
Em se tratando de Filhos surdos de pais ouvintes, a maior angústia que nós, pais ouvintes, sentimos ao sabermos que nosso filho é surdo, é a dificuldade que teremos que enfrentar em nos comunicarmos com o filho que não ouve e não fala, visto ser notório que a falta de comunicação vivenciada pelos familiares, é o principal obstáculo no relacionamento entre filhos surdos e pais ouvintes, resultando em sérios problemas emocionais e afetivos. Assim, a criança surda precisa ser educada de maneira diferente, sendo extremamente importante que a família, em especial os pais, se adaptem às condições linguísticas de seu filho surdo.
Desse modo, a família pode escolher a protetização, implante coclear e/ou a inserção da língua de sinais. Embora a língua de sinais seja o meio de comunicação utilizado entre aqueles que não utilizam a fala para se comunicar, sendo em sua grande maioria, utilizados pelos surdos de pais surdos, a maior parte dos pais ouvintes desconhecem essa língua, optando inicialmente por encaminhar seu filho surdo para a apropriação da língua oral que, no caso do Brasil, é a língua portuguesa.
Especificamente no caso da Dani, comentei no post Resultado da Audiometria: seu filho é surdo(a) que, apesar do médico nos alertar que, mesmo com a protetização, a probabilidade de ouvir era inferior a 2%, por conta da surdez profunda, decidimos reter no aproveitamento dos restos auditivos e realizar a avaliação audiológica. Após um período de teste e adaptação, na ocasião com 2 anos, assistida por uma fonoaudióloga e recebendo estímulos pedagógicos em casa, ela começou a balbuciar as primeiras palavrinhas.
Nesse sentido, é preciso “quebrar” o estigma de que nem todo surdo é surdo-mudo. A maioria dos surdos têm as cordas vocais em perfeito funcionamento, sendo que apenas uma minoria dos surdos são mudos. Muitas pessoas surdas não falam porque não aprenderam a falar. Entretanto, surdos que falam são conhecidos como surdos oralizados, pois desenvolveram a fala através da intervenção de um profissional que faz muita diferença em sua performance, que é o fonoaudiólogo.
Esses esclarecimentos se fazem necessários porque, especialmente hoje, dia 9 de dezembro é o Dia do Fonoaudiólogo e eu não poderia deixar passar esta data em branco, sem prestar a nossa sincera homenagem à fonoaudióloga Ana Lúcia Gaspar de Carvalho que, por me fazer compreender que os cuidados com os órgãos relacionados à fala e à audição são essenciais em todas as fases da vida, desde os primeiros meses de um bebê até a fase adulta, dedicou todo o seu profissionalismo na habilitação fonoaudiológica da Dani, para que ela fosse capaz de falar!!!
Apesar de sabermos que muitas famílias ouvintes “forçam” os filhos a desenvolverem a fala para se tornarem “falantes normais”, por entendermos que a apropriação da lingua de sinais é a lingua natural do surdo e seu uso não nega ou impossibilita o desenvolvimento da comunicação oral, respeitamos o desejo da Dani quando, aos 8 anos, optou pelo bilinguismo, ou seja, pela língua de sinais (Libras) como primeira língua e o português como segunda língua.
Muitas pessoas ainda acreditam, equivocadamente, que o fonoaudiólogo é o profissional que “obriga” o surdo a falar. No entanto, o fonoaudiólogo busca em união à família, meios de favorecer a comunicação, seja ela pela via que for. Desta forma, ao evidenciar um novo olhar da fonoaudiologia destinado à pessoa surda em variados momentos e situações e nos diferentes ciclos de vida, Ana Lúcia sempre respeitou a heterogeneidade e a singularidade linguística da Dani, aplicando os mesmos princípios conceituais que dão suporte à prática clínica na reabilitação dos distúrbios de linguagem nas línguas orais.
Direcionando o foco na sua capacidade de ouvir, Ana Lúcia exerceu papel fundamental na seleção, adaptação e acompanhamento do uso de próteses auditivas e no treinamento das habilidades auditivas como, por exemplo, orientando e propondo exercícios para aprimorar a qualidade da voz e, consequentemente, melhorar a projeção e ressonância vocal.
