Abril Azul: mais informação, menos preconceito!

Fonte: Câmara Municipal de Campo Grande – MS

Para iluminar o Dia Mundial de Conscientização do Autismo, definido pela Organização das Nações Unidas (ONU) para ser comemorado no dia 2 de abril, esse mês “abriu” as portas colorindo vários monumentos em todo o Brasil com luzes azuis, no intuito de chamar a atenção para a campanha nacional, que neste ano traz o tema: “Mais informação, menos preconceito”.

Por que essa data é importante?

Uma vez que muitas pessoas desconhecem o que é o Transtorno do Espectro Autista (TEA), a data tem como objetivo difundir informações, valorizar a importância do diagnóstico, além de conscientizar e mobilizar ações e atividades referentes aos Transtorno do Espectro Autista (TEA), reduzindo o preconceito e a discriminação que cercam as pessoas afetadas por esse transtorno.

Mas, o que é autismo?

De acordo com a Associação Nacional para Inclusão das Pessoas Autistas (ANIA/BR), o autismo é uma condição biopsicossocial que afeta a comunicação, a interação social e o comportamento de uma pessoa. A deficiência biopsicossocial é um modelo que considera a pessoa como um todo, envolvendo aspectos biológicos, psicológicos e sociais. Esse modelo reconhece que as condições de saúde não são apenas resultado de fatores biológicos, mas também de fatores psicológicos e sociais. O autismo é considerado uma deficiência biopsicossocial porque envolve aspectos biológicos, como a genética e o desenvolvimento cerebral, aspectos psicológicos, como o processamento sensorial e a cognição, e aspectos sociais, como a interação social e a adaptação ao ambiente.

Por causa dessas características, a referida associação esclarece que as pessoas com autismo muitas vezes precisam de apoio em diferentes áreas, como terapia ocupacional, fonoaudiologia, terapia comportamental, psicoterapia e educação especial. É importante reconhecer e atender às necessidades biopsicossociais das pessoas com autismo, para ajudá-las a desenvolver todo o seu potencial e ter uma vida plena e satisfatória.

Segundo a Biblioteca Virtual em Saúde, de acordo com o quadro clínico, os sintomas podem ser divididos em 3 grupos:

– ausência completa de qualquer contato interpessoal, incapacidade de aprender a falar, incidência de movimentos estereotipados e repetitivos, deficiência mental;

– o paciente é voltado para si mesmo, não estabelece contato visual com as pessoas nem com o ambiente; consegue falar, mas não usa a fala como ferramenta de comunicação (chega a repetir frases inteiras fora do contexto) e tem comprometimento da compreensão;

– domínio da linguagem, inteligência normal ou até superior, menor dificuldade de interação social que permite levar a vida próxima do normal.

Como acabamos de verificar, esses sintomas prejudicam a pessoa com autismo no seu relacionamento com outras pessoas e podem afetar o desenvolvimento da sua autonomia. Entretanto, os sinais podem ser tão leves que acabam até mesmo passando despercebidos, conforme mencionei no post sobre a Síndrome de Asperger, publicado há dois meses. No entanto, diante destes sintomas, como a suspeita dos pais pode ajudar no processo de diagnóstico do autismo? 

Identificar características do TEA (Transtorno do Espectro do Autismo) nos comportamentos infantis é fundamental para o entendimento da família a respeito do transtorno, além de trazer clareza e direcionamento para promover as melhores intervenções no escopo de oferecer mais qualidade de vida à pessoa autista. O TEA geralmente é identificado por especialistas quando a criança possui entre 1 e 3 anos. Porém, é possível que os próprios pais ou parentes próximos ao convívio com a criança sejam capazes de identificar os primeiros sinais a partir dos 8 meses de vida, sendo que esse diagnóstico precoce melhora o desenvolvimento geral da criança, ajudando-a a ter mais independência e autonomia e, consequentemente, levando-a a adquirir mais habilidades sociais essenciais, fazendo com que tenha capacidade de um convívio melhor em diferentes ambientes.

Neste sentido, conforme a Tismoo, a intervenção precoce tão logo os primeiros sinais do transtorno do espectro do autismo são identificados, é de suma importância pois, por meio desta intervenção, crianças de até 5 anos desenvolvem habilidades de comunicação, ganham competências sociais, aumentando o desenvolvimento cognitivo e habilidades motoras. Quando iniciada logo nos primeiros anos de vida, a intervenção se torna mais eficiente, com maior probabilidade de ganhos no desenvolvimento e reduzindo as chances da manifestação de outros problemas. Dentre eles é importante destacar o Modelo Denver, desenvolvido após duas décadas de estudo e pesquisa, e que em 2012 foi considerado uma das maiores descobertas médicas pela revista Times. O Modelo utiliza princípios da Análise do Comportamento Aplicada (Applied Behavior Analysis), em que os pais e terapeutas utilizam atividades lúdicas e brincadeiras para reforçar os comportamentos positivos. 

