Dia do professor “especial”

O “Dia do Professor” é comemorado no Brasil em 15 de outubro, sendo que esta data faz referência ao Imperador Dom Pedro I, que no dia 15 de outubro de 1827 criou no país uma Lei Imperial sobre o Ensino Elementar no Brasil – conhecida como Escola de Primeiras Letras. No mesmo mês, no dia 5, é celebrado o “Dia Mundial do Professor”, sendo que esta data foi criada em 1994 pela UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), com o objetivo de ressaltar a importância e o papel fundamental dos professores na sociedade.

Para mim é uma data muito especial porque, especificamente neste dia, todos nós que já fomos (ou somos) alunos, temos a oportunidade de expressar nossa sincera gratidão por todos os mestres que um dia foram (ou são) os educadores de nossas vidas. Eu, particularmente, tive excelentes professores que foram essenciais à minha formação acadêmica e na construção da ética, de forma que a consolidação desta base de conhecimento possibilitou que eu adquirisse experiências de vida, além do âmbito intelectual. Meu eterno carinho para todos eles!

Mas… sendo hoje a data oficialmente criada para homenagear, com mérito, esses profissionais que dedicam suas vidas à transmissão do conhecimento e ao desenvolvimento da educação de todos os povos do mundo, vou homenagear especialmente os professores de crianças com necessidades educacionais especiais, cujas crianças demandam recursos e serviços educacionais diferenciados. Estou ciente de que o dia 22 de agosto é o dia do educador especial, mas quero me dirigir ao educador que, na qualidade de atuar profissionalmente como professor, tem a nobre missão de fazer a diferença na vida dessas crianças. 

Para começar, é preciso “tirar o chapéu” e dizer como é fantástico o “show” desses professores que tomam para si a responsabilidade de direcionar o processo pedagógico, desenvolvendo caminhos “especiais” para que esses alunos adquiram o conhecimento. Além de estarem constantemente auxiliando para que eles avancem tanto intelectual quanto socialmente, de forma que possam superar as expectativas e as barreiras que lhe são impostas, esses heróicos professores excluem a visão de incapacidade, compreendendo que os erros desses alunos podem ser considerados como um aspecto relevante para a aprendizagem e não como um fracasso. Desse modo, eles enxergam em cada criança o potencial que ela tem, promovendo constantemente atividades que valorizam o respeito às diferenças e às inteligências múltiplas.

Por conseguinte, mesmo com toda a disposição para se “doarem” nessa árdua missão, é comum vê-los enfrentando desafios como a falta de recursos materiais, infraestrutura insuficiente, superlotação das salas de aulas, entre outros. Ao longo do processo pedagógico, os professores também se deparam com diversas dificuldades e na intensa busca por soluções e estratégias para entender as necessidades de cada criança, estão sempre se especializando, pois sabem o quanto a qualificação profissional é importante para a efetiva inclusão delas na sociedade.

Acredito ser esse o real panorama que reflete o esforço e a dedicação da maioria dos professores de crianças com deficiência que, com muita mas muita paciência e uma dose infindável de amor, enfrentam “mundos e fundos” para oferecer uma educação adequada às diferenças e às necessidades de cada criança, criando novos caminhos e recursos para que todas possam conquistar um” lugar ao sol”. 

Esse envolvimento psicopedagógico, os desafios e as dificuldades enfrentadas pelos professores que acabei de descrever, baseiam-se fundamentalmente na minha convivência com os professores do Colégio Bilíngue para Surdos de Maringá (Anpacin) onde a Dani cursou do Ensino Fundamental até o Ensino Médio. É impossível falar sobre a relevância de um único professor, pois todos, sem exceção, tiveram um papel marcante não só na vida da Dani, mas de todas as crianças surdas da escola.

Cada qual à sua maneira, mas com pensamento uníssono em abrir a mente das crianças surdas para que buscassem conhecimento, era impressionante ver a garra e a determinação com que esses professores se dedicavam à arte de ensinar, encorajando-os a conquistarem seus sonhos  através do saber. 

Assim, neste dia especialmente dedicado a todos os professores do Brasil, minha honrosa homenagem é para esses “amadores” de pessoas que, com presteza e comprometimento, mesmo deparando diariamente com situações tão complexas e adversas, olham seus alunos com os olhos da alma, conscientes de que ensinar é, sobretudo, um ato de AMOR!!! 

