Abraçar sem abraçar… 

Fonte: Herp

Hoje vamos falar de abraço porque esse carinhoso gesto que é uma das melhores formas de comunicação universal, dispensa palavras e faz um bem danado à nossa saúde tem, merecidamente, o seu dia especial. Simmm… hoje, 22 de maio, é o Dia Mundial do Abraço!!! Nosso eterno Cazuza já dizia que o abraço é o encontro de dois corações e a não menos famosa banda Jota Quest, em uma de suas músicas diz que o “o melhor lugar do mundo é dentro de um abraço”, expressando que “tudo que a gente sofre, num abraço se dissolve e tudo que se espera ou sonha, num abraço a gente encontra”. Melhor interpretação para um abraço não poderia existir, não é mesmo? 

Jota Quest – Dentro de um Abraço

Tanto é que, de acordo com a literatura científica, dar ou receber um abraço é a forma mais simples de fazer o corpo liberar oxitocina, conhecida como o hormônio do amor e da felicidade. Após um abraço, o sentimento de bem estar, conforto e alegria “contagiam” tanto quem abraçou, quanto quem recebeu o abraço, ajudando a curar a solidão, o isolamento e até a raiva, pois desde que nascemos somos condicionados a ter o contato com outras pessoas e antes disso, ainda na barriga da mãe, nos sentimos seguros, abraçados, estabelecendo uma relação de confiança, conforto e acolhimento, de modo que o abraço nada mais é do que “uma forma de expressar sentimentos e emoções, trazendo diferentes sensações para quem oferece e quem recebe. Pode demonstrar intimidade, proximidade, uma relação querida, uma saudade, um cuidado. Pode também significar afeto, carinho, cuidado, amor, perpassando por vezes a necessidade da palavra e se fazendo suficiente ao sentir o abraço naquele momento”, conforme aponta a psicóloga Letícia Lozan.

Ao contrário de alguns países como, por exemplo, o Japão que não tem o costume de abraçar (tema para um post à parte), esta ação aparentemente tão simples sempre esteve presente no  comportamento de todos nós, brasileiros, de modo que, com a pandemia, em razão do distanciamento social, nunca antes um abraço foi tão valorizado. Tivemos que nos adaptar às novas circunstâncias e o abraço foi deixado de lado, sendo substituído pelo toque com os cotovelos ou mãos fechadas que, convenhamos, não se compara aquela gostosa sensação de ternura e de bem-estar-bem que só um abraço pode nos acalentar, uma vez que, como seres humanos que somos, nossas relações são pautadas no contato físico e o abraço faz parte desse universo.

Segundo depoimento do professor de psicologia médica da Pós Graduação em Psiquiatria da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC Rio), Luiz Guilherme Pinto, à Agência Brasil, a situação que o mundo vivenciou por conta do coronavírus, é muito particular pois boa parte da população que ainda está tomando todos os cuidados recomendados pelas autoridades sanitárias “está carecendo de abraços” pois não há como negar que tivemos que  ressignificar as formas de transmitir afeto e manter a distância interpessoal impactou negativamente em diversos aspectos da vida, principalmente no psicológico de cada um de nós!  

Conforme descreve o psicólogo Marcello Santos, do Conselho Regional de Psicologia do Rio de Janeiro (CRP-RJ) ao referido site, o abraço é a poesia do mundo sem palavras. “É aquele momento em que você envolve o outro e o outro te envolve. É o momento em que você acolhe aquilo que o outro está trazendo. Você acolhe o outro incondicionalmente no seu abraço e isso faz com que o sujeito se sinta dentro de um clima de hospitalidade, de cordialidade, de afeto. Como falam em algumas culturas, é o choque de corações”, reforçando que “o abraço requer uma certa intimidade que, às vezes, ocorre naquele momento único, como acontece muitas vezes em jogos de futebol, quando os torcedores se abraçam para comemorar um gol do seu time. Ou no Ano Novo, em que pessoas desconhecidas uma das outras, acabam abraçando alguém para compartilharem as suas alegrias”. Como podemos verificar, há abraços para muitos momentos: aquele que conforta, o que reforça os laços de amizade, o que protege, o que põe fim à saudade, nos dando conta de que, desde que nascemos, aprendemos a usar o abraço para demonstrar afeto, transmitir segurança, cuidados e muito, muito amor.

