115 anos de Japão no Brasil

Fonte: Editora Unesp

No próximo domingo, 18 de junho, enaltecemos o Dia Nacional da Imigração Japonesa. Sabe por que? Porque foi justamente nesta data, há 115 anos, que o navio Kasato Maru, vinda do porto de Kobe, em uma viagem de mais de 50 dias, aportou no porto de Santos com os 781 primeiros imigrantes japoneses para trabalharem nas lavouras de café, no estado de São Paulo.

Mas… por que os japoneses imigraram para o Brasil?

No final do século XIX, com o fim do feudalismo e o início da mecanização da agricultura, o Japão teve que enfrentar uma grave crise demográfica, levando a população rural a migrar para as cidades, a fim de fugir da pobreza. Desse modo, as oportunidades de emprego tornaram-se escassas, fazendo com que muitos trabalhadores rurais tivessem uma vida extremamente miserável.

O Brasil, por sua vez, apresentava falta de mão-de-obra na agricultura pois a Itália proibiu, em 1092, a imigração subsidiada de italianos para São Paulo (a maior corrente imigratória para o Brasil), deixando as fazendas de café, principal produto exportado na época, sem o número necessário de trabalhadores. A partir das necessidades recíprocas, firmou-se, então, um acordo imigratório entre o Brasil e o Japão.

A grande imigração nipônica se deu a partir de 1908 e na primeira década chegaram ao Brasil aproximadamente 15 mil japoneses. Esse fluxo de imigrantes aumentou drasticamente após a Primeira Guerra Mundial, sendo que algumas estimativas revelam que entre 1918 e 1940 cerca de 160 mil japoneses chegaram ao país, dos quais 75% instalaram-se no estado de São Paulo por causa das colônias e bairros típicos que já se encontravam estabelecidos, cujo foco deixou de ser apenas as plantações de café. Eles também diversificaram o cultivo de hortifrutigranjeiros, chá, soja e arroz.

No entanto, vale ressaltar que a maioria dos imigrantes japoneses tinha a pretensão de enriquecer e voltar ao Japão em, no máximo, três anos. A ilusão de enriquecimento rápido em terras brasileiras, porém, mostrou-se um sonho quase impossível pois tinham estabelecido contratos de trabalho inoperantes a serem cumpridos. Além dos baixos salários, a passagem e tudo que precisavam consumir eram descontados do pagamento, de modo que estavam sempre endividados. Também tiveram que superar uma série de dificuldades como idioma, alimentação, vestuário, religião, clima, péssimas condições de trabalho e até mesmo o preconceito, que se tornaram fortes barreiras à integração dos nipônicos no  país verde amarelo.

Como pretendiam voltar ao Japão, não se interessavam pelos hábitos e costumes da população local e muitos deles não aprenderam a falar o português. Até mesmo os nisseis (filhos de imigrantes japoneses) não eram muito diferentes dos seus pais. Ainda dominados pelo desejo de regresso ao Japão, muitos imigrantes educavam seus filhos dentro de uma sólida cultura oriental. As crianças frequentavam escolas japonesas fundadas pela comunidade e a predominância do meio rural facilitou esse isolamento, fazendo com que cerca de 90% dos filhos de japoneses falassem apenas o idioma japonês em casa.

Porém, no decorrer da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), os japoneses que viviam no Brasil tiveram sérios problemas, pois o Brasil apoiou o grupo dos aliados, enquanto o Japão fazia parte do grupo do eixo, de modo que no desenrolar do conflito, a entrada de japoneses ficou expressamente proibida no país. Além disso, o governo era ofensivo em relação aos imigrantes japoneses, evidenciando-se quando o presidente Getúlio Vargas impediu o uso do idioma japonês e toda e qualquer forma de manifestação cultural, cujos atos passaram a ser considerados criminosos. Após o término da Segunda Guerra, as leis de repressão foram extintas e o fluxo imigratório voltou ao seu crescimento normal, fazendo com que até mesmo os sanseis (netos dos imigrantes japoneses) se abrissem definitivamente à sociedade brasileira. Com o passar do tempo muitos japoneses prosperaram, resultando na permanência definitiva da maioria deles no Brasil.

Deste modo, cientes de que não seria mais viável regressar à terra natal, trabalharam duro no campo para que seus filhos e netos tivessem um futuro promissor no Brasil. Na década de 1960, muitos nisseis e sanseis foram para os centros urbanos a fim de concluir os estudos, ingressando posteriormente na indústria, comércio e prestação de serviços. Consequentemente, a partir da década de 70, a miscigenação passou a integrar a comunidade japonesa no Brasil e, atualmente, observa-se que cerca de 61% dos bisnetos de japoneses possuem traços mestiços com outras etnias. 

Para se ter uma ideia, de acordo com o Consulado Geral do Japão em São Paulo, o Brasil abriga atualmente a maior comunidade de descendentes no exterior: aproximadamente 1,5 milhões de japoneses e descendentes vivem no país e por conta disso, a influência nipônica se perpetuou e está presente nos sabores e saberes do Brasil. Das artes marciais à religião, dos chás e dos sushis aos mangás (as famosas histórias em quadrinhos japonesas), o Brasil incorpora essa cultura que, aliado a um riquíssimo painel multicultural de povos como portugueses, índios, africanos, italianos, espanhóis, árabes, chineses, alemães, entre outros, que também fincaram suas raízes em solo brasileiro, vem contribuindo substancialmente para o desenvolvimento econômico  do país.

Posto isso, após “trancos e barrancos”, o cenário atual mostra que os imigrantes japoneses e seus descendentes estão totalmente integrados à cultura brasileira, subdivididos em:

– Isseis (japoneses de primeira geração, nascidos no Japão);
– Nisseis (filhos de japoneses);
– Sanseis (netos de japoneses);
– Yonseis (bisnetos de japoneses)

Se você, assim como eu, é descendente de japoneses e queira mais informações sobre a imigração dos seus familiares como, por exemplo, o navio em que vieram, data de partida e chegada no porto de Santos e a fazenda em que foram trabalhar, uma boa dica é entrar no site do Museu Histórico da Imigração Japonesa e acessar o banner “Navios de Imigração”, que fornece um relatório completo de todos os imigrantes que vieram ao Brasil. Sem dúvida, esses dados são fundamentais para manter viva a história da Imigração Japonesa no Brasil, especialmente para as novas gerações com raízes nipônicas.

Aproveitando que estamos nas vésperas de uma comemoração tão significativa, que tal compartilhar o site com seus parentes e amigos descendentes de japoneses? Afinal, é muito legal saber de onde viemos e que fazemos parte desse enlaçamento que está prestes a completar 115 anos, não é mesmo?

~ Bia ~

No mês de maio, a vida tem o seu esplendor

Fonte: Fujiyama

“Azul do céu brilhou / Mês de maio enfim chegou / Olhos vão se abrir pra tanta cor / É mês de maio, a vida tem o seu esplendor”. Assim começa a música “Mês de Maio” do nosso querido cantor Almir Sater e assim começo o post do mês de maio, recheado de várias datas muito muito especiais.

Como deu para perceber, estou bem “atrasadinha” pois hoje é dia 11, já estamos quase na metade do mês e só postei um assunto no final do mês de abril, falando do Dia dos Meninos que foi comemorado no dia 5. Fiquei sem postar na semana passada pois foi o feriado de Golden Week no Japão e aproveitamos para passear nos arredores do Monte Fuji, a montanha “sagrada” da terra do sol nascente. 

No post anterior comentei que a comemoração alusiva ao Dia das Crianças (Kodomo no Hi) faz parte do calendário do Golden Week, mas para que se possa compreender melhor acerca deste feriado, vou falar um pouquinho mais a respeito.

A Golden Week (Semana Dourada) é a junção de 4 feriados nacionais no Japão, comemorados bem próximos uns dos outros no final de abril e início de maio. Estes feriados levam a um período de descanso excepcionalmente longo, considerado o período de férias por excelência para os japoneses, sendo que muitos deles solicitam folgas de trabalho remuneradas (yukyu) para prolongar suas férias e aproveitar alguns dias a mais para “curtir” um merecido descanso.

Embora o início do feriado seja, oficialmente, no dia 29 de abril indo até o dia 5 de maio de cada ano, as festividades geralmente têm início 1 a 2 dias antes e continuam alguns dias depois, especialmente quando os dias de folga caem em um fim de semana prolongado, como ocorreu neste ano, pois o feriado teve início no dia 29 de abril (sábado) e estendeu-se até o dia 7 de maio (domingo). 

Dentre os eventos comemorativos no Golden Week temos:

  • 29 de Abril – Showa no Hi (Dia de Showa) é o aniversário do último imperador Showa, Hirohito, que governou o destino do Japão durante a Segunda Guerra Mundial.
  • 3 de Maio – Kenpo Kinenbi (Dia da Constituição) é o dia em que se comemora a ratificação da constituição japonesa de 1947.
  • 4 de Maio – Midori no Hi  (Dia do Verde) é o Dia do Meio Ambiente, cuja data era comemorada no mesmo dia do aniversário do imperador Showa, sendo posteriormente alterada para o dia 4, devido à lei que estabelece que o dia que cai entre dois feriados nacionais também deve ser feriado.
  • 5 de Maio  – Kodomo no Hi (Dia das Crianças), também chamado de Tango no Sekku (Dia dos Meninos) homenageia principalmente os meninos. 