De um modo geral, todas as crianças devem ser monitoradas quanto aos primeiros sinais, ressaltando-se que irmãos de crianças já diagnosticadas com autismo estão mais suscetíveis ao risco e devem receber atenção redobrada. Apesar de não ser possível diagnosticar o autismo somente por meio de análises visuais, alguns sinais são comuns e devem receber atenção, tais como: 

  • Repetição de ações contínuas;
  • Dificuldade de relacionamento social; 
  • Limitação de resposta somente ao próprio nome;
  • Pouco entendimento sobre as próprias emoções;
  • Dificuldade em lidar com mudanças; 
  • Repetição de palavras ditas a eles;
  • Dificuldade em receber ou fazer contato físico e visual;
  • Respostas incomuns a ações cotidianas; 
  • Dificuldade de envolvimento em brincadeiras imaginativas. 

Uma vez que os sinais na infância são geralmente evidentes até os 5 anos, dentre algumas orientações que podem ajudar os pais a perceber alterações importantes no comportamento dos seus filhos nos primeiros meses de vida, temos:  

  • Aos 12 meses: crianças autistas podem não responder ao ouvir seu nome, mesmo que repetido várias vezes, mas podem ser capazes de responder a outros sons;
  • Aos 18 meses: em muitos casos, não realizam nenhuma tentativa de compensação no atraso da fala como, por exemplo, a utilização de expressões faciais, sendo que nesta etapa, algumas crianças podem apresentar ecolalia maior que o esperado, repetindo frases e palavras que ouve, seja das pessoas ou quaisquer outros meios de comunicação. 
  • Aos 24 meses: a maioria das crianças autistas não têm o costume de mostrar objetos aos pais na tentativa de interagir e, quando o fazem, geralmente não mantêm contato visual. 

Diante do exposto, na condição de mãe especial, sei o quanto o diagnóstico do autismo ou de qualquer outra deficiência é um baque no primeiro momento, um mar de incertezas e insegurança, sendo extremamente necessário que este sentimento seja acolhido e processado, para que a família se fortaleça nesta nova jornada. Apesar de inesperado em um primeiro momento, é importante buscar ajuda não só para a criança, mas para os pais também. 

Amor é e sempre será o melhor remédio. Toda criança especial precisa de muito amor e não pense que a criança autista não tem sentimentos ou que não goste de carinho! Devemos aprender como dar este carinho, pois cada um sente e reage do seu jeito. Não podemos jamais perder a esperança e devemos sim, acreditar sempre no potencial da criança portadora de necessidade especial que, no post de hoje, é a criança autista. Elogiar e elevar constantemente a sua autoestima vai permitir que ela se desenvolva melhor sabendo que está sendo amada e reconhecida.

Paciência é, sem dúvida, a base de tudo. No caso específico de pessoas autistas, precisamos nos ater que elas não compreendem todos os sinais sociais. Por isso, é importante facilitar a comunicação com frases curtas, utilizar figuras, cores e formas como didática para facilitar a interação. Afinal, demonstrar interesse pelo universo da criança autista através de  interações, cria aproximação e gera confiança, além, é claro, de ajudar no desenvolvimento da interação social. Assim, somadas às intervenções psicossociais baseadas em evidência, tais como terapia comportamental e programas de treinamento para pais, reduz-se às dificuldades de comunicação e de comportamento social, resultando em um impacto positivo no bem-estar e na qualidade de vida de pessoas com TEA e seus cuidadores. As intervenções devem sim, serem acompanhadas de atitudes e medidas amplas que garantam que os ambientes físicos e sociais sejam acessíveis, inclusivos e acolhedores.

Desse modo, nesse evento que é reconhecido internacionalmente como Abril Azul, vamos “abraçar de corpo e alma” esse movimento que visa promover a plena participação de todas as pessoas com autismo na sociedade, garantindo que elas tenham o apoio necessário para exercer seus direitos e liberdades fundamentais. Afinal de contas, os autistas, assim como as aves, são diferentes em seus voos. Todos, no entanto, são iguais em seu direito de voar.

~ Bia ~