Outono é… outono no Japão!!!

Fonte: WeXpats Guide

Ué? Como assim? Outono não é outono em outros países? Claro que sim, mas como as quatro estações são muito bem delineadas no Japão, ao longo deste post, com certeza, você irá compreender porque o outono é literalmente outono nesse país. Então… vamos lá!

À medida que o calor do verão diminui e o frio do inverno começa a se instalar, as densas florestas começam a se transformar em impressionantes tons de laranja, amarelo e vermelho, propiciando um clima perfeito para caminhadas ao ar livre. Jardins e parques tradicionais exibem as cores de outono, atraindo milhares de visitantes ansiosos para se deleitarem com a mudança das folhagens. É esta combinação de clima frio e paisagens surpreendentes que tornam o outono uma das estações preferidas do povo do sol nascente.

O Equinócio de Outono (Shuubun no Hi) celebrado este ano no dia 23 de setembro, marca a entrada oficial do belo outono japonês, estação em que ocorre o fenômeno chamado “kouyou” (Koyo Gari ou Momiji Gari), quando as folhas das árvores ganham lindas tonalidades vermelho-amareladas, deixando a estação com um visual incrivelmente encantador.

Fenômeno kouyou em Hokkaido | Fonte: Japan Guide

O início da “metamorfose” das folhas ocorre em meados de setembro no norte do país, encerrando a mutação no começo de dezembro nas regiões mais ao sul, sendo que o auge do “kouyou” ocorre em novembro, período em que é possível contemplar a árvore que mais se destaca nesse espetacular cenário que é o “momiji”, também conhecida como bordo em português ou maple tree, em inglês.

Yamanaka-ko | Fonte: Caçadores de Lendas

Ao contrário da temporada da flor da cerejeira (sakura), que é bastante curta, podemos apreciar a beleza das folhas com mais tranquilidade, pois o período das folhas de outono é um pouquinho mais longo, sendo uma das melhores estações para passear nesse país. O clima é mais ameno, as comidas sazonais dominam os cardápios e a natureza oferece esplêndidos cenários de deixar qualquer um de “queixo caído”, ainda mais agora que o Japão acabou de reabrir suas fronteiras para o turismo internacional.

A apreciação dessa estação tem um lugar especial no coração dos japoneses, pois assim como a sakura, o outono também enfatiza a efemeridade, ou seja, que tudo é passageiro e precisamos aproveitá-los no momento certo. Desse modo, é interessante saber que existem duas palavras muito usadas nessa época do ano: kouyou (紅葉), que retrata o processo natural da mudança da cor das folhas verdes para o vermelho e o momiji (紅葉), que se refere às folhas avermelhadas, sendo o símbolo definitivo do outono japonês.

No entanto, não podemos omitir que a cor marcante do amarelo dourado de alguns destes cenários, são realçadas pelas folhas da árvore milenar “icho” (Ginkgo biloba), considerada um fóssil vivo, pois já existia no tempo dos dinossauros, há mais de 200 milhões de anos. Essa árvore, também conhecida como nogueira-do-japão, árvore-avenca ou simplesmente ginkgo, possui delicada beleza aliada à força e resistência, sendo o símbolo de paz e longevidade por ter sobrevivido às explosões atômicas no Japão. O dourado dessas exuberantes folhas podem ser apreciadas, em Tokyo, nas alamedas do Icho Namiki (Avenida de Ginkgo), próxima ao Meiji Jingu Gaien Park, considerada uma das avenidas mais populares durante a estação.

Fonte: Caçadores de Lendas

Esse maravilhoso espetáculo também pode ser vislumbrado, inclusive, ao anoitecer, pois assim como na capital japonesa, em diversas localidades como Nikko em Tochigi, Oirase em Aomori, Kyoto, Kamakura, Osaka, entre outras, recebem iluminação noturna em parques, templos e ruas arborizadas, destacando a coloração outonal das folhagens – um deslumbrante show da natureza enaltecido por luzes artificiais.