Diante de todos esses eventos que permeiam o agradável clima primaveril, é certamente uma das datas favoritas para viajar, não só pelo país, mas para o exterior, visitar os familiares ou apenas descansar. Aproveitando o embalo, fomos passear em alguns pontos turísticos das províncias de Shizuoka e Yamanashi.

Fonte: Gurunavi

A primeira parada foi em Fujinomiya (Shizuoka) para conhecermos as famosas Cataratas de Shiraito, cujas águas cristalinas provêm das nascentes do Monte Fuji. Com 150m de comprimento e 20 m de altura, foi nomeada uma das “100 melhores cachoeiras” pelo Ministério do Meio Ambiente do Japão e realmente impressiona pela sua beleza ímpar. Como o cenário muda de acordo com a estação, é um dos lugares que pretendo voltar no outono para apreciar o belíssimo espetáculo das folhas amarelo avermelhadas contrastando com os delicados filamentos das águas com formatos de fios de seda, que emanam das sólidas paredes de lava do Monte Fuji.

Fonte: Tabi

À caminho de Yamanashi, na região dos Cinco Lagos Fuji (Fujigoko) que fica na base norte do Monte Fuji, a montanha nem sempre é visível por causa das nuvens, mas tivemos uma sorte incrível pois fomos agraciados, literalmente, com um maravilhoso “céu de brigadeiro” que permitiu contemplarmos, sob diferentes ângulos, através dos passeios nos lagos Kawaguchiko, Saiko, Yamanakako, Shojiko e Motosuko, a imponente montanha de 3.776 metros diante de nossos olhos.   

Fonte: BBQ HACK

Fujigoko é conhecida como uma área de resort, onde caminhadas, camping e esportes no lago estão entre as atividades populares ao ar livre mais apreciadas pelos japoneses. 

Fonte: Coisas do Japão

Há também muitas fontes termais e museus na área, junto com o Fuji Q Highland, um dos parques de diversões mais populares do Japão, com montanhas-russas de deixar qualquer um de “cabelo arrepiado”. Ao contrário das minhas filhas que adoram esse tipo de entretenimento, prefiro ficar horas a fio apreciando indescritíveis paisagens naturais.

Dentre uma lista enorme de atrações turísticas ao redor dos cinco lagos, a parada obrigatória para fotógrafos e amantes de belíssimas paisagens, sem dúvida, o Arakurayama Sengen Park, o principal ponto turístico da cidade de Fujiyoshida, de onde é possível se encantar com uma das mais exuberantes vistas do Monte Fuji.

Fonte: Yamanashi

Outro passeio imperdível nessa época do ano é o Fuji Shibazakura Festival, onde um gigantesco “carpete” de flores shibazakura (musgo rosa ou musgo flox em inglês), em diferentes tons de rosa, cobre uma vasta área no pé do Monte Fuji. O local do festival, conhecido por Fuji Motosuko Resort, está localizado a cerca de três quilômetros ao sul do Lago Motosuko e durante o festival, que é realizado em meados de abril até o final de maio, os visitantes têm a oportunidade única de apreciar cerca de 800.000 pés de shibazakura floridos, cujo impressionante cenário seria digno de ser, até mesmo, pintado ao ar livre pelo renomado pintor francês Claude Monet, que ficaria encantado em retratar o primoroso campo de shibazakura, com o Monte Fuji ao fundo, em dias ensolarados. Um deleite para os olhos!!!

Fonte: Tenki

Outro cenário que também deixaria Monet de “queixo caído”, considerado um lugar sagrado e fonte de inspiração artística, é Miho no Matsubara, localizada na província de Shizuoka. Com cerca de 54 mil pinheiros negros alinhados à beira mar, numa extensão de aproximadamente 6 km, o local também é um dos três bosques de pinheiros mais famosos do Japão (Nihon Sandai Matsubara). Por causa da sua beleza cênica, tendo como pano de fundo o magnífico Monte Fuji, exibido em várias obras de arte, foi também escolhido como um dos três locais cênicos mais famosos do Japão (Nihon Shin Sankei). A paisagem, de tirar o fôlego, que vem conquistando o coração dos japoneses há decadas, é um tesouro nacional que vale a pena conhecer, sendo tombado como Patrimônio da Humanidade desde 2013. Como o Milton é apaixonado por pinheiros, ficou em êxtase diante deste fascinante espetáculo a céu aberto!!!

Fonte: Hamamatsu.com

Por fim, de volta para casa, passamos em Hamamatsu, ainda na província de Shizuoka, para visitarmos o Parque das Flores que é um belíssimo jardim botânico à beira do Lago Hamana, com mais de 3.000 espécies de plantas espalhadas em uma vasta área de aproximadamente 30.000 metros quadrados. Com variadas espécies de flores que possuem épocas distintas de florescimento, no final de março até o início de abril, cerca de 1.300 cerejeiras e 500 mil tulipas se harmonizam no meio de uma bela paisagem. Durante o mês de abril as azaleias esbanjam sua formosura, seguidas da glicínia que começam a florescer no final de abril e início de maio. As delicadas rosas começam a exalar suas fragrâncias em maio e em junho é a vez das hortênsias ostentarem sua inegável beleza. Como o nosso objetivo era apreciar as glicínias, não poderíamos deixar de “bater o cartão de ponto” neste parque para ver de perto essas lindas flores que são um colírio para nossos olhos. No ano passado, fomos no Ashikaga Flower Park, mas desta vez, optamos por vê-las em Hamamatsu e estavam tão lindas quanto às glicínias de Ashikaga. Além das glicínias, o perfumado Rose Garden, com mais de 1.000 rosas de 270 variedades plantadas em um terreno de 3.000 metros quadrados, foi um espetáculo à parte.  

Fonte: Hamamatsu.com

E assim, em contato com a natureza e “desfrutando” lugares incrivelmente pitorescos, renovamos nossas energias no “Golden Week”. Sem sombra de dúvida, para quem mora no Japão, no mês de maio, no auge da multicolorida primavera, a vida tem o seu esplendor!!!

~ Bia ~

“Kodomo no Hi” – Dia das Crianças no Japão

Fonte: LearnJapanese123

Desta vez os holofotes estão direcionados aos meninos!!! Nas vésperas do tão aguardado feriado de Golden Week, o Japão anuncia a chegada do Kodomo no Hi – Dia das Crianças, com as multicoloridas flâmulas em formato de carpas “Koinobori”, hasteadas em diversos locais para celebrar a felicidade e o bem-estar das crianças, assim como a esperança de que elas cresçam fortes e saudáveis.

O Kodomo no Hi, que será comemorado no próximo dia 5 de maio, faz parte do calendário deste feriado nacional e apesar de ser o Dia das Crianças, é tradicionalmente conhecido como Dia dos Meninos, pois as meninas, como mencionamos anteriormente, têm uma data especialmente dedicada a elas, o “Hinamatsuri”, cujas festividades acontecem anualmente no dia 3 de março. De certo modo, por ser o Dia das Crianças, tornou-se um feriado em que muitas famílias celebram a saúde e a felicidade tanto dos meninos como das meninas, sendo também um dia especial para que elas possam cultivar a gratidão às mães.  

Originalmente conhecido como “Tango no Sekku”, essa data era dedicada exclusivamente aos meninos e remonta ao período Nara (710-794), sendo que em 1948, com o fim da Segunda Guerra Mundial, o governo japonês estabeleceu que fosse renomeado Dia das Crianças, para que se passasse a valorizar as crianças em geral, e não apenas os meninos. No entanto, ainda hoje a tradição prevalece, de forma que quando um menino nasce, seus pais ou avós costumam comprar (ou passar adiante) os elementos simbólicos dessa data festiva que compõem o altar montado com bonecos de guerreiros samurais (gogatsu ningyo), capacetes de samurai (kabuto), espadas (katana) e outros itens que faziam parte da antiga batalha nipônica, materializando valores como a persistência, a destreza marcial e a lealdade. Os bonecos, por sua vez, representam personagens folclóricos como Kintaro, Momotaro e Issun Bōshi, por simbolizar a força e a coragem dos lendários guerreiros samurais. Como o altar tem um preço relativamente elevado e ocupa espaço dentro das casas, muitas famílias estão optando atualmente por ornamentar suas casas apenas com o kabuto ou um dos bonecos, com o intuito de inspirar força e bravura, protegendo-os dos infortúnios e das doenças.

Fonte: Japan Sauce

No entanto, uma das tradições mais marcantes que comove a população e chama a atenção de qualquer turista estrangeiro, é a quantidade de Koinobori que se espalham nos ambientes externos como jardins, quintais e áreas públicas. Elas representam a energia, a força e a determinação das carpas que nadam contra as fortes correntezas do rio no período de desova, existindo até mesmo uma lenda sobre uma carpa dourada que nadou arduamente contra a correnteza e ao chegar rio acima, devido a sua coragem e persistência, transformou-se em um dragão. Tais atributos são vistos pelos japoneses como essenciais para que as pessoas superem as adversidades da vida, razão pela qual nas semanas que antecedem o Kodomo-no-Hi, o Koinobori é hasteado em todo o país para atrair essas características tão admiradas nas carpas, que passou a simbolizar o sucesso, a prosperidade, a longevidade e o desejo dos pais para que seus filhos cresçam fortes, corajosos e perseverantes.