Diante desses argumentos em que um aconchegante abraço pode aliviar a dor, a depressão, ansiedade, pânico, abandono, entre outros sentimentos que têm, de uns tempos para cá, abalado emocionalmente a população, a demonstração de carinho, qualquer que ela seja, continua sendo extremamente necessário. Segundo muitos psicólogos, deixar de abraçar “presencialmente” não significa que essa ação não possa acontecer, existindo várias formas de abraçá-la virtualmente. Obviamente, todos nós queremos e buscamos um “caloroso” abraço para nos sentirmos compreendidos, protegidos e confortáveis, mas como demonstrar que estamos próximos mesmo distantes fisicamente? 

Caetano Veloso – Um Abraçaço

A canção de Caetano Veloso, “Um Abraçaço”, que foi lançada em 2012, muito antes do isolamento imposto pelo coronavírus, descreve um pouquinho dos novos tempos que vivemos. O universo que vivenciamos atualmente está cada dia mais residindo nas lentes azuis de computadores, smartphones… e os abraços, infelizmente, ficaram escassos, dando vazão às telas que “felizmente” apareceram em  boa hora para nos ajudar a preencher os espaços que a saudade teima em ocupar. Afinal, não é na adversidade que a vida mostra o lado reverso da moeda? Então, quaisquer que sejam os motivos, se não é possível estar sempre por perto dos familiares e amigos queridos para abraçá-los pessoalmente, podemos e devemos sim,  ressignificar e distribuir “abraços” virtuais. Mas de que maneira?

A manutenção dos vínculos e cuidado com as relações pode, por exemplo, ser feita usando as redes sociais e meios tecnológicos como formas de contato e proximidade, ou seja, através de mensagens, ligações e chamadas de vídeo, a qualquer momento do dia, sem motivo específico, só para “matar” a saudade. Outra forma que também nos faz sentir perto de alguém especial é enviando flores e/ou presentes mas, independente das pequenas atitudes, o que importa mesmo é não deixarmos de cultivar os bons sentimentos e as boas energias pois o abraço, mesmo não sendo presencial, pode nos proporcionar coisas boas, como sugere Kathleen Keating, autora do livro “A Terapia do Abraço”, ao descrever alguns tipos de abraços que valem a pena relembrar, tais como:

  • Abraço Amizade : é um tipo de abraço que ajuda a quebrar a timidez, aumentar a auto-estima e melhorar a confiança entre amigos.
  • Abraço de urso: é um tipo de abraço muito usado entre pais e filhos, avós e netos e até para amigos que queiram expressar sua amizade, solidariedade e alegria de estar junto com aquela pessoa. 
  • Abraço imaginário: é um tipo de abraço, literalmente, imaginário e muito eficiente, principalmente quando estamos em situações difíceis onde precisamos de apoio e não temos ninguém por perto.

Desse modo, quando o abraço convencional não é possível e temos que apelar para o abraço imaginário, as 3 dicas básicas da psicóloga Beatriz Ferreira Neves do Hospital Estadual de Ribeirão Preto (HERP) para se “abraçar sem abraçar”, com bastante criatividade e vontade de abraçar, não só no Dia do Abraço mas em todos os outros dias do ano, são: 

  • Se abrace. Cruze seus braços e envolva seus ombros com suave pressão. Feche os olhos e sinta o quanto o seu abraço é bom e confortante… você é capaz de grandes abraços!
  • Abrace seu animal de estimação. Dê um abraço em seu animalzinho de estimação (proporcional ao tamanho do mesmo) e sinta o carinho e a cumplicidade que os envolve… aproveite este sentimento de amizade verdadeira! 
  • Abrace uma almofada com o cheiro da pessoa que você gosta. Coloque numa almofada um perfume que te lembre a pessoa que você ama ou imagine o perfume dela na almofada… e abrace com vontade!