Kiyomizu-dera em Kyoto | Fonte: Caçadores de Lendas

Além das folhas, não podemos deixar de destacar as incríveis flores desta estação! Elas esbanjam formosura em parques e jardins por todo o país e são atrações imperdíveis para os amantes da natureza. Uma dessas flores é a cosmos, que pode ser vista em várias cores como rosa, amarelo, branco, laranja, entre outras. Crisântemos, jasmim do imperador (osmanthus), lírios-da-aranha-vermelha e arbusto de fogo (kochia), conforme foto a seguir, também ostentam sua beleza nessa época do ano.

Fonte: Wikimedia Commons

Com relação aos produtos típicos, um dos ingredientes mais usados é a batata-doce que aparece em doces, salgados e em praticamente todos os menus e rótulos de produtos por tempo limitado durante esta estação. Outra comida sazonal muito saborosa é o “sanma” grelhado, um peixe longo e esbelto, sendo tão apreciado no Japão que até recebe seu próprio festival, o Meguro Sanma Festival. Neste evento, que ocorre desde 1996, são distribuídos gratuitamente cerca de 7.000 peixes grelhados.

Fonte: Além do Sushi

Desse modo, o outono também é conhecido por ser uma temporada cheia de comidas deliciosas feitas com ingredientes típicos da estação. Além da batata-doce e do peixe sanma, outras frutas e vegetais sazonais que compõem a culinária japonesa são: cogumelo matsutake, abóbora kabocha, castanha (kuri), pera asiática, caqui, uva e maçã.

Fonte: WeXpats Guide

Com uma história rica em simbolismo, as impressionantes árvores multicoloridas representam o equilíbrio e por estarem associadas à paz e à serenidade têm sido, desde tempos antigos, inspiração para os poetas japoneses. Assim, os japoneses vêm preservando suas tradições e são agraciados com quase três meses de clima favorável a passeios e viagens em cenários de tirar o fôlego, não deixando “passar em branco” o belíssimo espetáculo a céu aberto da estação mais colorida do ano, neste fascinante país que também é, como expressa Caetano Veloso na música dedicada à cidade maravilhosa (Rio de Janeiro), cheia de encantos mil!!! Vale a pena planejar uma viagem nessa época do ano porque o outono é, como você acabou de ver, indescritivelmente outonal no Japão!!!

~ Bia ~

Tia Zélia e o mundo encantado das flores

Quem conhece a história da Alice no País das Maravilhas sabe que ela, curiosa, segue um coelho e bummm, cai numa toca que a transporta para um lugar fantástico, vivenciando “mil e uma” aventuras. Essa é a sensação que tive na minha infância, quando visitava minha tia Zélia. Era abrir o portão de sua casa e deparar com um lindo jardim repleto de flores multicoloridas. Assim como a Alice interage com diversos personagens como o Coelho Branco, o Gato Risonho, o Chapeleiro Maluco, a Rainha de Copas, entre outros, eu adorava “conversar” com as petúnias, gérberas, margaridas, violetas, rosas, hortênsias, gerânios e tantas outras flores que perfumam o jardim em diferentes épocas do ano.   

Com a tia Zélia aprendi a amar as flores e as plantas e até hoje, ela continua cuidando primorosamente do seu jardim, plantando e replantando suas flores prediletas. Lá também tem várias plantas como palmeira cica, diversas suculentas, renda portuguesa, samambaias, avencas e até mesmo trevo de quatro folhas, considerado trevo da sorte por sua raridade: existe apenas 1 em cada 10 mil plantas da espécie. Não tem como não se deslumbrar pois, quando floridos, manacá da serra, agapantos, rosas do deserto e orquídeas ostentam sua formosura.

Nesse jardim, palco de infinitas flores que apresentam seus espetáculos, tive o prazer de conhecer diversas espécies que, assim como os nomes bizarros dos personagens da história da Alice, são popularmente conhecidas como copo de leite, onze horas, boca de leão, rabo de gato, brinco de princesa, amor perfeito, lágrima de cristo, botão de ouro, flor de maio, lírio da paz e tantas outras com nomes realmente pitorescos. 