Fonte: Coisas do Japão

No Koinobori, as cores e a disposição das carpas nas flâmulas tem um significado. No mastro, a carpa preta, que fica no topo da haste e é a maior de todas, simboliza o pai. Logo abaixo, a carpa vermelha, um pouco menor, a mãe e na sequência, a carpa azul, um pouco menor que a vermelha, costuma corresponder ao filho primogênito. Os outros filhos são representados por outras cores e tamanhos, de acordo com a ordem de nascimento, podendo ser verde, roxo ou rosa. Acima de todas essas cores, pode haver o fukinagashi, uma espécie de biruta (instrumento usado para mostrar a direção do vento) com cinco cores. Colocada acima da carpa preta, ela pode ter ou não o brasão da família na sua ponta. Para os japoneses, trata-se de um amuleto que simboliza proteção à criança.

Fonte: Just One Cookbook

Além desses adereços, como há pratos típicos em qualquer ocasião especial no Japão, é óbvio que no Dia das Crianças não poderia ser diferente. Dentre as iguarias servidas nesta data, uma delas é o chimaki, que são bolinhos de arroz cozidos no vapor, envoltos em folhas de bambu, por simbolizar a resistência às intempéries. O chimaki pode ser doce ou salgado, recheado com diferentes combinações de carnes e vegetais. Outra sobremesa bastante apreciada é o kashiwa mochi que é um bolinho de arroz feito com farinha de arroz recheado com doce de feijão vermelho (anko), cozido a vapor e envolto em folhas de carvalho, que por não perderem suas folhas antigas até que novas folhas comecem a surgir, representam a prosperidade da família, de geração a geração. E, para beber, o costume tradicional é saborear folhas de íris picadas e misturadas ao sakê, a tradicional bebida japonesa preparada a partir da fermentação do arroz.

Fonte: Just One Cookbook

Simmm… íris!!! A íris floresce no início de maio e é a flor que se destaca neste feriado para afastar todo e qualquer “mau olhado” nas crianças. Como a flor íris em japonês é shobu, e shobu também significa batalha, assim como os samurais costumavam tomar banho de imersão repleto de folhas de íris antes das batalhas, os japoneses acreditam que banhar as crianças com folhas de íris é extremamente auspicioso.

Fonte: Teniteo

Uma atividade muito legal que costuma fazer parte deste evento são os “origamis” de capacete de samurai. São feitos em diferentes tamanhos, mas o que mais entretém a criançada são os capacetes grandes, para que, ao colocá-los, se sintam como se fossem verdadeiros samurais. Essa diversão me levou às doces lembranças da infância, quando fazíamos, (eu, meus irmãos menores, meus primos e minhas primas) origamis de chapéus com jornais e depois de prontos, uma vez colocados em nossas cabeças, fazíamos a maior algazarra, marchando e cantando a famosa e antiga canção marcha soldado/cabeça de papel/se não marchar direito/vai preso pro quartel. Bons tempos!!!

Léo, Lia e Yan (Abr/2023)

Nostalgia à parte, escrevi este post pensando nos meus netinhos Yan e Léo, pois em março, no Dia das Meninas, prestei a minha homenagem para a minha princesinha Lia. Ao conversar com a Dani, minutos atrás, ela me mostrou uma foto do Léo quando estava com 1 ano e disse estar atônita pois daqui 3 meses ele irá completar 3 anos, me fazendo lembrar que o tempo está passando muito rápido e eu ainda não conheço nenhum dos meus netinhos pessoalmente. Apesar de estar distante, como eu os vejo praticamente todos os dias, acompanhando o desenvolvimento desde o nascimento, não tenho do que me queixar pois eles me proporcionam muitas e muitas alegrias através das nossas “videoconferências”. Aguardo, sim, o dia em que poderei abraçá-los carinhosamente e transmitir “ao vivo” o enorme amor e carinho que sinto por eles, mas enquanto esse dia não chega, é uma bênção ter a internet a meu favor numa hora dessas. 

Assim como as meninas tem uma canção dedicada a elas no Hinamatsuri, como não poderia deixar de ser, os meninos também têm uma canção dedicada a eles. Que tal homenagearmos todos os meninos, ouvindo a antiga e popular canção alusiva à essa data? A canção é Koinobori e para acessá-la, é só clicar neste link, ok?

Feliz Dia das Crianças! Feliz Dia dos Meninos!

~ Bia ~

Primavera cor-de-rosa no Japão

Fonte: Quickly Travel | Monte Fuji e Sakura

Está oficialmente aberta a temporada de flores no Japão e para o deleite da população, quem, em todo o seu esplendor, inaugura esta belíssima estação é a tão aguardada flor de cerejeira, mundialmente conhecida por sakura, que pincela o país em vários tons de rosa nesta época do ano. Simmm… desde o dia 21 de março, Equinócio da Primavera na terra do sol nascente (Shunbun no Hi), que marca o término do rigoroso inverno e o início da primavera, a previsão do dia de florescimento das sakuras em cada região, viram as notícias mais importantes desta estação. O fenômeno do desabrochar desta flor, que acontece primeiro no sul, onde o clima é mais quente, e depois mais ao norte, onde o clima é mais frio, é chamada de “linha de frente das cerejeiras”, ocasião em que os japoneses esperam, empolgados, pelo florescer das sakuras de sua região, ocorrendo geralmente entre o final de março e começo de abril, para fazer passeios ao ar livre.

Fonte: Japan Meteorological Corporation

Em plena floração, a flor de cerejeira é o marco de importantes eventos, como as cerimônias de graduação em março e as cerimônias de ingresso nas escolas, faculdades e empresas em abril, considerados pontos de virada essenciais na vida dos japoneses. Assim, a sakura está enraizado no coração de toda a população, trazendo à tona sentimentos como a alegria de presenciar o crescimento dos filhos, a gratidão pelas pessoas e também expectativas e preocupações em relação a um novo começo, sendo até mesmo possível apreciar diversas canções que expressam esses sentimentos através desta flor. Uma das minhas preferidas é a do cantor Naotaro Moriyama e se você tiver curiosidade, não deixe de ver esse video que acabei de encontrar no Youtube:

Sakura – Naotaro Moriyama

No Japão, mais de 100 espécies de cerejeiras florescem em todo o país, apreciadas não só pelos japoneses, mas pelos estrangeiros, sendo a primavera a estação que mais atrai turistas do mundo inteiro, que visitam o país exclusivamente para contemplar essa flor, cuja floração acontece uma única vez a cada ano. Em razão da curta duração de 7 a 10 dias, porém intensa e fascinante, para muitos japoneses, as sakuras remetem à vida humana no sentido da grandiosidade e efemeridade. Assim, elas florescem e no auge de sua floração e beleza, as flores começam a cair, mostrando que, embora a vida seja bela, também é curta e passageira, passando a ser relacionada com o conceito de wabi-sabi (refere-se à beleza de poder sentir a profundidade e a riqueza da natureza em meio à tranquilidade), que faz parte da estética e espiritualidade japonesa. 

Fonte: CicloVivo

Definitivamente, o Hanami Matsuri, que quer dizer “Festival de contemplação das flores”, é um dos mais belos festivais do Japão, com várias atividades que são realizadas em torno destas árvores, como festivais com músicas e danças. Mas a principal atividade é, sem dúvida, o tradicional piquenique sob as árvores repletas dessas delicadas flores. É uma tradição que existe há séculos, sendo preservada e praticada pela maioria das famílias japonesas. Por causa da sua popularidade, muitas famílias chegam a madrugar para garantir um bom lugar nos parques, a fim de reunir  famíliares e/ou amigos, para apreciarem a beleza das flores, enquanto saboreiam o tradicional “obentô”, geralmente acompanhado do indispensável chá, além de bebidas alcoólicas, como saquê e cerveja, ficando até o escurecer para celebrarem essa ocasião que tem um significado muito especial: tudo o que é bom, dura pouco!

Fonte: Good Luck Trip

Neste sentido, o hanami à noite é chamado de Yozakura (literalmente “sakura noturno”) e, em muitos lugares, como no Parque Hirosaki, localizado na província de Aomori, que abriga cerca de 2600 árvores de 52 espécies, incluindo a yae-beni-shidare, é possível apreciar o esplêndido espetáculo das flores, especialmente iluminado à noite durante o período do festival, que neste ano ocorrerá do dia 21/04 a 05/05.

Fonte: Japan House

Um pouquinho mais ao norte, dentre os inúmeros pontos famosos para apreciar as belas flores de cerejeira, a estrada Nijukken-Shinhidaka, na província de Hokkaidō, possui um trecho reto de 7 quilômetros com mais de 2000 árvores, que formam a fileira de sakuras mais longa do Japão. 

Fonte: Viagem e Turismo

Do final de março ao início de abril, as passarelas ao redor do fosso Chidorigafuchi, perto do Palácio Imperial, são tingidas de rosa por centenas de cerejeiras, proporcionando uma das vistas mais impressionantes de Tóquio. Esta visão mágica atrai muitos visitantes e nas noites em que as flores são iluminadas, é possível alugar barcos para desfrutar de um belo passeio noturno sob o túnel brilhante de sakuras refletidas na superfície da água. No final da temporada, o fosso fica quase completamente coberta de pétalas, criando a ilusão de um rio rosa etéreo.