Além disso, como a audição permite aos bebês e às crianças o acesso as mais variadas informações e experiências para o seu desenvolvimento e por entendermos que o comprometimento das vias auditivas, que é a fonte de recebimento de informações para o aprendizado, podem apresentar atraso na aquisição da linguagem oral e escrita de crianças com deficiência auditiva, considero relevante destacar que a Ana Lúcia sempre pautou na realização de terapias com técnicas para o desenvolvimento da linguagem em conjunto com a estimulação das habilidades auditivas, executando um importante trabalho de orientação quanto à estimulação que deveria ser feita em casa e na escola.
Com relação à fala propriamente dita, foram propostos vários exercícios para o reconhecimento da articulação das palavras, favorecendo a leitura labial e auxiliando para que a Dani tivesse uma fala clara e com os sons bem articulados, uma vez que a surdez prejudica o conhecimento da própria voz, gerando alterações na produção e qualidade vocal, conhecida pelo “sotaque de surdo”.
Desse modo, como uma boa performance comunicativa é fundamental para o desenvolvimento das relações interpessoais e até mesmo no convívio social, Dani foi muito bem assessorada pela sua inestimável fono, que esteve ao seu lado por 17 anos, acompanhando durante esse período todas as suas necessidades e auxiliando, tanto na prevenção quanto no tratamento de possíveis problemas ou dificuldades relacionadas à linguagem em diferentes fases da sua vida. Além da fala e da audição, a leitura e a escrita também foram bastante trabalhadas, no sentido de enriquecer o processo de aprendizagem e facilitar a compreensão da língua portuguesa como segunda língua.

Obviamente que esse “enlaçamento fonoaudiológico” que se estendeu por quase duas décadas, resultou num enorme vinculo afetivo que se estreitou a ponto da Dani nutrir imenso carinho, respeito e admiração por essa profissional que desempenhou e continua desempenhando até hoje, importante papel em todos os momentos significativos de sua vida, impactando positivamente no seu desenvolvimento social, emocional e cognitivo.
Sendo hoje uma data especial, em que podemos homenagear todos os fonoaudiólogos do Brasil, que têm a nobre missão de “atuar no processo de comunicação do ser humano nas suas etapas de aquisição, desenvolvimento e abrangência da linguagem, quer nas suas manifestações de normalidade, quer nos seus distúrbios, sejam eles de linguagem oral ou escrita, audição, fala, fluência, articulação, voz, respiração, mastigação ou deglutição”, conforme enfatiza a fonoaudióloga Silvana Bommarito Monteiro, aproveitamos o ensejo para registrar o quanto a nossa querida fono Ana Lúcia foi crucial para que a Dani conseguisse se comunicar oralmente, tendo hoje a possibilidade de ensinar seu filho Léo (ouvinte) a falar.
Ana… palavras jamais serão suficientes para expressar a nossa eterna gratidão por VOCÊ fazer parte da vida da Dani. Você nunca deixou de acreditar que ela alcançaria seus sonhos e se empenhou incansavelmente para que ela tivesse as mesmas possibilidades psicolinguísticas dos ouvintes. Se hoje ela consegue se expressar tão bem através da fala e da escrita é porque você sempre esteve presente, de modo a proporcionar seu pleno desenvolvimento social e emocional e, acima de tudo, assegurando que ela fosse capaz de aprimorar as suas competências tanto comunicativas como linguísticas. Você é uma dádiva de Deus em nossas vidas!!!
Ao finalizar este post, nós (eu e a Dani) parabenizamos todos os profissionais da Fonoaudiologia, citando a linda mensagem da Dra. Mara Behlau: “Ser fonoaudiólogo é ouvir uma lágrima, articular uma emoção, vocalizar um desejo, ler a alma e escrever um sorriso. Enfim, ajudar a expressar o que o homem tem de humano”. Quanta candura e sutileza ecoam no silêncio dessas palavras! Adoramos!!!
~ Bia ~
Parabéns a Ana Lúcia, que Deus a abençoe infinitamente, por todo o trabalho realizado com a Dani, valeu a pena cada segundo, pois Dani é uma assumidade, é brilhante, um diamante muito bem lapidado. É um grande orgulho essa minha segunda filha!!!!
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