneses);
– Yonseis (bisnetos de japoneses)

Se você, assim como eu, é descendente de japoneses e queira mais informações sobre a imigração dos seus familiares como, por exemplo, o navio em que vieram, data de partida e chegada no porto de Santos e a fazenda em que foram trabalhar, uma boa dica é entrar no site do Museu Histórico da Imigração Japonesa e acessar o banner “Navios de Imigração”, que fornece um relatório completo de todos os imigrantes que vieram ao Brasil. Sem dúvida, esses dados são fundamentais para manter viva a história da Imigração Japonesa no Brasil, especialmente para as novas gerações com raízes nipônicas.

Aproveitando que estamos nas vésperas de uma comemoração tão significativa, que tal compartilhar o site com seus parentes e amigos descendentes de japoneses? Afinal, é muito legal saber de onde viemos e que fazemos parte desse enlaçamento que está prestes a completar 115 anos, não é mesmo?

~ Bia ~

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