Desse modo, envolta no mundo encantado das flores da tia Zélia, elas continuam presentes na minha vida e, na impossibilidade de ter, atualmente, um jardim para cultivar as flores e as plantas que tanto amo, um dos meus passeios favoritos é visitar parques repletos de flores pois, além de serem um colírio para meus olhos, muitas delas exalam uma deliciosa fragrância que me proporciona uma enorme sensação de bem estar e relaxamento.

Como sabemos, o amor pelas flores é universal pois elas são a representação máxima de beleza da natureza, em exuberância de formas, cores e perfumes, simbolizando vida, pureza, paz, sucesso, energia, cura, qualidade de vida e muito mais.

No Japão, onde imensa variedade de flores é apreciada, elas estão inseridas no dia a dia das pessoas, sendo que o hábito de cultivá-las e até mesmo de comprá-las, vai além das datas especiais. Intrinsecamente conectadas com a cultura do país, as flores são ricas em simbologia e significados, sendo que a sakura (flor de cerejeira) é, dentre as mais representativas flores da rica flora japonesa, um dos símbolos mais importantes do país.

Flor de cerejeira – Sakura

Graças à sua beleza, cor e efemeridade, está associada à imagem do povo japonês pelo fato delas ficarem pouco tempo floridas (por volta de uma semana) e, assim, representarem a fragilidade da existência humana e a necessidade de se viver o presente de forma mais intensa possível. A sakura também simboliza a renovação, uma vez que a sua floração coincide com o fim do inverno e o início da primavera.

Apesar da sakura estar associada à flor do Japão, o crisântemo é a flor que simboliza a Família Imperial, sendo que uma imagem de 16 pétalas é usada como Selo Imperial do Japão, podendo ser vista, por exemplo, na moeda de 50 yen e na capa do passaporte japonês.

Fonte: Wikipedia

Outra flor muito famosa é a ume (flor da ameixeira), cuja floração ocorre nos gélidos meses de fevereiro e março, atraindo grande número de pessoas aos parques e templos. Essas flores estão associadas à saúde, uma vez que resistem ao inverno e também à nobreza e elegância. A hortênsia é outra flor bastante popular, desabrochando entre junho e julho, que é o período das chuvas no Japão. São facilmente encontradas em parques, jardins e templos e de acordo com as cores, elas têm significados diferentes. A espécie azul tem conotação  negativa, representando a indiferença e a infidelidade, sendo que a espécie rosa está associada ao amor e à jovialidade feminina. 

Para encerrarmos o post de hoje, temos a glicínia que é visualmente uma das mais atrativas da flora japonesa. Sou apaixonada por essa flor originária da China, cuja beleza despertou, ao longo dos anos, o interesse de vários artistas e poetas japoneses que fizeram magníficas obras inspiradas nessa flor. A versão mais conhecida é a lilás que simboliza a gentileza e a paixão. 

Esse ano, mais especificamente no dia das mães, participei do Festival das Glicínias no Ashikaga Flower Park (Tochigi-ken, Japão), e fiquei admirada com a beleza e a imponência de uma elegante trepadeira glicínia de 150 anos. No parque encontram-se, também, mais de 350 glicínias em tons lilás, rosa, roxo, branco e amarelo, formando belos túneis naturais, além de reunir várias outras flores como azaleias, rosas, e petúnias. Um deleite para os olhos!!!

Fonte: Japan Wireless

Foi o parque de flores que mais me impressionou e, certamente, um passeio inesquecível, fazendo-me recordar da minha doce infância, quando eu me sentia a própria Alice, só que ao invés de estar me aventurando no país das maravilhas, eu “explorava” o mundo encantado das flores da tia Zélia. 

