Respeitar o próximo é cultivar a paz

Fonte: Bolívia Cultural

Gente… religião continua sendo um tema polêmico, mas vou falar sobre esse assunto pois hoje, 21 de janeiro, é o Dia Mundial da Religião e a celebração dessa data é um convite às religiões do mundo todo para uma convivência pacífica e fraterna, de forma a refletirmos sobre a situação das nossas tradições e crenças e o quanto podemos colaborar para um mundo melhor, pois uma das acusações mais comuns feitas às religiões é que elas mais causam violência do que paz. Por essa ótica, pode até parecer que o mundo seria um lugar melhor sem elas e suas rixas, visto que os conflitos religiosos atravessam continentes, épocas e ainda hoje influenciam a política, a economia e as comunidades, resultando em combates ou até mesmo em atos de violência.

Assim, contracenando com esta divergência religiosa, na mesma data, o Brasil comemora o Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa, como um reforço ao objetivo proposto pelo Dia Mundial da Religião, cujo preceito, independente de ser monoteísta (crer em um deus) ou politeísta (crer em vários deuses e entidades), busca em essência o mesmo objetivo: a paz e o respeito entre os seres humanos e a natureza.

Neste contexto, o presidente da Comissão Episcopal Pastoral para o Ecumenismo e o Diálogo Inter-Religioso da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Dom Francisco Biasin, defende que para alcançar uma convivência mais fraterna entre as religiões é necessário, antes de tudo, desvincular o conhecimento de um caminho de fé de qualquer influência ideológica e política.

Para o bispo, um caminho de fé pressupõe uma sincera busca de Deus, que nasce da consciência do ser humano, e a partir daí o leva a construir relacionamentos com a natureza e com os outros seres humanos que harmonizam com tal busca, reforçando as palavras do Papa Francisco de que “não pode ser chamada religião, a que justifica a eliminação e a morte de outros seres humanos”.

Segundo o escritor e médium espiritualista Odil Campos, essa “convivência harmônica entre os seres humanos só será possível quando conseguirmos aparar as arestas que surgem da relação entre as pessoas. Para muitos, isso é difícil de aceitar ou fazer. Para outros, no entanto, a visão humana e espiritual permite restabelecer as divisas do bom senso, convivência e respeito à dignidade compartilhada”.

Não irei aqui buscar uma definição para religião ou percorrer os caminhos que nos levam a crer em Deus, mas convém lembrarmos que a Medicina já vem demonstrando que aquele que tem fé se cura mais rápido dos males físicos. Muitos psicólogos também alertam que quem crê tem mais condições de se curar dos chamados males psicológicos ou males da alma. A fé é dom de Deus. Dom significa dádiva, presente recebido de Deus. Fé é o fermento da boa religião. 

Contudo, somos cercados por inúmeras religiões e quando se fala em combate à intolerância religiosa, o assessor da Comissão para o Ecumenismo e o Diálogo Inter-Religioso da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e subsecretário adjunto de pastoral da entidade, padre Marcus Barbosa, destaca que a intolerância é o comportamento de não aceitar o que é diferente de mim, do que eu penso, do que eu creio e do que eu faço, enfatizando que “a intolerância dá o braço ao fundamentalismo, à discriminação, ao preconceito e a toda forma de fechamento em si mesmo ou no seu grupo”.

Padre Barbosa também ressalta que esta data é um convite à reflexão de como andam as relações entre as religiões, de como anda o respeito e proteção do direito à liberdade religiosa e também das ações concretas que estão sendo realizadas a favor do diálogo e da paz entre as religiões, destacando o pensamento mais recente da Igreja Católica, expresso na Encíclica Fratelli Tutti do Papa Francisco: “Existe um direito humano fundamental que não pode ser esquecido no caminho da fraternidade e da paz: é a liberdade religiosa para as pessoas que creem de todas as religiões. Esta liberdade manifesta que podemos encontrar um bom acordo entre as culturas e as religiões diferentes; testemunha que as coisas que temos em comum são tantas e tão importantes que é possível identificar um caminho de convivência serena, ordenada e pacífica, na aceitação das diferenças e na alegria de sermos irmãos porque somos filhos de um único Deus”.

Desse modo, temos que convir que o combate à desinformação é uma das principais ferramentas na luta pelo fim da intolerância religiosa. Por meio do conhecimento é possível romper as barreiras do preconceito e assegurar a todos o livre exercício dos cultos, pois respeitar as diferenças e compreender o ponto de vista do outro – que é diferente do seu – é fundamental. Quando fazemos isso com diálogo e serenidade, os conflitos diminuem e evoluímos em fraternidade mútua, uma vez que o preconceito, a discriminação e a intolerância continuam sendo os principais motivos de desrespeito às religiões.