Eu, particularmente, adoro abraçar e como estou ciente que o abraço é um excelente “suplemento”, mesmo distante não deixo de “abraçar sem abraçar”, quase todos os dias, meus adoráveis netinhos Yan, Léo e Lia e as minhas filhas Dani e Paty, não me sentindo solitária ou emocionalmente machucada por não poder (por enquanto) abraçá-los pessoalmente. Aprendi a dominar algumas dicas de abraços virtuais, desenvolvendo uma certa confiança na minha capacidade natural para compartilhar abraços maravilhosos, como podemos nos encantar neste vídeo em que é perceptível mudar paradigmas e sentir um “delicioso” e carinhoso abraço virtual!

Léo com 1 ano e 11 meses abraçando a vovó Bia

Como se vê, até mesmo abraços virtuais podem despertar uma série de emoções, não existindo receitas prontas a serem seguidas e sim, descobertas e redescobertas a serem feitas quantas vezes forem necessárias, pois dentro de cada singularidade, é possível abraçar sem abraçar, de maneira inimaginável há algumas décadas atrás.

Nunca é tarde para investir nos afetos. Bora começar pelos abraços virtuais…

Feliz Dia do Abraço para todos nós!!!

 ~ Bia ~

Mães mais do que especiais…

Fonte: Canguru News

No mês de maio, mais precisamente no segundo domingo do mês, muitos países como Brasil, Itália, Alemanha, Canadá, Estados Unidos, Japão, entre outros, prestam homenagens à figura materna e todos os sentimentos envolvidos na relação entre mães e filhos. Muitas mulheres almejam ser mães e durante a gravidez, a espera de um filho é cercada de muitas expectativas e idealizações. Afinal, qual é a mãe que não deseja que seu filho(a) venha a este mundo perfeito e saudável, não é mesmo? Todavia, ao depararmos com a célebre frase “quando nasce um bebê, nasce também uma mãe”, quando o bebê nasce com alguma necessidade especial, será que esta mãe também se torna especial, adquirindo super poderes e se transformando em uma heroína? Claro que NÃO!

Só quem tem um filho especial sabe que, receber o diagnóstico que ele é portador de alguma necessidade especial, é como dar à luz novamente, é ter outro parto muito mais doloroso, muito mais longo e sofrido, cuja dor, anestesia nenhuma, por mais eficaz e potente que seja, consegue amenizar. Não há obstetra ou equipe médica, por mais qualificados que sejam, que possa tornar este parto mais tranquilo, menos traumático. Talvez seja o “parto” mais difícil de nossas vidas… é o que revela muitas mães à Associação Caminho Azul, uma instituição de caráter filantrópico, que atende crianças e familiares carentes com Transtorno do Espectro Autista. Por quê?

Porque ninguém está preparado para ter um filho especial! Na verdade, talvez até “bate” um receio que isso possa acontecer, mas muito provavelmente, nenhuma mãe, em sã consciência, sonha em ter um filho com necessidades especiais. Basta tomarmos como exemplo o que habitualmente respondemos quando estamos grávidas, a respeito da preferência do sexo do bebê. A resposta é, invariavelmente, a mesma: “Tanto faz, menino ou menina. O importante é que venha com saúde”.

Desse modo, quando nosso filho é diagnosticado como portador de necessidades especiais, jogando por terra todos os nossos sonhos e expectativas, temos a terrível sensação de estarmos à beira de um precipício. Se nos dizem que devemos ser fortes e que devemos acreditar, incentivar e estimular nossos filhos, como fazer tudo isso? E como atenuar a própria dor, os medos e as dúvidas? Fragilizadas e ansiosas, descobrimos, a duras penas, que precisamos lidar com essa situação que nos pertence, da qual desconhecemos por completo. Temos que reaprender a ser mães, na concepção mais abrangente da palavra, de acordo com as novas especificidades de nossos filhos. E, à medida que a “ficha vai caindo”, o grande dilema é: qual é o caminho? Como podemos nos tornar a mãe que nosso filho precisa, capaz de auxiliá-lo em seu desenvolvimento, se nem mesmo sabemos por onde começar? Infelizmente não existem receitas prontas ou fórmulas mágicas!!! 