Fonte: Quickly Travel | A circunferência de Yamataka Sakura é de 11,8 metros em torno de suas raízes externas

No entanto, a maior e a mais antiga cerejeira do Japão está localizada nos jardins do templo Otsuyama Jisso, na cidade de Hokuto, província de Yamanashi. Chamada de Yamataka Jindai Sakura (Zakura), Yamataka Kamishiro Sakura, entre outros nomes, a antiga árvore é Patrimônio Natural do Japão e existe há, pelo menos, 2 mil anos, de acordo com histórico divulgado no site oficial da prefeitura de Hokuto. Durante a floração, que ocorre entre a última semana de março e início de abril, podendo variar de acordo com as condições climáticas, seus longos galhos, que percorrem por uma extensa área no templo, são cuidadosamente amparados por varas para que não se quebrem com o peso das flores. Junto à Usuzumizakura de Motosu (província de Gifu) e à Miharu Takizakura (província de Fukushima), elas são conhecidas como as Três Grandes Cerejeiras do Japão.

Fonte: Qual Viagem

Localizada na província de Nara, Monte Yoshino é um dos lugares mais belos do Japão para admirar a sakura. Uma trilha que passa pelos pequenos vilarejos da montanha, colorindo uma extensa área de 8 quilometros de degrade rosa, leva ao topo para um deslumbrante cenário de 30.000 cerejeiras inalteradas por um milênio, que cobrem os vales e as cordilheiras, florescendo no início até o final do mês de abril.

Fonte: Japan House | Templo Tsubosaka

No templo Tsubosaka – Takatori, também na província de Nara, cerca de 300 cerejeiras somei-yoshino, criam a ilusão de que as construções flutuam entre as flores, cobrindo até mesmo a estátua de Buda feita de pedra, com cerca de 15 metros, chamada de “Sakura Daibutsu”. O melhor período para visitar o local vai do fim de março ao início de abril, valendo a pena ver as cerejeiras iluminadas, inclusive, durante à noite.

Fonte: Mitoyo Kanko

Quando o tempo está ensolarado, do topo do Monte Shiude, situado em Mitoyo, na província de Kagawa, é possível ver a famosa Grande Ponte de Seto (Seto Ohashi).  Na primavera, cerca de mil cerejeiras florescem e o contraste da montanha cor-de-rosa com o azul do Mar Interior de Seto é de tirar o fôlego!!! 

Mesmo diante desses inusitados panoramas, onde é possível se encantar com diferentes cenários cor-de-rosa, vale lembrar que o Japão nos contempla com centenas de outros locais, onde as cerejeiras esbanjam sua imponência, e qualquer que seja o lugar que a gente more ou vá passear, neste curto período de floração, sempre tem uma bela sakura nos dando boas-vindas para curtirmos a estação mais agradável e aguardada pelos japoneses, que costumam dizer que o ano só começa de verdade quando a primavera chega e o inverno dá o seu adeus.

Fonte: Japan House | Hana Kasane, doce japonês inspirado na Sakura

Além dos belíssimos espetáculos a céu aberto, a sakura também é apreciada na vida cotidiana. Doces como o hanami dango e o sakura mochi podem ser encontrados não só em lojas especializadas em doces japoneses, mas também em lojas de conveniência. Outros doces, como a hana kasane, são tão bonitos que nos entretêm só de olhar. É possível encontrar, também, roupas, acessórios e objetos de arte com o tema sakura, além de perfumes e cosméticos com a fragrância desta flor. 

Deste modo, as sakuras nos lembram que é preciso aproveitar a beleza enquanto ela está presente, pois o mundo não é o tempo todo cor-de-rosa, nos mostrando que a natureza tem seu próprio ritmo e as coisas começam e terminam, independente da nossa vontade. Além do significado profundo, da beleza do transitório e do renascimento, a primavera no Japão é a estação propícia para celebrar a vida com amigos e familiares, sendo uma ótima época para começar novos projetos e renovar esperanças, pois como declama a poetisa Crysgrer: “Meu mundo não é azul. Nem cor-de-rosa. Ele tem vida, sentimento e saudade da outrora. Há defeitos. Ajustes. Começos, tropeços e recomeços”.

~ Bia ~

“Hinamatsuri”: Dia das Meninas no Japão

Fonte: Caçadores de Lendas / Japão

Assim como o Dia dos Namorados (Valentine’s Day e White Day) é comemorado separadamente, o Dia das Crianças também é celebrado em diferentes datas no Japão. Desse modo, a festividade alusiva ao Dia dos Meninos (“Kodomo no Hi”) é no dia 5 de maio e hoje, 3 de março, é o dia em que os holofotes estão direcionados exclusivamente às meninas.

Simmm! Hoje é o Dia das Meninas, conhecido por “Hinamatsuri” e também como “Momo no Sekku” (Festival de Flores de Pessegueiro), por coincidir com a primeira floração dessas árvores, indicando o término do inverno e o início da primavera, cujas belas e delicadas flores simbolizam um matrimônio feliz para as futuras donzelas. É uma das tradições mais bonitas do Japão, pois é o dia que as famílias que têm filhas pequenas, pedem às divindades por saúde e boa sorte, vestindo-as com kimono, para receberem suas amiguinhas para um lanche, para cantarem e se divertirem.

Fonte: Caçadores de Lendas / Japão

Neste festival, as famílias costumam decorar suas casas com bonecas típicas chamadas “hina ningyo” pois muitas creem que essas bonecas têm o poder de proteger as meninas de doenças, acidentes e espíritos malignos. Essa antiga crença de que os infortúnios podem ser transferidos para as bonecas começou no Período Heian (794 – 1185), onde o ritual consistia em colocar uma boneca feita de palha ou papel no corpo da menina, para que o “mau-olhado” passasse para a boneca sendo, então, colocada em um pequeno barco de palha e enviada às águas do rio. Através dessa prática, conhecida como “Hina Nagashi”, acreditava-se que todos os maus fluidos seriam levados pela correnteza. 

No entanto, durante o Período Edo (1603 – 1868), ao invés de cultuarem o “Hina Nagashi”, as famílias optaram por colocar as bonecas “Hina” em exposição por um curto período de tempo em suas próprias casas, fazendo oferendas e orando pelo crescimento saudável e pela felicidade das meninas. Com o passar dos tempos, as bonecas de palha foram substituídas por luxuosos bonecos de cerâmica, considerados atualmente como herança de família, cujas valiosas peças são cuidadosamente embaladas e guardadas para serem novamente expostas no próximo ano. 

De modo similar aos presépios que são montados na época do Natal, em meados de fevereiro, monta-se um “altar” forrado preferencialmente com um tecido de seda vermelha, onde um sofisticado conjunto de bonecos ficam expostos sobre uma plataforma de cinco a sete degraus (Hina-dan), que representam a antiga Corte Imperial japonesa. Além dos bonecos, pequenos utensílios e peças de mobiliário são dispostos nos andares inferiores do altar, assim como pequenas árvores “Ukon no Tachibana”, uma miniatura de laranjeira, que fica sempre à direita e a  “Sakon no Sakura”, árvore de cerejeira, que fica à esquerda sendo, muitas vezes, substituída por um pessegueiro, posto que seja a estação do desabrochar de suas flores, o que faz desta exibição uma verdadeira produção artística.

Fonte: Coisas do Japão

A disposição dos bonecos segue uma hierarquia que representa o Palácio Imperial, sendo expostas na seguinte ordem:

• O topo é reservado ao Imperador (O-Dairi-sama) e a Imperatriz (O-Hina-sama) ricamente trajados, sentado diante de um biombo dourado e iluminado por duas lanternas (bom-bori); 

• Na sequência figuram três damas da corte, representando a aristocracia;

• O terceiro nível  é composto por cinco músicos que representam os artistas e literatos;

• Em seguida, dois ministros que representam os funcionários do governo, religiosos e as oferendas;

• No quinto nível,  três samurais simbolizam a classe guerreira e os domínios feudais;

• No sexto nível são dispostos objetos usados na Corte, como miniaturas laqueadas de móveis, baús para quimonos, penteadeira, caixa de costura, utensílios para a cerimônia do chá, entre outros;

• Por fim, no sétimo nível encontram-se os objetos usados pelo povo em geral, tais como miniaturas laqueadas de carroça de boi, palanquim, caixas empilháveis, carroça de flores, etc.

Fonte: Yawataya Ningyo Center

No entanto, manter-se em dia com essas tradições está ficando cada vez mais difícil para muitas famílias japonesas. Devido à falta de tempo, altíssimo valor das delicadas peças (o conjunto completo de bonecos custa de 3 a 5 mil dólares) e também pela falta de espaço, muitas famílias vêm optando por modelos compactos com 5 ou 3 plataformas ou menores ainda, contendo apenas a Imperatriz e o Imperador. Porém, qualquer que seja a escolha, os bonecos devem ser guardados imediatamente após o festival, mais precisamente no dia 4 de março, pois existe a superstição de que manter os bonecos por mais tempo resultará em um casamento tardio para as filhas.

Fonte: Kodawari Times

Como em muitos outros feriados, no “Hinamatsuri” as famílias japonesas também apreciam pratos especialmente elaborados para essa ocasião. Um dos mais populares é o Chirashizushi, que é uma tradicional iguaria japonesa composta por arroz levemente ácido, com uma variedade de ingredientes, incluindo vegetais como raízes de lótus, omelete em tiras e frutos do mar que são espalhados por cima do arroz. 

