
Na minha infância, sem saber que girassol é uma flor, a primeira vez que ouvi essa palavra foi por causa do filme Os Girassóis da Rússia, dirigido por Vittorio de Sica, em 1970. Ao assistir o filme (um dos primeiros que assisti), fiquei encantada com a atuação da dupla Sophia Loren e Marcello Mastroianni neste clássico romântico que narra a história de um casal italiano separado pela Segunda Guerra e que, após anos sem notícias, ela viaja para a Rússia a procura do marido, atravessando cidades e campos de girassóis.
Foi nesse exato momento do filme que descobri que girassóis eram aquelas exuberantes flores amarelas e me recordo que fiquei fascinada com a fotografia do grande Giuseppe Rotunno retratando tão lindas imagens desta flor que passou a ser uma das minhas preferidas, dentre as inúmeras das quais sou apaixonada.
Essa flor que foi o destaque do belíssimo cenário do filme na Rússia e que eu achava que era uma flor típica daquele país é, na realidade, uma planta originária da América do Norte. Conhecida como “flor do sol” por ser heliotrópica, ela gira o caule posicionando a flor em direção ao sol para crescer e florescer. Todas as manhãs o girassol busca o sol e mesmo em dias nublados, apesar da dificuldade, persiste em girar em direção à luminosidade.
Por simbolizar a felicidade e por conta da sua cor vibrante (amarela e tons de laranja das pétalas), refletindo a energia positiva que emana do sol, o girassol foi escolhido, em 2019, como símbolo da Campanha “Na Direção da Vida – Depressão sem Tabu”.
Essa campanha, promovida pela Associação Brasileira de Familiares, Amigos e Portadores de Transtornos Afetivos (ABRATA), pelo Centro de Valorização da Vida (CVV) e pela Upjohn (empresa farmacêutica), tem por finalidade incentivar as pessoas a discutirem sobre a depressão e a prevenção do suicídio. Na página https://www.depressaosemtabu é possível encontrar diversas informações sobre a depressão, como ela se relaciona com os casos de suicídio e sinais para os quais devemos ficar atentos.
De acordo com o Instituto Cactus, uma em cada cinco mulheres apresentam Transtornos Mentais Comuns (TMC) no Brasil, sendo que a taxa de depressão é, em média, mais do que o dobro da taxa de homens. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), ser mulher perpassa papéis, comportamentos, atividades e oportunidades que determinam o que se pode experimentar ao longo da vida e, portanto, estabelece vivências estruturalmente diferentes daquelas experimentadas pelos homens.
A instituição também aponta que a incidência é ainda maior em mulheres com alta sobrecarga doméstica, acometendo 1 a cada 2 mulheres. A baixa qualidade do emprego que atinge diversas mulheres, com predomínio da informalidade, pode gerar temor e ansiedade, cenário que pode piorar quando somado ao trabalho em casa, onde as mulheres têm de administrar o trabalho remunerado e tarefas domésticas. Além disso, padrões irregulares de carreira, tempo fora do mercado de trabalho para cuidar dos filhos e para o trabalho de casa, licença maternidade, doenças físicas e questões de saúde mental podem afetar a percepção sobre a disponibilidade e comprometimento da mulher, sobre a qual se baseiam muitas contratações, levando à discriminação e exclusão do mercado de trabalho.
Fiquei impressionada com essas informações porque eu acredito que nós, mulheres, em algumas fases de nossas vidas passamos por circunstâncias extremamente complicadas e temos consciência do quanto isto afeta as relações interpessoais e a produtividade no trabalho, causando-nos enormes sofrimentos. A vida, como sabemos, é cheia de encantos, mas também tem seus desencantos. Eu, particularmente, já passei por vários transtornos emocionais e por compreender como é fundamental preservar a saúde mental, procurando manter um porte ereto e imponente como o girassol, que busca incansavelmente a luz solar, considero importante compartilhar campanhas que tem por objetivo levar informações e mensagens positivas porque, sem dúvida alguma, conforme o lema deste ano da Campanha Setembro Amarelo, “a vida é a melhor escolha“.
~ Bia ~