Com toda certeza causaram enorme impacto na vida dessas crianças, sendo que algumas se inspiraram nesses professores para também se tornarem professores. É o caso da Dani e de alguns amigos surdos que são, atualmente, professores de Libras. Por ironia do destino, agora esses adultos surdos têm a oportunidade de ensinar a sua língua natural, não só para crianças surdas mas para adultos ouvintes que têm interesse em aprender a língua de sinais. Estendo para vocês também a minha homenagem, pois motivados por esses professores, quebraram o estigma da incapacidade e foram em busca de uma jornada de aprendizado e crescimento pessoal.

E simmm… vocês merecem todos os aplausos do mundo pois a empatia, a coragem e o entusiasmo com que compartilham valores e promovem a autoestima de cada uma dessas crianças “especiais”, só podem vir do orgulho que sentem pela profissão. PARABÉNS!!!

Há quem diga que a Vida ensina, mas eu prefiro dizer que Deus coloca pessoas em nossas vidas, professores especiais, que tem como missão nos ensinar que a Vida pode ser melhor vivida se for com sabedoria, compaixão e respeito ao próximo e a nós mesmos. (Desconhecido)  

~ Bia ~

Filhos surdos de pais ouvintes

Ainda durante a gravidez, os pais costumam ter muitas expectativas e sonhos a respeito do seu filho. Mas quando algo inesperado acontece, é preciso reorganizar as emoções e pensamentos, para que se possa oferecer à criança um ambiente adequado para o seu pleno desenvolvimento. A criança surda, quando nasce numa família ouvinte, já desafia seus pais a aprenderem outras formas de comunicação que se tornam necessárias para que haja um verdadeiro vínculo entre eles.

Vocês sabiam que cerca de 95% dos pais que têm filhos surdos são ouvintes?  

É natural que estes pais não se encontrem mais preparados para enfrentar esta situação do que aqueles que têm filhos ditos normais. Infelizmente, a sociedade costuma cobrar conhecimentos e comportamentos muito além do que eles podem apresentar quando se deparam com a dor da perda do filho que era esperado. 

Desse modo, é perceptível o sentimento de autopiedade, onde aparecem a decepção e a frustração, sendo que muitas mães sentem-se culpadas pela deficiência da criança, achando que não se cuidaram durante a gravidez. É possível aparecer a vergonha, pois o desejo dos pais quando geram um filho é que seja sua extensão e quando isso não acontece, muitas vezes se distanciam de outras pessoas. 

Como o desconhecido gera o sentimento de medo, supõe-se que não haverá escolas acessíveis para o filho e que poderá ser rejeitado pela sociedade. Outro sentimento que pode acompanhar o medo é a incerteza do futuro da criança e deles próprios. Pode ocorrer, também, um período de depressão, onde se instaura um grande vazio por causa da profundidade da dor emocional. 

Alguns pais poderão sufocar essa dor demonstrando alegria, na tentativa de mostrar para a família e amigos que a vida seguirá normalmente. No entanto, na maioria das vezes, é um comportamento para esconder o real sentimento que estão sentindo naquele momento. Sobre estes sentimentos que permeiam, não somente pais ouvintes de filhos surdos mas pais de filhos de quaisquer outras deficiências, o especialista em Educação Especial, Leo Buscaglia, considera que é importante que os pais se conscientizem de que esses sentimentos são naturais, e de forma alguma, são considerados anormais. 

No entanto, esses sentimentos tendem a impulsionar um grande conflito que é a busca de soluções para o problema que mais os angustia: a dificuldade de se comunicar com seu filho que não ouve e não fala. Enquanto alguns pais procrastinam procurando soluções, os primeiros anos de vida da criança passam rapidamente, em detrimento de uma educação que deveria estar sendo realizada desde o momento do diagnóstico da surdez.

Todavia, muitos pais aceitam e acolhem seus filhos no menor espaço de tempo possível, buscando solucionar as dificuldades que terão que enfrentar no decorrer da caminhada, seja na inclusão de seus filhos em escolas regulares ou até mesmo no convívio com familiares e amigos. Essa conscientização possibilita maior compreensão acerca de diferentes formas de comunicação que, no caso da criança com deficiência auditiva, pode perpassar pelo aprendizado da Língua Brasileira de Sinais (Libras) e pelo entendimento da cultura e identidade surda. 