Fonte: Kodawari Times

Outro prato muito apreciado é o “Hamaguri Ushio-jiru”, uma sopa que contém mariscos como ingrediente principal, cujas conchas simbolizam a união e a tranqüilidade de um casal, pois apenas duas conchas simétricas podem se encaixar perfeitamente. Dizem que, assim como os flocos de neve, não há dois mariscos iguais. 

Fonte: Japankuru

Cremoso e levemente adocicado, oAmazake é uma bebida quente japonesa muito popular durante o Hina Matsuri como uma opção não alcoólica ao “shirozake”, ​​um saquê branco doce, que é tradicionalmente servido neste dia.

Coisas do Japão

Para a sobremesa, não podem faltar doces com tema de primavera, como o “Sakura Mochi”, bolinho de arroz recheado com feijão doce e enrolado em uma folha de cerejeira.

Fonte: Nippon.com

Outra sobremesa que também compõe o cardápio desta festividade é o “Hishimochi”, que é um bolinho de arroz com três camadas coloridas, em formato de diamante. Antigamente (Período Edo), acreditava-se que este doce estava associado à fertilidade.

Fonte: Coisas do Japão

No lanche da tarde, as crianças aproveitam para “beliscar” o “Hina Arare” que são  biscoitinhos coloridos à base de arroz, revestidos com açúcar, mas não muito doces e com  textura crocante. 

Fonte: Caçadores de Lendas / Japão

Diante de tanta formosura e gostosura, é inegável que o Dia das Meninas no Japão é um evento marcado pela graça e beleza, tanto da homenageada, vestindo o tradicional kimono, como dos preciosos bonecos em seus riquíssimos trajes cerimoniais. E… como não poderia deixar de ser, tudo alinhado às delicadas flores, que representam os traços femininos de gentileza, serenidade e tranquilidade, indispensáveis neste dia. Apesar de estar tão distante da minha princesinha Lia, que acabou de completar 7 meses, escrevi este post dedicado à ela pois, mesmo não estando presente neste momento, chegará o dia em que farei uma linda festa para comemorarmos juntas o “Hinamatsuri”!!! 

Você já conhecia esse belíssimo festival? Que tal homenagear todas as meninas, ouvindo a antiga e popular canção alusiva à essa data? A canção é ‘Ureshii Hinamatsuri’ (Feliz Dia das Meninas) e, para acessá-la, é só clicar neste link, ok?

~ Bia ~

Valentine’s Day e White Day no Japão

Fonte: Arakaki Sensei

Não faz parte da cultura japonesa celebrar a Páscoa, de modo que muitos japoneses nem fazem ideia que nós, brasileiros, apreciamos os chocolates que enfeitam os tradicionais corredores de ovos de Páscoa nos mercados e as chocolaterias, no período alusivo à essa comemoração. 

Entretanto, no final de janeiro até meados de fevereiro, temos a sensação de que a Páscoa chegou mais cedo neste país, pois uma grande variedade de chocolates com diferentes sabores e designs, embelezam as gôndolas das lojas de departamentos e afins, onde podemos encontrar chocolates de tudo quanto é tipo, preço e formato, com exceção, é claro, dos ovos de Páscoa que por aqui só encontramos nas lojas de produtos brasileiros, no período em que esta data é comemorada no Brasil. 

Mas, vocês sabem o motivo de tantos chocolates serem vendidos nesta época do ano?    

Ledo engano se vocês acham que é por causa do Dia do Chocolate!!! Se no Brasil o Dia dos Namorados é comemorado no dia 12 de junho, no Japão, seguindo a tradição européia e americana, comemora-se o Dia dos Namorados (Valentine’s Day), no dia 14 de fevereiro. Porém, inusitadamente neste país, essa data é comemorada em dose dupla, sendo que em fevereiro somente as mulheres oferecem chocolates aos homens (Valentine’s Day) e em março, mais precisamente no dia 14, conhecido por White Day (Dia Branco), é a vez dos homens retribuírem chocolates para as mulheres.

Fonte: JR Tower

Essa “mania” dos chocolates é meramente comercial e foi introduzida pela confeitaria Morozoff, na cidade de Kobe, no ano de 1936, sendo posteriormente popularizada por meio de boas estratégias de marketing, de modo que, atualmente, as empresas de chocolates vendem mais da metade de seus estoques anuais durante as semanas que antecedem essas duas datas comemorativas.

Fonte: Gourmet Watch

O que chama a atenção é que, diferente do nosso costume, onde só os casais se presenteiam, por aqui é comum as mulheres oferecerem chocolates no Valentine’s Day, não só para os namorados, mas para os amigos, colegas do trabalho e/ou da escola e também para os familiares, existindo até mesmo uma classificação de qual chocolate comprar, dependendo do grau de relação com a pessoa a ser presenteada.

Fonte: Dia a Dia

Assim, o “honmei-choco” é o chocolate oferecido à pessoa “especial”, por quem a mulher está apaixonada, e se ainda não estão juntos ou o amor é “platônico”, é uma forma de declarar seu sentimento. Muitas mulheres optam, inclusive, por fazer o chocolate artesanalmente, pois através desse gesto, esperam demonstrar o quanto a pessoa é importante para ela. 

Já o “giri-choco” é o chocolate da convivência social e é oferecido aos chefes, professores, clientes e colegas no trabalho, como demonstração de amizade ou gratidão. Nas vésperas desta data comemorativa, é comum ver as mulheres comprando dezenas de caixas de chocolates, tomando o cuidado em escrever a palavra “giri” na embalagem, para não dar margem às interpretações equivocadas.

De uns tempos para cá, para alavancar ainda mais a venda de chocolates neste período, as empresas de chocolates criaram, estrategicamente,  o “family-choco” para as mulheres presentearem os homens da família (marido, filho, pai, irmão, tio, primo e avôs) e o “tomo-choco” que é chocolate oferecido para os amigos e para as amigas, como demonstração de carinho e também pra ninguém ficar de fora no dia que mais parece dia do chocolate do que dia dos namorados, não é mesmo? Mais recentemente, criaram o “gyaku-choco” como uma opção para os casais apaixonados trocarem chocolates no mesmo dia, ou seja, no Valentine’s Day. 

Independente desta classificação, a data é bastante aguardada pelas mulheres japonesas, especialmente pelas mais jovens e solteiras, que aproveitam a ocasião para se declarar à pessoa amada, oferecendo-lhe o “honmei-choco”.

Desse modo, envoltos neste clima romântico ou de gratidão, um mês após o Valentine’s Day, no dia 14 de março, conhecido por White Day, é a vez dos homens “devolverem” os presentes.  Por que White Day?

 

Fonte: Binus University

Tudo começou em 1978, quando uma confeitaria japonesa lançou o “Dia do Marshmallow” como forma de promover seus marshmallows, especificamente para os homens, incentivando-os a retribuir os presentes recebidos no Valentine’s Day. Essa iniciativa inspirou a Associação Nacional da Indústria de Confeitaria do Japão a implementar, em 1980, o “White Day” (Dia Branco) como resposta ao Dia dos Namorados. O nome “White Day” foi escolhido, tanto pela cor do marshmallow que é branco, como também por ser o símbolo da pureza, estando intimamente associada à inocência do amor adolescente na cultura japonesa. Bela sacada, vocês não acham? 

Fonte: Moshi Moshi Nippon

Embora os marshmallows tenham sido o presente original do White Day, outros doces como biscoitos, “macarons” e chocolates brancos são atualmente mais populares, sendo que, no final do mês de fevereiro, as lojas de departamentos e afins, intensificam suas campanhas publicitárias oferecendo uma enorme variedade de doces, apresentados em lindas embalagens, incluindo até mesmo itens de luxo, como perfumes, jóias e bolsas. 

Fonte: Live Japan

O interessante nesta história toda é que, no caso do homem ter recebido uma declaração de amor, a mulher que lhe ofereceu o “honmei choco” só saberá se é correspondida, no White Day. Se ele oferecer um presente superior a três vezes o valor do presente recebido (“sanbai gaeshi”), a resposta é óbvia, né? No entanto, como é considerado uma desfeita o homem não retribuir, ao “devolver” com um “presentinho” proporcional ao valor recebido, é sinal de que não está interessado num relacionamento mais sério. 

Como acabamos de ver, o hábito de presentear chocolates no Valentine’s Day e White Day está enraizado na cultura japonesa sendo, muitas vezes, vista como uma obrigação social. Não participar da troca de chocolates pode ser interpretado como deselegância, mas muitas mulheres japonesas vêm, recentemente, se opondo ao que consideram uma prática estressante de “doação obrigatória”.

A contrariedade é direcionada ao “giri-choco”, pois muitas delas sentem-se pressionadas a gastar milhares de ienes em chocolates, para evitar ofender chefes e colegas de trabalho. No intuito de minimizar essa percepção de assédio trabalhista, muitas empresas estão, atualmente, proibindo tal prática no ambiente de trabalho. Desse modo, ao invés de dar “giri-choco”, muitas japonesas aderiram ao “jibun-choco”, ou seja, estão mais propensas a se auto-presentear com sofisticados chocolates. Nada mau, heim? 

Fonte: Nippon.com

Aproveitando-se deste comportamento, um número crescente de homens japoneses vêm optando cada vez mais pelo “gyaku-choco”, preferindo dar chocolates e/ou presentes para suas esposas, namoradas ou  “crushes” no Valentine’s Day e não mais no White Day. E aí, o que vocês acham? 