No entanto, nesta minha longa jornada de mãe “especial”, compreendi que procurar conversar, interagir e trocar informações e experiências com outras mães e famílias de crianças especiais, quaisquer que elas sejam, costuma ser a tábua de salvação para aquele momento em que parecemos naufragar em meio a um mar de dor, desespero, angústia e falta de esperança. Falar abertamente sobre o assunto com familiares e amigos também nos deixa mais “leves”, pois alivia o peso que sentimos. Inegavelmente, a primeira coisa que precisamos entender é que não existe um “caminho certo” nesta jornada. Existem, sim, caminhos diferentes e formas de caminhar diferenciadas, pois cada família tem o seu ritmo e o seu passo nessa caminhada. No momento e na hora adequada, cada mãe encontra a sua forma, o seu jeito e, principalmente, uma grande força interior. Mas o mais importante é enfrentar corajosamente, dia após dia, os obstáculos que certamente estarão sempre presentes neste caminho, pois só assim, é possível conduzir nossos filhos especiais à conquista da sua autonomia e felicidade. 

Para que possamos compreender melhor a nua e crua realidade vivenciada por muitas mães especiais, quero compartilhar esse interessante artigo publicado pelo Instituto Empathiae (organização sem fins lucrativos preocupada com a situação da família, principalmente da figura materna, quando do nascimento de um bebê com deficiência) acerca de um depoimento bastante emocionante da mãe do João Vicente, sobre a solidão das mães especiais.   

É PRECISO UMA ALDEIA INTEIRA PARA EDUCAR UMA CRIANÇA

Esses dias recebi o convite da festa de aniversário de um colega do João. Uma festa do pijama, que começava às 19hs de um dia, para terminar às 10hs do outro. Gelei. Porque já está em mim pensar que para o meu filho os convites e as atividades vão ser sempre diferentes. Demorei para ligar para a outra mãe. Passei do limite da data de confirmação, acredito que em um boicote inconsciente. Dias antes, mandei um recado: “Cris, querida, escuta, acho que o João pode pelo menos ir e eu busco ele mais tarde, para participar, o que tu acha? Dormir não vai rolar, né”. Ao que ela me respondeu: Se tu topar, eu adoraria que ele dormisse.

Fiquei um pouco em choque com a resposta, porque não esperava. Quantas mães estariam dispostas, no lugar dela? Teve desdobramentos dessa conversa, lógico. Eu explicando para ela – e para mim mesma – que de fato não existem muitas complicações, os remédios poderiam ser dados antes, ele come de tudo, dorme tranquilo a noite toda, e é um menino bem despachado, até. Decidimos juntas que tentaríamos.

O João não voltou para casa naquele sábado. Diz que aproveitou muito. Que estava feliz e muito bagunceiro. Diz que comeu cachorro quente, derrubou cabaninhas, rolou para dentro de encontros secretos das meninas, foi o último a dormir, e antes de pegar no sono só fez uma pergunta: “Mama?”, e quando ouviu que no outro dia de manhã eu estaria lá com ele, se aconchegou.

Essa noite me ensinou algumas coisas. Sobre a normalidade do meu próprio filho, sobre como os medos podem barrar importantes experiências, sobre a minha coragem e a coragem do outro, que quando se encontram podem ser tão mais potentes. Sobre ter uma rede disposta, disponível, A FIM de ultrapassar as barreiras do “é mais difícil” para incluir uma criança com afeto. Senti por algumas horas uma mãe normal. Grudada no celular a noite toda revisando se não tinha ligado o modo silencioso sem querer, mas normal.

É PRECISO UMA ALDEIA INTEIRA PARA EDUCAR UMA CRIANÇA, dizem. Até que essa criança tenha necessidades especiais, o que vira o limite desse provérbio africano bonito que tanto se fala hoje. 

