
Não sem motivo, no primeiro dia do ano também comemoramos o Dia da Confraternização Universal e o Dia Mundial da Paz. Afinal, nada é mais prazeroso do que começarmos o ano numa convivência pacífica, não é mesmo?
Mas… como descrever a paz?
Segundo a Infopédia, paz pode ser definida como:
1. Ausência de guerra
2. Fim de uma situação de conflito armado; armistício
3. Relação de concórdia ou harmonia entre pessoas ou grupos
4. Tranquilidade; serenidade
5. Ausência de ruído ou agitação em certo lugar ou momento
Assim, à primeira vista, paz é aquele sentimento profundo que invade a nossa alma quando estamos de bem conosco mesmo e com todas as pessoas, de modo a nos proporcionar uma agradável sensação de bem-estar-bem.
No entanto, é preciso reiterar que a paz está inserida num conceito muito mais amplo e polissêmico (palavra que tem dois ou mais significados) e, no caso do Dia Mundial da Paz, não celebramos apenas a busca pela paz relacionada à tranquilidade e ausência de conflitos, mas principalmente à paz que minimize a realidade de muitas pessoas que sofrem com as desigualdades, a violência, a fome e a miséria.
Desse modo, a paz também representa uma transformação social que incite à inclusão universal das pessoas. Todavia, temos que convir que a luta pela paz no mundo atual ainda é irrisória, pois além dos vários conflitos étnicos, territoriais e de outras ordens pelo mundo, como a guerra entre a Russia e a Ucrânia e os frequentes confrontos entre judeus e palestinos no Oriente Médio, existe também a necessidade urgente de se combater a miséria, as epidemias e a fome em vários cantos do planeta. Para se ter uma ideia, segundo dados do Banco Mundial, 3,4 bilhões de pessoas vivem abaixo da linha da pobreza. Dá para acreditar?
Em razão desta triste realidade, é óbvio que para promovermos a paz, seja necessário algo muito mais promissor do que uma simples data comemorativa. Neste sentido, o Papa Paulo VI (1897-1978), ao proclamar em 1967 uma mensagem, no qual foi instituído o 1º dia do ano como sendo a data oficial para celebrarmos a paz mundial, não desejou que a comemoração se restringisse apenas aos católicos, uma vez que para ele, a verdadeira celebração da paz só estaria completa se envolvesse todos os homens, não importando a religião. Na ocasião, ele expressou o anseio de que esta iniciativa ganhasse adesão ao redor do mundo e fosse celebrado pelos “verdadeiros amigos da Paz”, independente de credo, etnia, posição social ou econômica.
Contudo, por ser uma data religiosa vinculada à Igreja Católica, o Vaticano realiza anualmente uma cerimônia oficial, propondo um tema para o Dia Mundial da Paz, escolhido pelo próprio Papa, a fim de tocar o coração das pessoas, tornando-as mais humanas e interessadas no bem comum, na paz entre os homens. Até hoje foram abordados 56 temas, expostos nos discursos dos papas durante a ceia de Natal, sendo que as questões levantadas abordam assuntos relacionados à solidariedade, conflitos mundiais, pobreza, infância e adolescência, educação, direitos humanos, perdão, entre outros.

Deste modo, a mensagem para a celebração deste ano tem como tema ‘Ninguém pode salvar-se sozinho. Juntos, recomecemos a partir da Covid-19 para traçar sendas de paz’, estabelecendo uma ligação entre a pandemia e a guerra na Ucrânia. Na sua mensagem para o Dia Mundial da Paz, o Papa Francisco elogia os esforços, por vezes heróicos, que permitiram enfrentar a pandemia, mas sublinha que “o vírus da guerra é mais difícil de derrotar”. Convida o mundo a “mudar o coração” no pós-pandemia, destacando que o impacto causado pela Covid-19 tenha que reforçar o “sentido comunitário” e de fraternidade, na humanidade.
Ele também nos leva à reflexão com a seguinte pergunta: – O que, de fato, aprendemos com esta situação de pandemia?
A mensagem papal, adaptada pela Agência Ecclesia, considera que a confiança posta no progresso, na tecnologia e nos efeitos da globalização gerou uma “intoxicação individualista e idólatra”. Papa Francisco sustenta que “não podemos ter em vista apenas a nossa própria proteção, mas é hora de nos comprometermos em prol da cura de nossa sociedade e do nosso planeta, criando as bases para um mundo mais justo e pacífico, seriamente empenhado na busca de um bem que seja verdadeiramente comum”.
Referindo-se à atual situação na Ucrânia, o Papa ressalta que “esta guerra, juntamente com todos os outros conflitos espalhados pelo mundo, representa uma derrota, não só para as partes diretamente envolvidas, mas também para a humanidade”. E, numa reflexão dedicada ao mundo pós-pandemia, lamenta que o mundo enfrente agora “uma nova e terrível desgraça”, indicando que “assistimos ao aparecimento de outro flagelo – uma nova guerra – comparável em parte à Covid-19, mas pilotado por opções humanas culpáveis”.
Assim, ele destaca que a guerra na Ucrânia “ceifa vítimas inocentes e espalha a incerteza, não só para os que são diretamente afetados por ela, mas de forma generalizada e indiscriminada para todos, mesmo para aqueles que, a milhares de quilómetros de distância, estão sentindo os seus efeitos colaterais“. Indica que precisamos “desenvolver, por meio de políticas adequadas, o acolhimento e a integração, especialmente em favor dos migrantes e daqueles que vivem como descartados nas nossas sociedades”, defendendo que “só a paz que nasce do amor fraterno e desinteressado pode ajudar a “superar as crises pessoais, sociais e mundiais”.
Posto isso, o Papa Francisco anseia para que todos nós possamos “caminhar juntos, valorizando tudo o que a história possa ensinar”. Ao encerrar a mensagem, ele formula votos para que todos os homens e mulheres de boa vontade possam, como artesãos de paz, construir, dia após dia, um ano feliz!!!
Neste sentido, Dom Julio Endi Akamine, Arcebispo da Arquidiocese de Sorocaba, expressa que “fomos criados para a paz e não para a guerra e mais do que um projeto desejado pelas pessoas, a paz é primeiramente um atributo do próprio Deus, de forma que optar por práticas e por políticas que evitem o conflito significa ser coerente com a própria natureza humana”.
Ele enfatiza que a paz só é possível através da reconciliação e mesmo não sendo fácil perdoar, principalmente quando temos que enfrentar as feridas da guerra, da criminalidade e dos conflitos, sem a reconciliação com o passado, sem atingir a justa reparação – nunca a vingança, mesmo que controlada –, sem o perdão reciprocamente oferecido e recebido, a cultura da paz não lança raízes nos tratados, na sociedade e nos corações. A paz, como ele a define, “é um bem indivisível e só pode ser imposta com a própria paz”.
Por tudo isso, ao orarmos pela paz, qualquer que seja a crença, Dom Júlio Akamine esclarece que só “estaremos abrindo o nosso coração para a relação com Deus e para o encontro com o próximo sob o signo do respeito, da confiança, da compreensão, da estima e do amor. A oração infunde coragem e dá apoio a todos os verdadeiros amigos da paz”.
Após essas explanacões, nada melhor do que encerrar este post, ouvindo uma bela canção de Roberto Carlos sobre a essência da Paz aqui na Terra!!!
Paz aqui na Terra às crianças, aos homens e mulheres de bom coração!!!
~ Bia e Dani ~