
Está oficialmente aberta a temporada de flores no Japão e para o deleite da população, quem, em todo o seu esplendor, inaugura esta belíssima estação é a tão aguardada flor de cerejeira, mundialmente conhecida por sakura, que pincela o país em vários tons de rosa nesta época do ano. Simmm… desde o dia 21 de março, Equinócio da Primavera na terra do sol nascente (Shunbun no Hi), que marca o término do rigoroso inverno e o início da primavera, a previsão do dia de florescimento das sakuras em cada região, viram as notícias mais importantes desta estação. O fenômeno do desabrochar desta flor, que acontece primeiro no sul, onde o clima é mais quente, e depois mais ao norte, onde o clima é mais frio, é chamada de “linha de frente das cerejeiras”, ocasião em que os japoneses esperam, empolgados, pelo florescer das sakuras de sua região, ocorrendo geralmente entre o final de março e começo de abril, para fazer passeios ao ar livre.

Em plena floração, a flor de cerejeira é o marco de importantes eventos, como as cerimônias de graduação em março e as cerimônias de ingresso nas escolas, faculdades e empresas em abril, considerados pontos de virada essenciais na vida dos japoneses. Assim, a sakura está enraizado no coração de toda a população, trazendo à tona sentimentos como a alegria de presenciar o crescimento dos filhos, a gratidão pelas pessoas e também expectativas e preocupações em relação a um novo começo, sendo até mesmo possível apreciar diversas canções que expressam esses sentimentos através desta flor. Uma das minhas preferidas é a do cantor Naotaro Moriyama e se você tiver curiosidade, não deixe de ver esse video que acabei de encontrar no Youtube:
No Japão, mais de 100 espécies de cerejeiras florescem em todo o país, apreciadas não só pelos japoneses, mas pelos estrangeiros, sendo a primavera a estação que mais atrai turistas do mundo inteiro, que visitam o país exclusivamente para contemplar essa flor, cuja floração acontece uma única vez a cada ano. Em razão da curta duração de 7 a 10 dias, porém intensa e fascinante, para muitos japoneses, as sakuras remetem à vida humana no sentido da grandiosidade e efemeridade. Assim, elas florescem e no auge de sua floração e beleza, as flores começam a cair, mostrando que, embora a vida seja bela, também é curta e passageira, passando a ser relacionada com o conceito de wabi-sabi (refere-se à beleza de poder sentir a profundidade e a riqueza da natureza em meio à tranquilidade), que faz parte da estética e espiritualidade japonesa.

Definitivamente, o Hanami Matsuri, que quer dizer “Festival de contemplação das flores”, é um dos mais belos festivais do Japão, com várias atividades que são realizadas em torno destas árvores, como festivais com músicas e danças. Mas a principal atividade é, sem dúvida, o tradicional piquenique sob as árvores repletas dessas delicadas flores. É uma tradição que existe há séculos, sendo preservada e praticada pela maioria das famílias japonesas. Por causa da sua popularidade, muitas famílias chegam a madrugar para garantir um bom lugar nos parques, a fim de reunir famíliares e/ou amigos, para apreciarem a beleza das flores, enquanto saboreiam o tradicional “obentô”, geralmente acompanhado do indispensável chá, além de bebidas alcoólicas, como saquê e cerveja, ficando até o escurecer para celebrarem essa ocasião que tem um significado muito especial: tudo o que é bom, dura pouco!

Neste sentido, o hanami à noite é chamado de Yozakura (literalmente “sakura noturno”) e, em muitos lugares, como no Parque Hirosaki, localizado na província de Aomori, que abriga cerca de 2600 árvores de 52 espécies, incluindo a yae-beni-shidare, é possível apreciar o esplêndido espetáculo das flores, especialmente iluminado à noite durante o período do festival, que neste ano ocorrerá do dia 21/04 a 05/05.

Um pouquinho mais ao norte, dentre os inúmeros pontos famosos para apreciar as belas flores de cerejeira, a estrada Nijukken-Shinhidaka, na província de Hokkaidō, possui um trecho reto de 7 quilômetros com mais de 2000 árvores, que formam a fileira de sakuras mais longa do Japão.

Do final de março ao início de abril, as passarelas ao redor do fosso Chidorigafuchi, perto do Palácio Imperial, são tingidas de rosa por centenas de cerejeiras, proporcionando uma das vistas mais impressionantes de Tóquio. Esta visão mágica atrai muitos visitantes e nas noites em que as flores são iluminadas, é possível alugar barcos para desfrutar de um belo passeio noturno sob o túnel brilhante de sakuras refletidas na superfície da água. No final da temporada, o fosso fica quase completamente coberta de pétalas, criando a ilusão de um rio rosa etéreo.