Quando se toca nessa maternidade “especial”, nessa maternidade que ninguém quer, ninguém vê, e todos têm medo de falar sobre, a aldeia se desfaz. Eu sempre neguei tudo isso, me “fiz” de desentendida por muito tempo. Até que, no processo de pesquisa sobre inclusão, me peguei em meio a entrevistas e papos chegando sempre perto nesse assunto. Não que não tenha sentido sempre essa solidão, pelo contrário. Acho que a gente sente tanto que se acostuma.

A verdade é que, se para as crianças com necessidades especiais não existe aldeia, isso significa que para as mães ditas especiais não existe rede. Ou existe, pequena e frágil. Mas na maior parte dos casos o que temos são amigos que não sentem vontade de se aproximar, parentes que têm medo e não querem se envolver, tios e dindos que nunca vão levar essa criança para um dia de passeio, mães de colegas que jamais vão chamar para dormir na sua casa. Convites de aniversário que nunca chegam. Avós que dizem não ter mais idade. Pais que estão, mas não muito. Pais que vão embora – e aqui não falo de separação do casal, falo do abandono do filho. A realidade é que olhando profundamente, muitas vezes, a mãe é a aldeia inteira. E vai tentar ser, com toda a sua força, e vai se cobrar pra que dê conta de tantos papéis, e vai falhar, invariavelmente. Ela não tem nenhuma chance. 

Então vocês me perguntam: por onde posso começar a inclusão?

Sabe aquela amiga com o filho que tem paralisia cerebral? Liga pra ela hoje e pergunta como ela está, com disponibilidade para escutar. Sabe aquela vizinha que tem um filho com Síndrome de Down? Puxa um papo a mais no elevador, convida eles pra virem tomar um chá e brincar. Ou aquela mãe de um coleguinha do seu filho que tem uma síndrome rara que você nem sabe o que é? Perde o medo, pergunta o que quiser perguntar sobre, olha nos olhos dela, e convida para o próximo parquinho. Chama para o aniversário. Arrisca pegar essa criança no colo. Tenta olhar com alguma normalidade. Não leva tão a sério – as vezes não é tão ruim assim, na maioria das vezes é só diferente. Chama pra dormir na tua casa – no máximo vai rolar uma ligação na madrugada e do outro lado vai estar uma mãe pronta para ir buscar (não é assim com todas as crianças?). Tenta passar um pouco do teu limite. Vai descobrir que ele é só medo. Existe vida depois do medo.

Crianças com necessidades especiais também necessitam de uma aldeia, como o seu filho. E como você, mães “especiais” também precisam de uma rede. E estão tão escaldadas da falta dela, que já nem perdem tempo esperando, pedindo, buscando. Nós assumimos a postura de fortaleza, fechada, para evitar frustrações. Nós damos conta. E erramos nisso, de certa forma. Mas é o jeito de proteger nossos filhos de um mundo quase sempre não receptivo.

Então hoje meu convite para vocês como um exercício de inclusão é
SEJAM A REDE
SEJAM A ALDEIA
Escolham uma pessoa nos próximos dias, e deem um passo pra isso. Às vezes parece “forçar a barra” um pouco, e talvez até seja. Mas funciona. Tenho amizades incríveis com gente que “forçou a barra” comigo.

Precisamos ultrapassar obstáculos óbvios, urgentemente.
Precisamos fazer isso por desejo.

É difícil admitir, mas queremos e precisamos de uma aldeia para nossos filhos. E por mais que tudo sempre seja diferente para a gente, algumas coisas podiam ser mais iguais. E depende de tão pouco. Depende – também – de vocês.

(ÓBVIO que devem haver exceções para tudo isso que escrevi, crianças especiais com uma aldeia grande e linda ao redor, e fico imensamente feliz de acreditar nisso, mas está bem longe de ser a maioria, ou pelo menos um número equilibrado. A verdade é que 80% das mães que já conversei se sentem nesse lugar sem rede. Sem aldeia. Como a gente inverte isso?) Texto de Lau Patrón, mãe do João Vicente, da página Avante Leãozinho. 

