É o fim das tartarugas marinhas num mar de lixo sem fim?

Fonte: Blog do Pedlowski

Estava aguardando o final deste mês para falar de 3 eventos comemorativos que se destacaram em junho e que acredito estarem intimamente interligados: o Dia Mundial do Meio Ambiente, celebrado no dia 5, o Dia Mundial dos Oceanos no dia 8 e o Dia Mundial da Tartaruga Marinha no dia 16. Mas… por que estas datas estão correlacionadas?  Porque, assustadoramente, milhares de tartarugas marinhas estão sendo massacradas nos oceanos que se tornaram verdadeiros depósitos de lixos!!! 

Difícil acreditar, mas as tartarugas marinhas que são animais pré-históricos e que estão entre nós há, pelo menos, 120 milhões de anos, convivendo até mesmo com os dinossauros e que vieram resistindo bravamente a todas as mudanças que levaram muitas espécies à extinção, estão na iminência de desaparecer deste planeta. 

A fim de conhecê-las melhor é interessante saber que existem apenas sete espécies de tartarugas marinhas no mundo. São répteis que passam a vida inteira no mar, exceto quando as fêmeas vão às praias para desovar. Por serem migratórias, atravessam oceanos de um continente a outro para se reproduzirem e cada fêmea bota, em média, 130 ovos por ano. O curioso é que, pasmem, de cada 1000 filhotes, somente uma ou duas tartarugas chegarão à idade adulta, enquanto as demais irão servir de alimento para uma vasta cadeia ecológica.Infelizmente, o efeito cascata da atividade humana causou um rápido declínio das tartarugas marinhas e seis das sete espécies estão ameaçadas de extinção. O lixo é, de longe, a maior ameaça à sua sobrevivência. No mar, o plástico vira uma armadilha para as tartarugas marinhas, aprisionando-as em pedaços de redes e outros apetrechos, que se enroscam em seus corpos, levando-as à morte. Caso ocorrido, por exemplo, em julho do ano passado em que 30 a 50 tartarugas marinhas foram encontradas mortas em uma praia na ilha de Kumejima, a 1.600 quilômetros a sudoeste de Tóquio, no Japão, deixando a população local estarrecida diante da lamentável cena dantesca. 

Casos semelhantes vêm sendo constatados em outros locais pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) destacando que, pelo menos, 43 países já registraram tartarugas marinhas envoltas em cordas de plástico, embalagens, cordas de balões e tiras de bebidas enlatadas, alertando que cerca de 1000 tartarugas morrem a cada ano como resultado desse tipo de lixo. Um estudo publicado na Scientific Reports aponta que as tartarugas marinhas que ingerem apenas 14 pedaços de plástico têm um risco aumentado de morte, sendo que as mais jovens estão especialmente em risco porque não são tão seletivas quanto as mais velhas sobre o que comem. Como um dos alimentos favoritos das tartarugas é a água-viva, cujo movimento na água se assemelha ao saco plástico flutuando na superfície do mar, é comum confundirem suas presas e ingerirem esses detritos espalhados pela poluição humana. Algumas passam fome depois de fazer isso, acreditando erroneamente que já comeram o suficiente porque seus estômagos estão cheios e, desnutridas, acabam morrendo!!! 

Para que possamos ter uma noção da extensão do problema dos plásticos oceânicos, a The Ocean Cleanup, uma organização sem fins lucrativos que desenvolve e amplia tecnologias para livrar os oceanos do plástico, ilustra a foto dos detritos que estavam no estômago de uma tartaruga marinha encontrada morta no Oceano Pacifico:

Fonte: Pew Charitable Trusts

E não são só as tartarugas que estão morrendo não! De acordo com o Pew Charitable Trust, “nosso oceano e a variedade de espécies que o chamam de lar estão sucumbindo ao veneno do plástico. Exemplos não faltam, desde a baleia cinzenta que morreu depois de encalhar perto de Seattle em 2010 com mais de 20 sacolas plásticas, uma bola de golfe e outros detritos em seu estômago até o filhote de foca encontrado morto na ilha escocesa de Skye, com os intestinos contaminados por um pequeno pedaço de invólucro de plástico”. Conforme as Nações Unidas, pelo menos 800 espécies em todo o mundo são afetadas por detritos marinhos, e até 80% desse lixo é plástico, estimando-se que até 13 milhões de toneladas métricas de plástico acabam no oceano a cada ano – o equivalente a uma carga de lixo ou caminhão de lixo por minuto. Consequentemente, nós também não estamos imunes a essa ameaça pois como também fazemos parte da cadeia alimentar, o plástico que contamina a água e afeta a biodiversidade marinha chega também à nossa alimentação.

Inclusive, no artigo de Jennifer Ann Thomas, para Um Só Planeta, o oceanógrafo Alexander Turra, responsável pela Cátedra Unesco para Sustentabilidade dos Oceanos atenta que “a poluição prejudica a biodiversidade e os processos da natureza, o que também gera impacto nos benefícios que os oceanos garantem para a humanidade. A sujeira extrapola a superfície dos oceanos, comprometendo o funcionamento e a saúde do mar. Faz com que a espécie humana coloque em risco a própria vida no planeta, pois dependemos do oceano”. 

Desse modo, a menos que sejam tomadas medidas urgentes para resolver esse problema, os cientistas preveem que o peso dos plásticos oceânicos excederá o peso combinado de todos os peixes nos mares até 2050. E certamente será o fim das tartarugas marinhas num mar de lixo sem fim!!! O que fazer?

~ Bia ~