Apesar desses dois eventos serem atípicos aos nossos olhos, os japoneses levam muito a sério esse festival de chocolates. Eu, particularmente, acho que o dia dos namorados, qualquer que seja a data, deve ser comemorada apenas entre casais, pois é uma data especial em que podemos celebrar a união, a cumplicidade, o respeito e a dedicação entre ambos, durante o decorrer do ano.

Fonte: Divvino

Depois de tanta conversa, encerro este post  parabenizando a Dani e o meu genro Murilo pois, coincidentemente, casaram no Dia de São Valentim e hoje, 14 de fevereiro, estão comemorando as bodas de marfim (14 anos). Aproveitem para celebrar, curtindo um jantar especial, de preferência à luz de velas, num bom restaurante da cidade. Que romântico, heim? Como estou no Japão, pra não deixar a data passar em branco, vou já já degustar o meu “jibun-choco”, ou seja, o delicioso chocolate da Godiva que eu, merecidamente, comprei para mim mesma, rs. 

~ Bia ~

O Japão se veste de branco no inverno

Templo Kiyomizu-dera, em Kyoto | Fonte: Mundo-Nipo

Quando as últimas folhas do outono caem anunciando o início do inverno, os japoneses se preparam para “curtir” ou “descurtir” a estação mais fria do ano. À medida que o inverno se aproxima (meados de dezembro), a temperatura começa a cair e em diversas regiões, onde o inverno é mais rigoroso, observa-se anualmente uma enorme quantidade de neve.

Para a maioria de nós, brasileiros, que vivemos num clima tropical e raramente temos a oportunidade de ver a neve, contemplar o manto branco em todo o seu esplendor é, sem dúvida, um colírio para os nossos olhos. Muitos turistas viajam grandes distâncias para ver esse lindo espetáculo da natureza e como o Japão é um país densamente montanhoso, possuindo muitos picos para a prática de esportes de inverno, é um dos principais destinos de esqui e snowboard do mundo.

Remoção de neve | Fonte: Audrey Kletscher Helbling

No entanto, na mesma proporção que causa fascinação, a neve pode se tornar extremamente indesejável. Essa semana, mais precisamente no dia 24 (terça-feira), várias regiões do país foram duramente castigadas por uma forte nevasca, causando muitos transtornos para a população. Centenas de voos e trens foram cancelados e o tráfego nas rodovias ficou paralisado, gerando um verdadeiro caos no sistema de transporte público. Sem contar que, para evitar acidentes, é preciso tomar muito cuidado para remover a neve acumulada no telhado, não derrapar ao dirigir e, até mesmo, não escorregar caminhando nas calçadas.

Hokkaido | Fonte: Japão com Tsuge

Mas… como diz o velho ditado que “depois da tempestade vem a bonança”, após as turbulências, tudo volta ao normal e convenhamos que a neve possui, sim, um caráter lúdico que proporciona momentos de lazer, diversão e alegria para crianças e adultos. 

Tomamu Resort Hokkaido | Fonte: Hoshino Resorts

Neste sentido, a possibilidade de praticar esqui, snowboard e outras modalidades esportivas tem atraído cada vez mais turistas para as montanhas de Hokkaido (província situada no norte do país), principalmente pela excelente qualidade da neve powder, trazida pelos ventos da Sibéria que varrem a ilha nesta época do ano, proporcionando uma abundante neve fresca. Na região, um dos destinos preferidos é Sahoro, que oferece uma boa variedade de pistas para iniciantes e avançados, caminhadas de inverno, snowmobile e atrações para crianças. Entretanto, no Tomamu Resort Hokkaido, um dos destaques é a prática do esqui noturno, modalidade ainda pouco existente em outros lugares do mundo.

Festival de Neve de Sapporo | Fonte: Hokkaido.a4jp

Desse modo, Hokkaido é a “queridinha” do Japão quando se fala em neve. Aliada à paisagem cênica de deixar qualquer um de queixo caído, um dos maiores festivais de inverno do mundo – Sapporo Snow Festival – transforma os gélidos dias da estação em uma divertida e calorosa festividade. Localizado no Parque Odori, no centro da cidade, no evento que neste ano será realizado entre os dias 4 a 11 de fevereiro, será possível se encantar com um fascinante mundo de neve e gelo que se estenderá por aproximadamente 1.5 quilômetros. Segundo os organizadores, os visitantes poderão desfrutar de uma variedade de atrações, como as gigantescas esculturas de neve, os deliciosos pratos típicos da região, uma pista de patinação e muito mais!!! 

Pinguins em Asahikawa | Fonte: Você na neve

Também vale a pena conhecer o Zoológico de Asahiyama, onde dá pra acompanhar de pertinho a marcha diária dos pinguins e ver esses simpáticos animais nadando a partir de um tubo submerso. Os animais em exibição incluem a vida selvagem nativa de Hokkaido, veados, águias e grous, bem como vários animais de todo o mundo, como ursos polares, macacos, felinos, hipopótamos e girafas. No evento “Asahiyama Zoo by Snow Light” realizado anualmente no início de fevereiro, velas de gelo são acesas para dar ao zoológico uma atmosfera especial, sendo uma ótima oportunidade para conferir como os animais se comportam nas noites de inverno, principalmente as espécies noturnas.

Gelo à deriva | Fonte: Japan-guide.com

Ainda no norte do Japão, uma das melhores maneiras de ver o gelo à deriva (drift ice) é participando de passeios de barco na costa japonesa de Abashiri. Para os caçadores de emoção, algumas agências de turismo também oferecem passeios para caminhar no gelo, sendo possível observar os animais que vivem sobre e sob o gelo e até mesmo nadar no mar com trajes de banho de proteção. Os passeios permitem explorar os fenômenos de perto, enquanto se caminha nos grandes pedaços de gelo flutuantes, sob a orientação atenta de um especialista local. Congelante, não é mesmo? 

Se andar no gelo não é uma boa pedida, que tal pescar no gelo? 

Pesca no gelo | Fonte: Você Na Neve 

Isso mesmo! Difícil acreditar mas milhares de turistas acampam próximos a rios e lagos congelados e se divertem com essa prática, fazendo um buraco no gelo, jogando a isca e esperando a mágica acontecer. Hokkaido é um dos destinos mais procurados para esta modalidade de pesca e está repleta de locais adequados como o Lago Sahoro e Onuma Koen, localizado em Hakodate. 

Vilarejos Shirakawa-go e Gokayama | Fonte: Japão com Tsuge

Imperdível no inverno é visitar os antigos e charmosos vilarejos Shirakawa-go e Gokayama, localizados na região central do Japão. Pelo belíssimo cenário, com as montanhas ao fundo, as casas com telhado de palha (gassho-zukuri) e as árvores cobertas com muita neve, lembrando um conto de fadas, os vilarejos foram tombados como Patrimônio Cultural Mundial da UNESCO em 1995.

Monte Fuji | Fonte: Painel Global

Por outro lado, o inverno é a melhor época para admirar o icônico Monte Fuji, a montanha mais alta do arquipélago japonês, localizada entre as províncias de Shizuoka e Yamanashi. Com a queda da neve, é possível apreciar uma bela coroa branca, que se estende até bem perto do sopé. Só vendo para crer a imponência desta “sagrada” montanha, mundialmente conhecida como símbolo nacional do Japão!!!

Macacos silvestres | Fonte: Japan National Tourism Organization

Pelo fato da província de Nagano, localizada na mesma região, concentrar as montanhas mais altas do Japão e possuir algumas das melhores estações de esqui do país, tornando-a muito atrativa para os turistas, foi a sede das Olimpíadas de Inverno de 1998. Essa província abriga também um dos espetáculos mais inusitados do mundo. O Jigokudani Yaen Koen (Snow Monkey Park) é o habitat de uma tropa de macacos japoneses onde os visitantes têm a oportunidade de vê-los, durante o inverno, mergulhando e relaxando nas fontes termais para se aquecerem. É uma visão excêntrica que pode ser, ao mesmo tempo, surpreendente!!!

Vale de Biwako | Fonte: Living Nomads

Até mesmo nas imediações de Osaka, Kyoto, Nara e Kobe, onde nem sempre neva, é possível a criançada “escorregar” no Biwako Valley, montanha ao norte do Lago Biwa que, por sinal, fica bem próximo de onde estou morando atualmente. Mas… como sou friorenta, ao invés de esquiar, prefiro esquivar-me de lugares que são “branquinhos como a neve”, hehe.

Águas termais | Fonte: Jalan.net

Assim como os macaquinhos de Nagano, adoro curtir as famosas fontes de águas termais, chamadas de onsens. Graças a vasta quantidade de vulcões presentes no Japão, muitas montanhas dão origem a incríveis fontes ricas em minerais, podendo ser encontradas tanto em ambientes internos como casas de banho, hotéis, spas e ryokans (pousadas tradicionais japonesas), como em áreas externas, em meio à natureza e com uma belíssima paisagem.

Sukiyaki | Fonte: Quickly Travel

No inverno japonês, não podemos deixar de saborear o nabemono, que é um dos pratos mais populares da estação. Nabemono é uma palavra composta, onde “nabe” se refere a panela e “mono” significa coisas, de modo que nesse prato os ingredientes (mono) são colocados em uma panela especial (nabe), sendo preparados e servidos na mesa. Alguns dos pratos do nabemono incluem Sukiyaki, Shabu Shabu e Oden. Outra iguaria muito apreciada pelos japoneses são os caranguejos que, ao contrário do Brasil, não são servidos nas praias. Para acompanhar esses pratos quentes, por aqui o costume é beber o saquê, tradicional bebida alcoólica preparada a partir da fermentação do arroz.