Maravilhoso esse olhar sincero e profundo de Lau Patrón, vocês não concordam? Provavelmente, muitas mães especiais se identificam com todos esses relatos que ela expõe tão abertamente, sentindo-se muitas vezes sozinhas, abandonadas, sem esperança e com o coração fechado num luto sem fim. No entanto, será que muitas de nós, “mães especiais”, diante da dor e do sofrimento, não estamos nos fechando em uma concha de medos e desconfianças, por conta das dificuldades que acreditamos existir (e elas existem), construindo imensos muros para proteger, não só nossos filhos mas a nós mesmas contra o preconceito e a exclusão social?

A verdade é que, para o bem dos nossos filhos, precisamos ter coragem para nos “desarmar” e “forçar a barra”, “dar a cara a tapa” e pedir ajuda, pois uma rede e uma aldeia são essenciais, não só para nossos filhos mas também para nós mesmas. A inclusão é, sem dúvida, uma luta árdua sem tempo definido, mas quando abrimos o coração, podemos nos surpreender com a disposição, boa vontade e o carinho que podem ser revelados pelo outro após o NOSSO primeiro passo.
 

Afinal, modéstia à parte, nós, mães de filhos especiais, somos mais que normais, somos super-mães, não no sentido heróico, mas porque temos o poder de resignação e de entrega muito maior que muitas mães de filhos ditos “normais”, conscientes de que a maior deficiência humana é a espiritual, que traz a insensatez de uma sociedade que nem sempre percebe que a inclusão só acontece quando se aprende com as diferenças e não com as igualdades. Diante de tantos desafios, não temos como negar que há, sim, momentos em que ser mãe “especial” é extremamente difícil, pois uma solidão massacrante e impiedosa muitas vezes nos domina, dando a impressão que  estamos nadando contra a correnteza. Porém, como nosso maior anseio é que nossos filhos sejam respeitados e se sintam acolhidos, Lau Patrón nos leva à reflexão de um viés da inclusão que raramente é levada em consideração: a da mãe que precisa ser encorajada a ver seu filho com um olhar especial, atenta às suas reais necessidades em distintas fases da sua vida e da sociedade que precisa olhar os portadores de necessidades especiais com mais empatia e menos preconceito. 

Deste modo, cabe primeiramente a nós, mães especiais, “quebrarmos” as barreiras do medo, a DESARMAR E AMAR, sem rótulos e sem regras. Podemos e devemos ampliar a rede e a aldeia de nossos filhos, sendo imprescindível respeitar suas diferenças e limitações pois, acima de tudo, ser mãe especial é, segundo Bruna Saldanha, ser mais, fazer mais, querer mais… tudo que tem que ser potencializado para obtermos resultados gratificantes com nossos filhos, independente do que ele tenha e nem se tem cura ou não, pois o que importa é AGIR e ACREDITAR naquilo que está sendo feito. É a escola da vida nos ensinando a sermos fortes e resilientes todos os dias. Ou seja, ser mãe especial é não desistir, é lutar, é persistir e aceitar o nosso maior presente: um filho que vai estar sempre dependendo de nós e que veio para nós porque, certamente, Deus sabe que vamos dar conta do recado!!!

Nesta data tão especial, Feliz Dia das Mães para todas nós, mães guerreiras, pois aos olhos de nossos filhos, sejam eles especiais ou não, somos mães mais do especiais, não é mesmo Daniele e Patrícia?

~ Bia ~

No mês de maio, a vida tem o seu esplendor

Fonte: Fujiyama

“Azul do céu brilhou / Mês de maio enfim chegou / Olhos vão se abrir pra tanta cor / É mês de maio, a vida tem o seu esplendor”. Assim começa a música “Mês de Maio” do nosso querido cantor Almir Sater e assim começo o post do mês de maio, recheado de várias datas muito muito especiais.

Como deu para perceber, estou bem “atrasadinha” pois hoje é dia 11, já estamos quase na metade do mês e só postei um assunto no final do mês de abril, falando do Dia dos Meninos que foi comemorado no dia 5. Fiquei sem postar na semana passada pois foi o feriado de Golden Week no Japão e aproveitamos para passear nos arredores do Monte Fuji, a montanha “sagrada” da terra do sol nascente. 