Dessa forma, é preciso enfatizar que a falta de comunicação vivenciada pelos familiares, é o principal obstáculo no relacionamento entre filhos surdos e pais ouvintes, sendo que a dificuldade de comunicação pode resultar em problemas emocionais e afetivos. Assim, não sendo possível essa comunicação, a criança surda precisa ser educada de maneira diferente e para isso é extremamente importante que a família, em especial os pais, se adaptem às condições linguísticas de seu filho surdo. 

Segundo Bruno Rege Lopes e Monica Maria dos Santos, autores do artigo Filhos surdos, pais ouvintes: contribuição da família para a aprendizagem da língua portuguesa, “é necessário que Escola e Família deem as mãos em apoio mútuo nesta missão, que apesar de complexa, não é impossível”. Eles orientam que é fundamental que os pais ouvintes que têm filhos surdos, busquem todas as possibilidades de intervenção que julgarem necessárias, mas de maneira alguma, negligenciam a importância de permitir o acesso do filho à cultura surda. 

Os autores também destacam que para que haja reciprocidade no processo de educação deste filho, é mais do que necessário que os pais aprendam a língua de sinais, pois é bem provável que a mesma frustração que os pais têm de seu filho não falar, os filhos surdos compartilham em relação aos pais que não desejam se comunicar em língua de sinais com eles. 

Por conseguinte, é notório destacar que, caso a criança surda não tenha a oportunidade de apropriação da língua de sinais no tempo adequado, poderá interferir, negativamente, em seu desenvolvimento linguístico e educacional. Embora o papel da família seja estabelecido em documentos legais e de orientações específicas do Ministério da Educação e da Secretaria de Educação Especial, esclarecendo a importância da aprendizagem desta língua pelos familiares, pouca ação tem sido dirigida para esse fim, nas escolas brasileiras. Para refletir, temos esta mensagem:

Mais de 90% das crianças surdas que possuem pais ouvintes não conhecem a língua de sinais (Eleweke; Roda, 2000, apud Santos, 2009, p. 22). É um dado preocupante, pois essas crianças normalmente não têm exposição a uma língua efetiva na infância e, em decorrência dessa carência, surgem inúmeros problemas socioeducativos e psicocognitivos ao longo de sua vida. Em muitos casos, os pais não querem que seus filhos aprendam a sinalizar pela falsa ideia de que, se aprenderem a língua de sinais, não serão capazes de adquirir a fala (Emmorey, 2002; Goldin-Meadow, 2003; Mayberry; Eichen, 1991).

Como podemos ver, nem tudo que reluz é ouro, ou seja, nem tudo o que a gente acredita que é, é verdade!!! Digo isso porque, como falei no post anterior, a Dani começou a usar a prótese auditiva com 2 anos e quando estava com 8 anos, com a fala razoavelmente desenvolvida, ao querer aprender a língua de sinais, nós a respeitamos por ser a sua língua natural. Ela diz que passou a compreender melhor a língua portuguesa após o conhecimento da Libras. Apesar de fazer parte da escala mais alta da perda auditiva, que é a surdez profunda, ela é surda oralizada e por ser fluente em Libras, além do português, conseguiu aprender inglês, espanhol e o básico da língua japonesa.

~ Bia ~

Resultado da audiometria: Seu filho é surdo(a)

Fonte: Amim

É impressionante o paradigma entre pais ouvintes que têm filhos surdos e pais surdos que têm filhos surdos ao receberem o diagnóstico que o filho é, conforme a lei de inclusão, pessoa com deficiência auditiva. Para pais surdos é natural, sentem-se plenamente felizes e é vida que segue. Qualquer que seja o grau da perda auditiva, o filho é surdo e pronto! A criança vai aprender a língua de sinais tão igual uma criança ouvinte vai adquirir a fala para se comunicar com seus pais.

No entanto, para nós, pais ouvintes que não têm a menor noção do que é ter um filho surdo, ao nos depararmos com o resultado da audiometria, diagnosticando que nosso filho tem algum grau de surdez, ficamos completamente perplexos diante desta nova situação. Pelo menos foi como eu me senti quando soube que a Dani era surda.