No entanto, a maior e a mais antiga cerejeira do Japão está localizada nos jardins do templo Otsuyama Jisso, na cidade de Hokuto, província de Yamanashi. Chamada de Yamataka Jindai Sakura (Zakura), Yamataka Kamishiro Sakura, entre outros nomes, a antiga árvore é Patrimônio Natural do Japão e existe há, pelo menos, 2 mil anos, de acordo com histórico divulgado no site oficial da prefeitura de Hokuto. Durante a floração, que ocorre entre a última semana de março e início de abril, podendo variar de acordo com as condições climáticas, seus longos galhos, que percorrem por uma extensa área no templo, são cuidadosamente amparados por varas para que não se quebrem com o peso das flores. Junto à Usuzumizakura de Motosu (província de Gifu) e à Miharu Takizakura (província de Fukushima), elas são conhecidas como as Três Grandes Cerejeiras do Japão.

Localizada na província de Nara, Monte Yoshino é um dos lugares mais belos do Japão para admirar a sakura. Uma trilha que passa pelos pequenos vilarejos da montanha, colorindo uma extensa área de 8 quilometros de degrade rosa, leva ao topo para um deslumbrante cenário de 30.000 cerejeiras inalteradas por um milênio, que cobrem os vales e as cordilheiras, florescendo no início até o final do mês de abril.

No templo Tsubosaka – Takatori, também na província de Nara, cerca de 300 cerejeiras somei-yoshino, criam a ilusão de que as construções flutuam entre as flores, cobrindo até mesmo a estátua de Buda feita de pedra, com cerca de 15 metros, chamada de “Sakura Daibutsu”. O melhor período para visitar o local vai do fim de março ao início de abril, valendo a pena ver as cerejeiras iluminadas, inclusive, durante à noite.

Quando o tempo está ensolarado, do topo do Monte Shiude, situado em Mitoyo, na província de Kagawa, é possível ver a famosa Grande Ponte de Seto (Seto Ohashi). Na primavera, cerca de mil cerejeiras florescem e o contraste da montanha cor-de-rosa com o azul do Mar Interior de Seto é de tirar o fôlego!!!
Mesmo diante desses inusitados panoramas, onde é possível se encantar com diferentes cenários cor-de-rosa, vale lembrar que o Japão nos contempla com centenas de outros locais, onde as cerejeiras esbanjam sua imponência, e qualquer que seja o lugar que a gente more ou vá passear, neste curto período de floração, sempre tem uma bela sakura nos dando boas-vindas para curtirmos a estação mais agradável e aguardada pelos japoneses, que costumam dizer que o ano só começa de verdade quando a primavera chega e o inverno dá o seu adeus.

Além dos belíssimos espetáculos a céu aberto, a sakura também é apreciada na vida cotidiana. Doces como o hanami dango e o sakura mochi podem ser encontrados não só em lojas especializadas em doces japoneses, mas também em lojas de conveniência. Outros doces, como a hana kasane, são tão bonitos que nos entretêm só de olhar. É possível encontrar, também, roupas, acessórios e objetos de arte com o tema sakura, além de perfumes e cosméticos com a fragrância desta flor.
Deste modo, as sakuras nos lembram que é preciso aproveitar a beleza enquanto ela está presente, pois o mundo não é o tempo todo cor-de-rosa, nos mostrando que a natureza tem seu próprio ritmo e as coisas começam e terminam, independente da nossa vontade. Além do significado profundo, da beleza do transitório e do renascimento, a primavera no Japão é a estação propícia para celebrar a vida com amigos e familiares, sendo uma ótima época para começar novos projetos e renovar esperanças, pois como declama a poetisa Crysgrer: “Meu mundo não é azul. Nem cor-de-rosa. Ele tem vida, sentimento e saudade da outrora. Há defeitos. Ajustes. Começos, tropeços e recomeços”.
~ Bia ~
Bia, estou viajando pela beleza dos Sakuras em meus sonhos, de barco pelo rio “encantado”, ou de carro pela rodovia cor-de-rosa de Sakuras. Que liiinnndo!!! Maravilhosa explanação sobre os Sakuras. Você sempre nos surpreendendo com assuntos belos e interessantes. Um beijo minha querida. Saudades!!!
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