No post anterior comentei que a comemoração alusiva ao Dia das Crianças (Kodomo no Hi) faz parte do calendário do Golden Week, mas para que se possa compreender melhor acerca deste feriado, vou falar um pouquinho mais a respeito.

A Golden Week (Semana Dourada) é a junção de 4 feriados nacionais no Japão, comemorados bem próximos uns dos outros no final de abril e início de maio. Estes feriados levam a um período de descanso excepcionalmente longo, considerado o período de férias por excelência para os japoneses, sendo que muitos deles solicitam folgas de trabalho remuneradas (yukyu) para prolongar suas férias e aproveitar alguns dias a mais para “curtir” um merecido descanso.

Embora o início do feriado seja, oficialmente, no dia 29 de abril indo até o dia 5 de maio de cada ano, as festividades geralmente têm início 1 a 2 dias antes e continuam alguns dias depois, especialmente quando os dias de folga caem em um fim de semana prolongado, como ocorreu neste ano, pois o feriado teve início no dia 29 de abril (sábado) e estendeu-se até o dia 7 de maio (domingo). 

Dentre os eventos comemorativos no Golden Week temos:

  • 29 de Abril – Showa no Hi (Dia de Showa) é o aniversário do último imperador Showa, Hirohito, que governou o destino do Japão durante a Segunda Guerra Mundial.
  • 3 de Maio – Kenpo Kinenbi (Dia da Constituição) é o dia em que se comemora a ratificação da constituição japonesa de 1947.
  • 4 de Maio – Midori no Hi  (Dia do Verde) é o Dia do Meio Ambiente, cuja data era comemorada no mesmo dia do aniversário do imperador Showa, sendo posteriormente alterada para o dia 4, devido à lei que estabelece que o dia que cai entre dois feriados nacionais também deve ser feriado.
  • 5 de Maio  – Kodomo no Hi (Dia das Crianças), também chamado de Tango no Sekku (Dia dos Meninos) homenageia principalmente os meninos. 

Diante de todos esses eventos que permeiam o agradável clima primaveril, é certamente uma das datas favoritas para viajar, não só pelo país, mas para o exterior, visitar os familiares ou apenas descansar. Aproveitando o embalo, fomos passear em alguns pontos turísticos das províncias de Shizuoka e Yamanashi.

Fonte: Gurunavi

A primeira parada foi em Fujinomiya (Shizuoka) para conhecermos as famosas Cataratas de Shiraito, cujas águas cristalinas provêm das nascentes do Monte Fuji. Com 150m de comprimento e 20 m de altura, foi nomeada uma das “100 melhores cachoeiras” pelo Ministério do Meio Ambiente do Japão e realmente impressiona pela sua beleza ímpar. Como o cenário muda de acordo com a estação, é um dos lugares que pretendo voltar no outono para apreciar o belíssimo espetáculo das folhas amarelo avermelhadas contrastando com os delicados filamentos das águas com formatos de fios de seda, que emanam das sólidas paredes de lava do Monte Fuji.

Fonte: Tabi

À caminho de Yamanashi, na região dos Cinco Lagos Fuji (Fujigoko) que fica na base norte do Monte Fuji, a montanha nem sempre é visível por causa das nuvens, mas tivemos uma sorte incrível pois fomos agraciados, literalmente, com um maravilhoso “céu de brigadeiro” que permitiu contemplarmos, sob diferentes ângulos, através dos passeios nos lagos Kawaguchiko, Saiko, Yamanakako, Shojiko e Motosuko, a imponente montanha de 3.776 metros diante de nossos olhos.   

Fonte: BBQ HACK

Fujigoko é conhecida como uma área de resort, onde caminhadas, camping e esportes no lago estão entre as atividades populares ao ar livre mais apreciadas pelos japoneses. 

Fonte: Coisas do Japão

Há também muitas fontes termais e museus na área, junto com o Fuji Q Highland, um dos parques de diversões mais populares do Japão, com montanhas-russas de deixar qualquer um de “cabelo arrepiado”. Ao contrário das minhas filhas que adoram esse tipo de entretenimento, prefiro ficar horas a fio apreciando indescritíveis paisagens naturais.