“Deixe que a vida faça contigo o que a primavera faz com as flores. Quando eu flor, quando tu flores e ele flor, nós flores seremos e o mundo florescerá. Seja um jardim no qual apenas os bons sentimentos florescem. As mudanças, por mais dolorosas que sejam, às vezes nos fazem florescer.” (Autor Desconhecido)

~ Bia ~

Girassóis que não são da Rússia

Na minha infância, sem saber que girassol é uma flor, a primeira vez que ouvi essa palavra foi por causa do filme Os Girassóis da Rússia, dirigido por Vittorio de Sica, em 1970. Ao assistir o filme (um dos primeiros que assisti), fiquei encantada com a atuação da dupla Sophia Loren e Marcello Mastroianni neste clássico romântico que narra a história de um casal italiano separado pela Segunda Guerra e que, após anos sem notícias, ela viaja para a Rússia a procura do marido, atravessando cidades e campos de girassóis.

Foi nesse exato momento do filme que descobri que girassóis eram aquelas exuberantes flores amarelas e me recordo que fiquei fascinada com a fotografia do grande Giuseppe Rotunno retratando tão lindas imagens desta flor que passou a ser uma das minhas preferidas, dentre as inúmeras das quais sou apaixonada.

Essa flor que foi o destaque do belíssimo cenário do filme na Rússia e que eu achava que era uma flor típica daquele país é, na realidade, uma planta originária da América do Norte. Conhecida como “flor do sol” por ser heliotrópica, ela gira o caule posicionando a flor em direção ao sol para crescer e florescer. Todas as manhãs o girassol busca o sol e mesmo em dias nublados, apesar da dificuldade, persiste em girar em direção à luminosidade.

Por simbolizar a felicidade e por conta da sua cor vibrante (amarela e tons de laranja das pétalas), refletindo a energia positiva que emana do sol, o girassol foi escolhido, em 2019, como símbolo da Campanha “Na Direção da Vida – Depressão sem Tabu”.

Essa campanha, promovida pela Associação Brasileira de Familiares, Amigos e Portadores de Transtornos Afetivos (ABRATA), pelo Centro de Valorização da Vida (CVV) e pela Upjohn (empresa farmacêutica), tem por finalidade incentivar as pessoas a discutirem sobre a depressão e a prevenção do suicídio. Na página https://www.depressaosemtabu é possível encontrar diversas informações sobre a depressão, como ela se relaciona com os casos de suicídio e sinais para os quais devemos ficar atentos.

De acordo com o Instituto Cactus, uma em cada cinco mulheres apresentam Transtornos Mentais Comuns (TMC) no Brasil, sendo que a taxa de depressão é, em média, mais do que o dobro da taxa de homens. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), ser mulher perpassa papéis, comportamentos, atividades e oportunidades que determinam o que se pode experimentar ao longo da vida e, portanto, estabelece vivências estruturalmente diferentes daquelas experimentadas pelos homens.

A instituição também aponta que a incidência é ainda maior em mulheres com alta sobrecarga doméstica, acometendo 1 a cada 2 mulheres. A baixa qualidade do emprego que atinge diversas mulheres, com predomínio da informalidade, pode gerar temor e ansiedade, cenário que pode piorar quando somado ao trabalho em casa, onde as mulheres têm de administrar o trabalho remunerado e tarefas domésticas. Além disso, padrões irregulares de carreira, tempo fora do mercado de trabalho para cuidar dos filhos e para o trabalho de casa, licença maternidade, doenças físicas e questões de saúde mental podem afetar a percepção sobre a disponibilidade e comprometimento da mulher, sobre a qual se baseiam muitas contratações, levando à discriminação e exclusão do mercado de trabalho.

Fiquei impressionada com essas informações porque eu acredito que nós, mulheres, em algumas fases de nossas vidas passamos por circunstâncias extremamente complicadas e temos consciência do quanto isto afeta as relações interpessoais e a produtividade no trabalho, causando-nos enormes sofrimentos. A vida, como sabemos, é cheia de encantos, mas também tem seus desencantos. Eu, particularmente, já passei por vários transtornos emocionais e por compreender como é fundamental preservar a saúde mental, procurando manter um porte ereto e imponente como o girassol, que busca incansavelmente a luz solar, considero importante compartilhar campanhas que tem por objetivo levar informações e mensagens positivas porque, sem dúvida alguma, conforme o lema deste ano da Campanha Setembro Amarelo, “a vida é a melhor escolha“.

~ Bia ~