De um modo geral, assim é o inverno japonês. Existem as pessoas que são apaixonadas pelo frio e aproveitam o período para se divertirem nas estações de esquis e outras que preferem apenas relaxar nas fontes de águas termais. Há quem prefira descansar nos dias de folga em casa mesmo, debaixo de um cobertor, comendo pipoca e assistindo as séries da Netflix ou tomando chocolate quente enquanto lê um livro. Para os amantes do vinho, não deixa de ser um bom momento para explorar novas uvas, esquentar o corpo, relaxar e degustar deliciosos fondues.

Qualquer que seja a opção, tudo é perfeitamente possível neste adorável país onde, como acabamos de ver, se veste de branco no inverno. Como cada estação tem seus encantos, concordo com Alice Ruiz ao declarar que “neve ou não neve, onde há amigos a vida é leve”. 

~ Bia ~

2023: Ano do Coelho no Horóscopo Japonês

Fonte: Japão em Foco

Feliz Ano Novo!!!

Vamos começar o primeiro post deste ano, emanando pensamentos positivos!!! Então… nada melhor do que lembrarmos que o horóscopo japonês, ou Juunishi, uma versão adaptada do horóscopo chinês, compreende um ciclo de doze anos, representado por doze animais: Rato, Boi, Tigre, Coelho, Dragão, Serpente, Cavalo, Cabra, Macaco, Galo, Cão e Javali, sendo que cada animal é responsável por reger as características de cada ano. Hoje, 1º de janeiro de 2023 inicia-se, no Japão, o ciclo sob a influência do Coelho, de modo que diplomacia, sensibilidade, indulgência e criatividade para lidar com as situações, segundo Adriana Di Lima, são as principais características que delimitam esse signo.

Assim, na terra do sol nascente, o respectivo animal do ano frequentemente adorna os nengajo” que são cartões postais usados apenas no Ano Novo para enviar saudações por escrito, como forma de expressar gratidão e/ou manter contato com amigos, parentes, colegas e conhecidos, pelo menos, uma vez por ano.

Fonte: Tokyo Weekender

Em se tratando de Ano Novo, como a maioria das empresas permanecem fechadas durante os três primeiros dias deste feriado (Sanganichi), muitos japoneses aproveitam para voltar para suas cidades natais a fim de passar esses poucos dias com seus familiares. Assim, no ganjitsu (primeiro dia do ano), muitos têm o costume de levantar bem cedo para apreciar o Hatsuhinode, o belíssimo espetáculo do primeiro amanhecer do ano.

É costume tradicional as famílias se reunirem no café da manhã para saborear o ozooni, uma vez que o mochi (bolinho de arroz) que é o principal ingrediente desta sopa, por ser mastigado e puxado várias vezes, simboliza a longevidade. O osechi ryori, conforme descrito no post anterior, pode ser consumido em qualquer uma das refeições (café da manhã, almoço e/ou jantar) nos três primeiros dias do ano.

Fonte: Kokoro Media

Outra tradição é o Otoshidama, um envelope com uma certa quantia de dinheiro, destinado especialmente às crianças e adolescentes. Esses envelopes, pequenos e ricamente ilustrados, são entregues pelos pais, avós e/ou parentes no Ano Novo, sendo que a quantia ofertada tende a ser proporcional à idade da criança, mas se houver mais crianças na família, são igualmente rateados.

Coisas do Japão

Hatsumode é o termo designado para a primeira visita do ano a um templo e nessa ocasião é comum ver mulheres e homens em trajes típicos japoneses, como kimono e hakama, fazendo uma prece para que o ano seja repleto de saúde e prosperidade. Nestes locais é possível adquirir plaquinhas de madeira chamadas “ema”, nas quais as pessoas sacramentam para que seus desejos se realizem no decorrer do ano que está iniciando.

Fonte: Kumon Brasil

Além disso, muitos japoneses aproveitam para comprar um oráculo chamado Omikuji que descreve se você terá boa sorte em questões relacionadas à dinheiro, saúde, relacionamentos e assim por diante. Após a leitura, costumam colocar os bilhetinhos em locais previamente estabelecidos do santuário como, por exemplo, galhos de árvores ou estacas de madeira.

Fonte: Kumon Brasil

Outro costume muito interessante é o fukubukuro, sacolas contendo uma variedade aleatória de produtos e vendidos com um desconto substancial durante períodos especiais de vendas no Japão, principalmente no ano novo. Cada “sacola da sorte” contém produtos específicos como alimentos, vestuários ou acessórios de computador. É uma tradição de longa data entre os japoneses e ainda hoje essas sacolas são vistas como ótimas oportunidades para adquirir ótimos produtos com valores bem mais acessíveis e convidativos.

Fonte: Live Japan

Como deu pra perceber, Ano Novo no Japão é uma celebração tranquila, familiar e espiritual. Para a maior parte das famílias japonesas é um momento de reflexão sobre o ano que passou, de renovar as energias para o ano que vai começar, de modo que para eles é muito importante terminar o ano em paz, com aquele gostinho de dever cumprido, pois esse sentimento ajuda a trazer, não só prosperidade econômica, como sorte em todos os aspectos da vida no ano que se inicia.

Embarcando nesta onde de bons fluídos, André Mantovanni reforça que o Ano do Coelho será um ano cheio de emoções positivas e excelentes circunstâncias para qualquer tipo de relação. Como o Coelho simboliza paciência e sorte, tudo indica que ele trará o que faltou no último ano: paz e sucesso! Um ano de diplomacia e graça, em total oposição ao cansativo ano do Tigre (2022). Promete ser um ano de sucesso profissional mas para que isso aconteça, requer esforço e compromisso sério, uma vez que, com seriedade, poderemos realizar tudo que planejarmos fazer. 

Vamos, então, focar para que os novos desafios despertem o nosso melhor nesses 12 meses que virão, pois o Ano do Coelho tem tudo para ser maravilhoso!!! Só depende de nós mesmos acreditar nos sonhos e jamais desistir das nossas metinhas, metas e metazonas, porque só assim, seremos capazes de transformar cada dia deste novo ano em um página memorável do livro de nossas vidas!!!

Feliz Ano Novo!!! Que seja um ano abençoado para todos nós!!!

~ Bia e Dani ~

Preparativos para o Réveillon Japonês

Fonte: Elite Resorts

Como já estamos na contagem regressiva do Ano do Coelho (2023), vamos compartilhar como o povo japonês se despede do ano velho e dá as boas-vindas ao ano novo.

O Ano Novo Japonês – Oshougatsu – é a principal celebração no calendário de festividades do país, comemorado entre os dias 31 de dezembro e 3 de janeiro. Repleta de tradição e costumes, cada prática tem um significado especial, no sentido de buscar a renovação, saúde e prosperidade para o ano que vai chegar.

Assim como no Brasil, no final do ano, os japoneses também têm o costume de enviar presentes para seus amigos, gerentes, clientes e professores, a fim de expressar a gratidão. No entanto, ao invés das tradicionais cestas de Natal e dos panetones, dentre os itens mais populares de presentes, conhecidos por Oseibo, estão alimentos frescos (frutos do mar, embutidos, carne e frutas), condimentos, cerveja, chá, café, alimentos enlatados e alguns tipos de sobremesas.

Fonte: Umamama

Nas duas últimas semanas de dezembro, os japoneses começam a fazer uma verdadeira faxina em suas casas, escritórios e empresas, conhecida por Oosouji, “grande limpeza”, como forma de dar um adeus definitivo ao ano que se encerra, porque só então, depois de tudo muito limpo e organizado, será possível começar o ano com o pé direito. Por outro lado, o Susuharai é um ritual de limpeza executado nos santuários e nos templos, acreditando-se que, ao remover as fuligens e as poeiras acumuladas durante o ano, remove-se também as “sujeiras espirituais”, deixando o ambiente purificado para trazer boas energias às pessoas que ali frequentam. 

Fonte: Nishinomiya Shrine

Mais do que os tradicionais enfeites de Natal, a milenar tradição japonesa incita a enfeitar as casas com as decorações conhecidas como oshogatsu-kazari. O Kagami-mochi é um adorno normalmente colocado sobre a mesa de jantar, composta por dois bolos feitos de arroz (mochi) sobrepostos em um pedestal, com uma laranja, chamada daidai, no topo. O arroz utilizado vem da colheita feita no outono e acredita-se que este ingrediente conserva seu espírito puro, trazendo bênçãos e boa fortuna.

Fonte: Kokoro Media

Outro elemento decorativo é o Shimenawa, uma corda trançada feita de palha de arroz ou cânhamo. Estas cordas podem ser decoradas com serpentinas de papel em formato zigue-zague, laranjas japonesas e até mesmo um tipo de samambaia. Embora sejam mais vistas em santuários xintoístas como forma de demarcar um espaço sagrado, durante o Ano Novo é comum encontrá-las enfeitando a fachada das casas.

Fonte: Muza-chan

O Kadomatsu, por sua vez, é colocado em ambos lados dos portões das casas para receber a entidade do Ano Novo, sendo feito a partir da junção de galhos de pinheiro, talos de bambu e muitas vezes flores de ameixeira, para trazer longevidade, prosperidade e perseverança.