Dentre uma lista enorme de atrações turísticas ao redor dos cinco lagos, a parada obrigatória para fotógrafos e amantes de belíssimas paisagens, sem dúvida, o Arakurayama Sengen Park, o principal ponto turístico da cidade de Fujiyoshida, de onde é possível se encantar com uma das mais exuberantes vistas do Monte Fuji.

Fonte: Yamanashi

Outro passeio imperdível nessa época do ano é o Fuji Shibazakura Festival, onde um gigantesco “carpete” de flores shibazakura (musgo rosa ou musgo flox em inglês), em diferentes tons de rosa, cobre uma vasta área no pé do Monte Fuji. O local do festival, conhecido por Fuji Motosuko Resort, está localizado a cerca de três quilômetros ao sul do Lago Motosuko e durante o festival, que é realizado em meados de abril até o final de maio, os visitantes têm a oportunidade única de apreciar cerca de 800.000 pés de shibazakura floridos, cujo impressionante cenário seria digno de ser, até mesmo, pintado ao ar livre pelo renomado pintor francês Claude Monet, que ficaria encantado em retratar o primoroso campo de shibazakura, com o Monte Fuji ao fundo, em dias ensolarados. Um deleite para os olhos!!!

Fonte: Tenki

Outro cenário que também deixaria Monet de “queixo caído”, considerado um lugar sagrado e fonte de inspiração artística, é Miho no Matsubara, localizada na província de Shizuoka. Com cerca de 54 mil pinheiros negros alinhados à beira mar, numa extensão de aproximadamente 6 km, o local também é um dos três bosques de pinheiros mais famosos do Japão (Nihon Sandai Matsubara). Por causa da sua beleza cênica, tendo como pano de fundo o magnífico Monte Fuji, exibido em várias obras de arte, foi também escolhido como um dos três locais cênicos mais famosos do Japão (Nihon Shin Sankei). A paisagem, de tirar o fôlego, que vem conquistando o coração dos japoneses há decadas, é um tesouro nacional que vale a pena conhecer, sendo tombado como Patrimônio da Humanidade desde 2013. Como o Milton é apaixonado por pinheiros, ficou em êxtase diante deste fascinante espetáculo a céu aberto!!!

Fonte: Hamamatsu.com

Por fim, de volta para casa, passamos em Hamamatsu, ainda na província de Shizuoka, para visitarmos o Parque das Flores que é um belíssimo jardim botânico à beira do Lago Hamana, com mais de 3.000 espécies de plantas espalhadas em uma vasta área de aproximadamente 30.000 metros quadrados. Com variadas espécies de flores que possuem épocas distintas de florescimento, no final de março até o início de abril, cerca de 1.300 cerejeiras e 500 mil tulipas se harmonizam no meio de uma bela paisagem. Durante o mês de abril as azaleias esbanjam sua formosura, seguidas da glicínia que começam a florescer no final de abril e início de maio. As delicadas rosas começam a exalar suas fragrâncias em maio e em junho é a vez das hortênsias ostentarem sua inegável beleza. Como o nosso objetivo era apreciar as glicínias, não poderíamos deixar de “bater o cartão de ponto” neste parque para ver de perto essas lindas flores que são um colírio para nossos olhos. No ano passado, fomos no Ashikaga Flower Park, mas desta vez, optamos por vê-las em Hamamatsu e estavam tão lindas quanto às glicínias de Ashikaga. Além das glicínias, o perfumado Rose Garden, com mais de 1.000 rosas de 270 variedades plantadas em um terreno de 3.000 metros quadrados, foi um espetáculo à parte.  

Fonte: Hamamatsu.com

E assim, em contato com a natureza e “desfrutando” lugares incrivelmente pitorescos, renovamos nossas energias no “Golden Week”. Sem sombra de dúvida, para quem mora no Japão, no mês de maio, no auge da multicolorida primavera, a vida tem o seu esplendor!!!

~ Bia ~