Infelizmente, a intolerância religiosa está presente no cenário mundial, sendo palco de infindáveis discórdias em diversas épocas da humanidade. Crenças que perseguem ou são perseguidas, em razão da dificuldade em aceitar a existência de um Deus diferente do seu, foi, e ainda é, motivo de grandes tragédias. Desse modo, como vivemos em um mundo formado por pessoas diferentes, com posicionamentos, crenças e interesses diferentes, somente o respeito mútuo pode garantir uma convivência saudável em sociedade. 

À vista disso, o Observatório Racial Dom José Maria Pires, articulado pela Comissão Brasileira de Justiça e Paz (CBJP) nos leva à reflexão de que “há datas para celebrar fatos que nos orgulham como nação e outras para comemorar feitos que nos edificam enquanto brasileiros, mas também existem aquelas, como o Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa, que nos convocam à luta pela igualdade, por uma sociedade mais fraterna, em que o respeito seja imperativo a uma convivência entre os diferentes, que assim tornam-se unidade no amor. Afinal, RESPEITAR O PRÓXIMO É CULTIVAR A PAZ!!!

Encerro este post acreditando ser este um momento propício para refletirmos acerca da sábia mensagem de Mahatma Gandhi: “As religiões são caminhos diferentes convergindo para o mesmo ponto. Que importância faz se seguimos por caminhos diferentes, desde que alcancemos o mesmo objetivo?”

~ Bia ~

Cidades pela vida, cidades contra a pena de morte

Fonte: Palmela

Comentei no post anterior que as datas comemorativas têm sido a minha bússola para o planejamento dos diversos temas que venho escrevendo e ao procurar um assunto relevante para postar no final deste mês, acabei me deparando com este tema que, sinceramente, nem sabia que existia. Após algumas pesquisas e reflexões, vamos devanear sobre o Dia Internacional “Cidades pela Vida / Cidades contra a Pena de Morte”, que é comemorado anualmente no dia 30 de novembro. 

Trata-se de um movimento criado em 2002 pela Comunidade de Sant´Egídio, organização não-governamental italiana, com o objetivo de assinalar o aniversário da primeira abolição da pena de morte da História, que ocorreu no Grão-Ducado da Toscana, no norte da Itália, no dia 30 de novembro de 1786. Desde 2007, esta iniciativa tem o apoio da Coligação Mundial contra a pena de morte, da qual a Anistia Internacional faz parte, no intuito de  alertar a população sobre a importância do respeito internacional pelo Direito à Vida e pela Declaração Universal dos Direitos Humanos.

Segundo a Wikipedia, mais de 2000 cidades espalhadas por todo o mundo já aderiram a este movimento e declararam-se “Cidades pela Vida”, empenhadas na abolição da pena de morte. Deste modo, este dia global, conhecido como Cities for Life Day, tornou-se um importante evento para despertar a consciência e envolver as instituições na procura de um sistema judicial que não incite à morte e respeite a vida.

CitiesForLife_Comunita-di-SantEgidio_pena-di-morte

Acerca dessa grande mobilização mundial contra a pena capital, nos damos conta de que a  cultura do punitivismo tem crescido consideravelmente nos últimos anos, devido ao anseio social por penas mais severas sendo que, em alguns países, aplicam-se a pena de morte, na tentativa de resguardar a segurança e dias melhores para a população.    

De acordo com Dom Roberto Francisco Ferreria Paz, Bispo de Campos (RJ), “conceituar que certas pessoas são inimigas e temos o direito de eliminá-las, equivale acreditar naquele velho adágio latino: si vis pacem para bellum (se queres paz prepara-te para a guerra). Paradoxalmente, o Bispo de Campos (RJ) relembra as palavras do Papa João Paulo II que: “se queres paz prepara-te para paz, pois a paz não é apenas um resultado ou somente uma meta, mas um caminho que só pode ser alcançado pela não violência ou, se preferimos, pela justiça restaurativa”.

Desse modo, isso nos leva à reflexão de que enquanto reagirmos ao mal com o mal, estaremos alimentando incessantemente a espiral da violência. Como nos ensina Gandhi de que se levarmos “a ferro e fogo” o Código de Hamurabi do “olho por olho e dente por dente” ficaremos caolhos e banguelas, Dom Roberto Francisco infere que somente uma cultura de paz e reconciliação pode renovar o pacto civilizatório e humano, pois é na confiança e esperança na pessoa que geramos também uma convivência solidária e responsável, além de inclusiva. 