Fonte: Muza-chan

O Réveillon, que aqui é conhecido por Omisoka, é o dia em que os japoneses preparam-se espiritualmente para o ano que vai chegar. Na virada do ano, as famílias saboreiam o Toshikoshi soba, um macarrão feito à base de trigo sarraceno, desejando que suas vidas e as de seus familiares sejam duradouras, como os fios longos deste macarrão. 

Fonte: Savor Japan

Outro ritual muito comum é o Moti Tsuki, no qual são preparados bolinhos de arroz conhecidos como mochis, que serão usados em alguns pratos como o Ozooni, uma sopa com mochi, que deve ser consumida no primeiro dia do ano.

Fonte: Conhecendo o Japão

No entanto, a comida típica do ano novo japonês, que costuma ser encomendada ou preparada na véspera do ano novo, é o Osechi Ryori, um conjunto de pequenos pratos tradicionais servidos em belas caixas de “marmita” decoradas em laca de duas ou três camadas chamadas de jubako. Cada item escolhido para compor a jubako contém um significado especial e a seleção varia muito de acordo com as preferências da família ou de cada região. O camarão, por exemplo, representa a longevidade, pois o seu formato lembra as costas “curvadas” dos anciões. A soja preta (kuromame) destaca o desejo de uma vida saudável e as ovas de arenque (kazunoko), simbolizam a fertilidade e a prosperidade dos descendentes.

Fonte: Nippon

Com relação ao jantar de Réveillon, o cardápio é bem diversificado, incluindo pratos populares como sushi, sashimi e hot pot como sukiyaki, yosenabe e shabu-shabu. Em algumas regiões do Japão, as pessoas até começam a comer osechi ryori na véspera de Ano Novo.

Após o jantar, muitas famílias japonesas aguardam o maior evento musical do Japão, o NHK Kouhaku Utagassen que é um tradicional programa televisivo japonês, realizado anualmente na véspera do ano novo, com apresentações dos artistas que mais se destacaram no decorrer do ano, onde há uma competição entre as equipes masculina (shirogumi) e feminina (akagumi). No final do show, pouco antes da meia-noite, os jurados e o público em geral decidem qual grupo teve melhor desempenho.

E, para fechar com chave de ouro o Réveillon japonês, mais do que brindar a chegada do Ano Novo com os famosos fogos de artifícios, tradicional em vários cantos do planeta, no Japão os templos budistas começam a tocar, pouco antes da meia-noite, gigantescos sinos para anunciar a entrada do novo ano. As 108 badaladas dos sinos conhecidas por  joya no kane  representam a dispersão dos pecados ou desejos mundanos do homem, no intuito de purificar a sua  alma. 

Fonte: Photozou

Assim, nos penúltimos dias que antecedem o novo ano, até o último minuto do dia 31 de dezembro, os japoneses cumprimentam os amigos e familiares através de uma expressão típica dessa data, que nós também vamos usar para nos despedirmos de todos vocês neste último post deste ano: yoi otoshio!, que significa “tenha um bom começo de ano!”.

Fonte: Marley de Lima

A gente se vê em 2023. YOI OTOSHIO!!!

~ Bia e Dani ~

Outono é… outono no Japão!!!

Fonte: WeXpats Guide

Ué? Como assim? Outono não é outono em outros países? Claro que sim, mas como as quatro estações são muito bem delineadas no Japão, ao longo deste post, com certeza, você irá compreender porque o outono é literalmente outono nesse país. Então… vamos lá!

À medida que o calor do verão diminui e o frio do inverno começa a se instalar, as densas florestas começam a se transformar em impressionantes tons de laranja, amarelo e vermelho, propiciando um clima perfeito para caminhadas ao ar livre. Jardins e parques tradicionais exibem as cores de outono, atraindo milhares de visitantes ansiosos para se deleitarem com a mudança das folhagens. É esta combinação de clima frio e paisagens surpreendentes que tornam o outono uma das estações preferidas do povo do sol nascente.

O Equinócio de Outono (Shuubun no Hi) celebrado este ano no dia 23 de setembro, marca a entrada oficial do belo outono japonês, estação em que ocorre o fenômeno chamado “kouyou” (Koyo Gari ou Momiji Gari), quando as folhas das árvores ganham lindas tonalidades vermelho-amareladas, deixando a estação com um visual incrivelmente encantador.

Fenômeno kouyou em Hokkaido | Fonte: Japan Guide

O início da “metamorfose” das folhas ocorre em meados de setembro no norte do país, encerrando a mutação no começo de dezembro nas regiões mais ao sul, sendo que o auge do “kouyou” ocorre em novembro, período em que é possível contemplar a árvore que mais se destaca nesse espetacular cenário que é o “momiji”, também conhecida como bordo em português ou maple tree, em inglês.

Yamanaka-ko | Fonte: Caçadores de Lendas

Ao contrário da temporada da flor da cerejeira (sakura), que é bastante curta, podemos apreciar a beleza das folhas com mais tranquilidade, pois o período das folhas de outono é um pouquinho mais longo, sendo uma das melhores estações para passear nesse país. O clima é mais ameno, as comidas sazonais dominam os cardápios e a natureza oferece esplêndidos cenários de deixar qualquer um de “queixo caído”, ainda mais agora que o Japão acabou de reabrir suas fronteiras para o turismo internacional.

A apreciação dessa estação tem um lugar especial no coração dos japoneses, pois assim como a sakura, o outono também enfatiza a efemeridade, ou seja, que tudo é passageiro e precisamos aproveitá-los no momento certo. Desse modo, é interessante saber que existem duas palavras muito usadas nessa época do ano: kouyou (紅葉), que retrata o processo natural da mudança da cor das folhas verdes para o vermelho e o momiji (紅葉), que se refere às folhas avermelhadas, sendo o símbolo definitivo do outono japonês.

No entanto, não podemos omitir que a cor marcante do amarelo dourado de alguns destes cenários, são realçadas pelas folhas da árvore milenar “icho” (Ginkgo biloba), considerada um fóssil vivo, pois já existia no tempo dos dinossauros, há mais de 200 milhões de anos. Essa árvore, também conhecida como nogueira-do-japão, árvore-avenca ou simplesmente ginkgo, possui delicada beleza aliada à força e resistência, sendo o símbolo de paz e longevidade por ter sobrevivido às explosões atômicas no Japão. O dourado dessas exuberantes folhas podem ser apreciadas, em Tokyo, nas alamedas do Icho Namiki (Avenida de Ginkgo), próxima ao Meiji Jingu Gaien Park, considerada uma das avenidas mais populares durante a estação.

Fonte: Caçadores de Lendas

Esse maravilhoso espetáculo também pode ser vislumbrado, inclusive, ao anoitecer, pois assim como na capital japonesa, em diversas localidades como Nikko em Tochigi, Oirase em Aomori, Kyoto, Kamakura, Osaka, entre outras, recebem iluminação noturna em parques, templos e ruas arborizadas, destacando a coloração outonal das folhagens – um deslumbrante show da natureza enaltecido por luzes artificiais.

Kiyomizu-dera em Kyoto | Fonte: Caçadores de Lendas

Além das folhas, não podemos deixar de destacar as incríveis flores desta estação! Elas esbanjam formosura em parques e jardins por todo o país e são atrações imperdíveis para os amantes da natureza. Uma dessas flores é a cosmos, que pode ser vista em várias cores como rosa, amarelo, branco, laranja, entre outras. Crisântemos, jasmim do imperador (osmanthus), lírios-da-aranha-vermelha e arbusto de fogo (kochia), conforme foto a seguir, também ostentam sua beleza nessa época do ano.

Fonte: Wikimedia Commons

Com relação aos produtos típicos, um dos ingredientes mais usados é a batata-doce que aparece em doces, salgados e em praticamente todos os menus e rótulos de produtos por tempo limitado durante esta estação. Outra comida sazonal muito saborosa é o “sanma” grelhado, um peixe longo e esbelto, sendo tão apreciado no Japão que até recebe seu próprio festival, o Meguro Sanma Festival. Neste evento, que ocorre desde 1996, são distribuídos gratuitamente cerca de 7.000 peixes grelhados.

Fonte: Além do Sushi

Desse modo, o outono também é conhecido por ser uma temporada cheia de comidas deliciosas feitas com ingredientes típicos da estação. Além da batata-doce e do peixe sanma, outras frutas e vegetais sazonais que compõem a culinária japonesa são: cogumelo matsutake, abóbora kabocha, castanha (kuri), pera asiática, caqui, uva e maçã.

Fonte: WeXpats Guide

Com uma história rica em simbolismo, as impressionantes árvores multicoloridas representam o equilíbrio e por estarem associadas à paz e à serenidade têm sido, desde tempos antigos, inspiração para os poetas japoneses. Assim, os japoneses vêm preservando suas tradições e são agraciados com quase três meses de clima favorável a passeios e viagens em cenários de tirar o fôlego, não deixando “passar em branco” o belíssimo espetáculo a céu aberto da estação mais colorida do ano, neste fascinante país que também é, como expressa Caetano Veloso na música dedicada à cidade maravilhosa (Rio de Janeiro), cheia de encantos mil!!! Vale a pena planejar uma viagem nessa época do ano porque o outono é, como você acabou de ver, indescritivelmente outonal no Japão!!!

~ Bia ~