
Quem conhece a história da Alice no País das Maravilhas sabe que ela, curiosa, segue um coelho e bummm, cai numa toca que a transporta para um lugar fantástico, vivenciando “mil e uma” aventuras. Essa é a sensação que tive na minha infância, quando visitava minha tia Zélia. Era abrir o portão de sua casa e deparar com um lindo jardim repleto de flores multicoloridas. Assim como a Alice interage com diversos personagens como o Coelho Branco, o Gato Risonho, o Chapeleiro Maluco, a Rainha de Copas, entre outros, eu adorava “conversar” com as petúnias, gérberas, margaridas, violetas, rosas, hortênsias, gerânios e tantas outras flores que perfumam o jardim em diferentes épocas do ano.
Com a tia Zélia aprendi a amar as flores e as plantas e até hoje, ela continua cuidando primorosamente do seu jardim, plantando e replantando suas flores prediletas. Lá também tem várias plantas como palmeira cica, diversas suculentas, renda portuguesa, samambaias, avencas e até mesmo trevo de quatro folhas, considerado trevo da sorte por sua raridade: existe apenas 1 em cada 10 mil plantas da espécie. Não tem como não se deslumbrar pois, quando floridos, manacá da serra, agapantos, rosas do deserto e orquídeas ostentam sua formosura.
Nesse jardim, palco de infinitas flores que apresentam seus espetáculos, tive o prazer de conhecer diversas espécies que, assim como os nomes bizarros dos personagens da história da Alice, são popularmente conhecidas como copo de leite, onze horas, boca de leão, rabo de gato, brinco de princesa, amor perfeito, lágrima de cristo, botão de ouro, flor de maio, lírio da paz e tantas outras com nomes realmente pitorescos.
Desse modo, envolta no mundo encantado das flores da tia Zélia, elas continuam presentes na minha vida e, na impossibilidade de ter, atualmente, um jardim para cultivar as flores e as plantas que tanto amo, um dos meus passeios favoritos é visitar parques repletos de flores pois, além de serem um colírio para meus olhos, muitas delas exalam uma deliciosa fragrância que me proporciona uma enorme sensação de bem estar e relaxamento.
Como sabemos, o amor pelas flores é universal pois elas são a representação máxima de beleza da natureza, em exuberância de formas, cores e perfumes, simbolizando vida, pureza, paz, sucesso, energia, cura, qualidade de vida e muito mais.
No Japão, onde imensa variedade de flores é apreciada, elas estão inseridas no dia a dia das pessoas, sendo que o hábito de cultivá-las e até mesmo de comprá-las, vai além das datas especiais. Intrinsecamente conectadas com a cultura do país, as flores são ricas em simbologia e significados, sendo que a sakura (flor de cerejeira) é, dentre as mais representativas flores da rica flora japonesa, um dos símbolos mais importantes do país.

Graças à sua beleza, cor e efemeridade, está associada à imagem do povo japonês pelo fato delas ficarem pouco tempo floridas (por volta de uma semana) e, assim, representarem a fragilidade da existência humana e a necessidade de se viver o presente de forma mais intensa possível. A sakura também simboliza a renovação, uma vez que a sua floração coincide com o fim do inverno e o início da primavera.
Apesar da sakura estar associada à flor do Japão, o crisântemo é a flor que simboliza a Família Imperial, sendo que uma imagem de 16 pétalas é usada como Selo Imperial do Japão, podendo ser vista, por exemplo, na moeda de 50 yen e na capa do passaporte japonês.

Outra flor muito famosa é a ume (flor da ameixeira), cuja floração ocorre nos gélidos meses de fevereiro e março, atraindo grande número de pessoas aos parques e templos. Essas flores estão associadas à saúde, uma vez que resistem ao inverno e também à nobreza e elegância. A hortênsia é outra flor bastante popular, desabrochando entre junho e julho, que é o período das chuvas no Japão. São facilmente encontradas em parques, jardins e templos e de acordo com as cores, elas têm significados diferentes. A espécie azul tem conotação negativa, representando a indiferença e a infidelidade, sendo que a espécie rosa está associada ao amor e à jovialidade feminina.
Para encerrarmos o post de hoje, temos a glicínia que é visualmente uma das mais atrativas da flora japonesa. Sou apaixonada por essa flor originária da China, cuja beleza despertou, ao longo dos anos, o interesse de vários artistas e poetas japoneses que fizeram magníficas obras inspiradas nessa flor. A versão mais conhecida é a lilás que simboliza a gentileza e a paixão.
Esse ano, mais especificamente no dia das mães, participei do Festival das Glicínias no Ashikaga Flower Park (Tochigi-ken, Japão), e fiquei admirada com a beleza e a imponência de uma elegante trepadeira glicínia de 150 anos. No parque encontram-se, também, mais de 350 glicínias em tons lilás, rosa, roxo, branco e amarelo, formando belos túneis naturais, além de reunir várias outras flores como azaleias, rosas, e petúnias. Um deleite para os olhos!!!

Foi o parque de flores que mais me impressionou e, certamente, um passeio inesquecível, fazendo-me recordar da minha doce infância, quando eu me sentia a própria Alice, só que ao invés de estar me aventurando no país das maravilhas, eu “explorava” o mundo encantado das flores da tia Zélia.
“Deixe que a vida faça contigo o que a primavera faz com as flores. Quando eu flor, quando tu flores e ele flor, nós flores seremos e o mundo florescerá. Seja um jardim no qual apenas os bons sentimentos florescem. As mudanças, por mais dolorosas que sejam, às vezes nos fazem florescer.” (Autor Desconhecido)
~ Bia ~