Não gosto de recordar, pois aquele tinha sido, até então, o dia mais triste da minha vida. Mas… voltando ao passado para falar sobre o assunto, lembro que fui inesperadamente informada pelo otorrinolaringologista, sem qualquer preparo psicológico, que a Dani tinha surdez bilateral congênita profunda, ou seja, que havia nascido praticamente surda. Ao ser “pega” de surpresa, pois eu suspeitava que tivesse apenas uma leve perda auditiva, tive a terrível sensação de que o chão estava se abrindo sob meus pés. Na saída do consultório, na tentativa de me manter em pé, pensei: antes surda do que cega! Hoje sei que tanto a deficiência auditiva como a visual tem suas particularidades e que a comparação nem tinha cabimento, mas no desespero de querer me agarrar a uma situação que se apresentasse mais caótica, naquele momento, foi o primeiro pensamento que passou pela minha cabeça.

De acordo com Teresa Ruas, especialista em desenvolvimento infantil e mestre em Educação Especial, toda família passa por um período de “luto” diante de um evento estressor, como a descoberta de uma deficiência no filho. Ela explica que “nesse momento, os mais difíceis sentimentos e sensações poderão entrar em ação até que esse luto possa dar lugar a outros sentimentos como o otimismo, a esperança, a fé, o carinho e o amor acima de qualquer coisa e, assim, aos poucos, sendo possível reconhecer, amar e aceitar qualquer condição que o filho apresenta”. Segundo a psicóloga Larissa Vendrusculo, a descoberta de uma deficiência que traz uma ideia de morte, na maioria dos casos não é real, mas simbólica: morte dos planos, sonhos e projetos que se tinha para essa criança”. 

Naquela época não tinha internet e eu não conhecia ninguém que tivesse um filho surdo. Desse modo, não tinha referências de como seria o futuro da Dani e, por falta de informações mais concretas, tive medo e fiquei realmente insegura de como deveria encarar a vida a partir daquele momento (período de luto, como acima descrito). Após passar alguns dias me sentindo a pior criatura da face da Terra, como não adiantava chorar pelo leite derramado, tive que me recompor e buscar soluções.

Qual é a primeira atitude a ser tomada diante deste diagnóstico? Apesar do médico nos alertar que, mesmo com aparelho auditivo, a probabilidade de ouvir era inferior a 2%, decidimos reter no aproveitamento dos restos auditivos e realizar a avaliação audiológica completa, de forma que ela passou, então, por um período de teste e adaptação das próteses auditivas. Na ocasião, a Dani tinha acabado de completar 2 anos e felizmente, à medida que foi se adaptando com esse dispositivo eletrônico, assistida por uma fonoaudióloga e recebendo estímulos pedagógicos em casa, começou a balbuciar as primeiras palavrinhas.

Parei de trabalhar e uma nova etapa de aprendizagem e descobertas passaram a fazer parte do meu dia a dia. Simmmm, depois da tempestade vem a bonança!!!  Quem tem um filho “especial” consegue “degustar” a felicidade, pois quando um pequeno desafio é conquistado, é como chegar ao topo de uma montanha e contemplar uma belíssima paisagem. 

Sabemos, de antemão, que não é tarefa fácil criar um filho, seja ele deficiente ou não. Encaramos dilemas e preocupações mas, também, sentimos muitas alegrias que compensam tudo isso. E como é emocionante ver o sorriso de um bebê, não é mesmo? Se já nos encantamos com essa cena tão comovente, imagine o quanto é prazeroso para nós, pais de crianças com deficiência, acompanharmos cada avanço de nossos filhos. É ser agraciado todos os dias com momentos de muitas e muitas alegrias.

Sempre digo para a Dani que ela é um presente de Deus porque através da sua perseverança, me ensinou a ser resiliente, me levando a crer que “tudo vale a pena quando a alma não é pequena”, como declama Fernando Pessoa.

Nesse sentido, concordo com o escritor Augusto Cury quando diz que “ser feliz é reconhecer que vale a pena viver, apesar de todos os desafios, incompreensões e períodos de crise. Ser feliz é deixar de ser vítima dos problemas e se tornar um autor da própria história.”

Afinal, filosoficamente falando, “aquele que nunca viu a tristeza, nunca reconhecerá a alegria.” (Khalil Gibran)

~ Bia ~