Assim, ele nos alerta de que “quando o Estado e o poder público mata a um ser humano cumprindo uma sanção penal, reproduz a violência e a multiplica ensinando o triste e perverso meio do extermínio”. O medo e o terror nos aterrorizam e nos tornam muito piores, pois na sua versão, “desumanizar e degradar aqueles que cometeram crimes é, sem dúvida, a falência da democracia, da sociedade e da dignidade humana”.

Diante dessa premissa, precisamos considerar que não faltam relatos do sofrimento físico e desumano causado pelas execuções. À vista disso, o movimento para a erradicação da pena de morte no mundo está a todo vapor, sob o comando da Anistia Internacional, afirmando que “não há justiça sem vida” e que “a pena de morte é a forma mais cruel, desumana e degradante de punição, uma vez que o direito à vida é inalienável e nenhuma autoridade pode decidir tirar a vida de um ser humano”.

A pena de morte é um sintoma de uma cultura de violência, mais do que uma solução para esta, visto não ter provas acerca do seu efeito dissuasor e negando qualquer possibilidade de reabilitação e reconciliação. Os erros judiciais podem acontecer mas a pena de morte é irreversível e pode ser aplicada a um inocente. Embasado nesta divergência, o direito internacional é favorável à abolição universal e encoraja todos os Estados a abolir a pena de morte, destacando que atualmente 58 países retêm esta forma cruel e desumana de punitivismo.

Fonte: Estremoz

Em homenagem à esta data, milhares de cidades em todo o mundo iluminam (muitas vezes com velas) um monumento histórico ou edifício público, em protesto contra a pena de morte. É um ato simbólico, com a luz da vida a vencer a escuridão da morte!!!

~ Bia ~

Dia do Saci ou Dia das Bruxas?

Fonte: Toda Matéria

Como comentei no post anterior, o Dia do Saci surgiu como uma alternativa ao Halloween, uma celebração baseada na cultura norte-americana que nada tem a ver com a cultura brasileira. 

Com o objetivo de resgatar, valorizar e conscientizar a população sobre a variedade cultural do folclore nacional, a Comissão de Educação e Cultura oficializou o Projeto de Lei Federal nº 2.479, de 2013, que institui o dia 31 de Outubro como sendo o Dia do Saci.

Assim, a comemoração passou a ser realizada no mesmo dia do Halloween e isso não é coincidência. Ao perceber que o Halloween no Brasil estava atraindo cada vez mais jovens e crianças, a criação do Dia do Saci no mesmo dia foi uma forma de oportunizar aos brasileiros a possibilidade de festejar as manifestações da própria cultura. Dessa forma, em contraposição a esse evento tradicionalmente americano que se espalhou mundo afora, o Dia do Saci acontece no dia 31 de outubro para celebrarmos a rica cultura brasileira.

Posto isso, a data homenageia o Saci Pererê e muitas instituições educacionais do país propõem atividades relacionadas a essa emblemática figura folclórica, visto que muitos não conhecem as lendas que envolvem o imaginário do nosso país. E você? Conhece a lenda do Saci Pererê? Se já conhece, que tal relembrarmos juntos a história desse intrigante ser mítico que habita as florestas e é conhecido por suas travessuras? 

Segundo alguns estudos, a lenda do Saci-Pererê surgiu na região Sul do Brasil. Lá havia histórias populares que narravam as travessuras de um pequeno índio de rabo, que assustava os animais e destruía plantações. A princípio, ele era conhecido no idioma tupi guarani como “çaa cy perereg”, mas a repercussão foi tão grande que se espalhou por todo o território brasileiro, incorporando elementos de lendas regionais que apresentam seres com características brasileiras.

Desse modo, quando a lenda chegou no Norte e no Nordeste do país, as características do personagem mudaram. Passou a ser negro, de pequena estatura e a fumar um cachimbo (por influência da cultura indígena e africana na região), tendo apenas uma perna e saltitando velozmente para se locomover. Porém, não podemos deixar de destacar que sua principal característica é, sem dúvida alguma, a carapuça vermelha.

De acordo com a lenda, o Saci-Pererê é um menino muito astuto e ágil que adora fazer travessuras tais como entrançar as crinas dos cavalos, desaparecer com objetos, assustar os animais, assobiar a noite para anunciar a sua presença, apagar lamparinas, trocar os recipientes de sal pelos de açúcar nas cozinhas, causar redemoinhos para levar sujeira às casas, dentre outras traquinagens. Há quem diga que o Saci é do mal, assim como tem muita gente que acredita que ele seja do bem. Nesse sentido, o historiador e antropólogo Câmara Cascudo (1898-1986) apresenta o Saci Pererê como uma “entidade maléfica em muitas, graciosa e zombeteira noutras oportunidades”. 

Achei super interessante ver a lenda do Saci Pererê em Libras. Se você também quiser ver, é só clicar no vídeo abaixo, ok?

Embora a cultura brasileira seja rica em contos com muita magia e fantasia, está cada vez mais forte o mês de outubro ser lembrado pelo Dia das Bruxas, cujo crescimento evidencia-se principalmente nos centros urbanos brasileiros. Diante desse impasse frente a essas duas comemorações, de acordo com a BBC News, não há um consenso de posicionamento entre os “saciólogos” pois o jornalista e geógrafo Mouzar Benedito, um dos criadores da Sociedade de Observadores de Saci (Sosaci), instituição fundada em 2003 para não deixar morrer a cultura do personagem, alega que “o Halloween foi imposto como uma coisa ideológica de propaganda, como marca do domínio da cultura dos Estados Unidos sobre nós” e prega que “arteiro que só ele, o saci quer dar um jeito de se apropriar das abóboras do Halloween. E, como propagam os “saciólogos” Brasil afora, devorá-las feito escondidinho de carne-seca, numa receita nacional”. 

Por outro lado, o fundador da Associação Nacional dos Criadores de Saci (ANCS), o tecnólogo José Oswaldo Guimarães diz não querer acabar com o Halloween e que “a ideia é reforçar a cultura do saci e não diminuir outras culturas”, sendo que o Dia do Saci não deveria ser na mesma data que o Dia das Bruxas pois na sua versão à BBC News, “justificar uma data matando outra é inócuo e acaba realçando ainda mais o Halloween.”

A jornalista, poeta e gestora de projetos educativos e culturais Tatiana Fraga, uma das curadoras da exposição #OcupaSacy compartilha da mesma opinião, argumentando à reportagem que não luta contra o Halloween pois ele chegou ao Brasil da mesma maneira como muito da cultura americana chega ao país, alegando ter um movimento antropofágico em relação à essa questão. Ela sugere comemorar o Halloween e também o Saci, pois toda brincadeira fantasiosa é muito legal e os “mitos podem conviver” pacificamente. Prossegue, inclusive, afirmando que faz mais sentido para nós a brincadeira do saci por ter uma verdadeira relação com o folclore do nosso país e que se depender “do saci, por ser uma figura anti-imperialista, vai mesmo comer a abóbora”.

Na visão do professor Pereira, especialista em Cultura Brasileira do Mackenzie, os grupos que se esforçam para resgatar figuras do folclore fazem um trabalho “fundamental e imprescindível”. Ele também deu o seu parecer à BBC News de que não acha que festas como o Dia das Bruxas precisam ser combatidas, declarando não ser refratário à introdução de outros elementos em nossa cultura e que o Brasil sempre foi uma “mistureba” mas que a sua preocupação se resume no fato de que “um elemento puramente comercial supere manifestações folclóricas, nascidas do imaginário popular e de tradições”, ressaltando que “pais e professores têm um papel fundamental na preservação de nossos valores culturais e de nossas tradições. Não que o novo seja proibido, mas não podemos esquecer o antigo”.

Após todas essas divergências, chegamos à conclusão que comemorar o Dia do Saci é realmente enaltecer os costumes de nosso país e mesmo diante de tantas controvérsias, ficou perceptível a importância de se legitimar essa lendária figura que é um dos ícones do nosso inestimável folclore brasileiro. Mas… nem por isso precisamos “queimar” as bruxas na fogueira, não é mesmo? 

Eu, particularmente, aprecio a decoração do Halloween e a minha casa fica toda enfeitada no mês de outubro com adereços alusivos à essa festividade. Como também valorizo a rica cultura de nosso país, acho propício destacar a figura do Saci Pererê no dia 22 de agosto, ocasião em que celebramos oficialmente o Dia do Folclore Brasileiro. No entanto, como gosto é gosto e todos nós temos o direito ao livre arbítrio, uma vez que o saci tem o dia especialmente dedicado a ele, quem não gosta de bruxas, tem a opção de fazer as travessuras com o menino serelepe de uma perna só, não é mesmo? Neste frágil momento em que vivenciamos conflitos armados, que os sacis não tenham que se confrontar com as bruxas pois, mais do que nunca, precisamos celebrar a união e nutrir a paz no coração de toda a humanidade, vocês não concordam?

~ Bia ~